═══ • ◆ • ═══ A mentira se constrói lentamente, como um castelo de areia,  mas a verdade chega como uma onda gigante,  que ...

• Vinte e Quatro •





═══ • ◆ • ═══


A mentira se constrói lentamente, como um castelo de areia, 
mas a verdade chega como uma onda gigante, 
que se forma no mar profundo e se quebra na praia com força avassaladora.


═══ • ◆ • ═══


— Mãe? Como estou? — Dona Maria parou para analisar sua filha em frente ao espelho: as unhas foram pintadas com um tom de vermelho vibrante, os cabelos ganharam ondas suaves e a maquiagem realçou os olhos azuis de Clara.

Ela se sentia de volta uma jovem de 14 anos se aprontando para o Furacão 2000, mas agora tinha o dobro da idade, o vestido não era tão chamativo como naquela época e dessa vez o sapato tinha um salto agulha e solado vermelho. E o mais importante: ela ia se encontrar com os amigos em um bar com bebida alcoólica de verdade.

— Você está linda, minha filha! — sua mãe colocou as mãos sobre a boca e seus olhos se arregalaram ligeiramente enquanto exclamava, ela sabia que a filha era bonita, mas depois de maquiada e com a roupa adequada para a noite ela ficou sem palavras — simplesmente esplêndida, minha princesa!

— Obrigada, minha rainha — ela desviou o olhar do espelho e virou-se para encarar sua mãe de frente, apoiou a mão atrás da orelha para destacar o adorno. — E o brinco? Foi presente do Caio no nosso último aniversário de casamento.

De repente o clima festivo e nostálgico se desintegrou no ar, dando lugar ao clima pesado de tristeza e luto. Fazia pouco mais de um ano que Clara perdera seu marido, o maior surfista mundial, o brasileiro Caio Pupo.

— É lindo filha! Mas vá logo, que está na sua hora, termine de se arrumar, antes que você estrague a maquiagem. Eu não sei o quanto deve ser difícil perder seu marido, porque o meu ainda está saudável e respirando — escapou uma risada —, mas eu sei que a minha filha precisa seguir a vida, mesmo que não encontre outra pessoa, ou se encontrar também, não há problema. Você é minha joia rara, filha. Eu te amo e desejo toda felicidade para você em sua vida.

Dona Maria abraçou a filha segurando suas próprias lágrimas, porque ela sabia o quanto a filha era sensível e provavelmente estava prestes a borrar a maquiagem e estragar a noite.

— Vai logo — apressou sua mãe lhe entregando a bolsa e saindo pela porta o tanto que suas pernas a deixavam se apressar.

Clara deu um forte suspiro mirando seu reflexo no espelho, sua mãe tinha razão, sua vida não precisava parar. Lembrou de um momento em que estavam na Itália antes de um circuito e abraçados observavam o nascer do sol na sacada do hotel.

— Eu sei que meu trabalho é arriscado e eu seria um tolo se te prendesse por causa disso — segurou em seu queixo fazendo Clara olhar em seus olhos.

— Tolo? Que conversa é essa, Caio? — sua expressão era de total confusão, mas se suavizou em seguida.

— Só me prometa, Clara, que se algo acontecer comigo você vai seguir sua vida sem olhar para trás. Eu estarei em paz em qualquer escolha que fizer, eu juro. — Ele foi duro com ela para que ela entendesse a seriedade de suas intenções, mas havia gentileza e amor em cada palavra.

— Eu prometo — respondeu olhando em seus olhos, mas foi puxada para um abraço forte que trouxe para Clara um sentimento estranho de despedida que fez seu coração apertar.

Com essa lembrança, Clara pegou o celular em cima da penteadeira e saiu atrás da mãe, parou brevemente em frente a porta do quarto de Camille para chamá-la batendo à porta levemente.

O endereço que Dominic passou não era muito longe dali, mas a pé seria inviável de salto alto. A praia de Jurerê Internacional era dividido basicamente em três partes, ao sul havia a área de marinas, depois vinha a parte residencial, onde os pais de Clara moravam, e mais ao norte a área turística com bares e restaurantes, baladas e outros comércios a beira mar. E era para o último que estavam indo agora.

Fazia muito tempo que Clara não passava por aquele lugar, mas não estranhou o trajeto que o motorista de aplicativo fez. Aquele caminho, outrora familiar, agora a transportava para um mundo desconhecido, despertando uma nostalgia que a emocionava. As luzes spots das casas noturnas pintavam o céu como um quadro abstrato, e a cada esquina, uma nova fachada iluminada a convidava a entrar. O vento quente da noite carregado pela fumaça dos cigarros eletrônicos acariciava seu rosto, enquanto a vibração do carro ecoava em seu corpo, acompanhando o ritmo da cidade. A ansiedade crescia a cada curva, e a expectativa pela noite a consumia.

Chegando ao ponto final no aplicativo de GPS, o motorista parou o veículo e confirmando o local no convite digital, Clara e Camille desceram. O nome do bar era o destaque na fachada de pedras, decorada com um painel de madeira e folhas de palmeira, uma decoração discreta. Pier Havana Lounge Bar.

Um segurança alto e forte guardava a porta de entrada, e após conferir o convite ele as instruiu a solicitar o cartão VIP no balcão, que seria usado para o consumo no estabelecimento.

— Vou mandar mensagem pro Dom pra avisar que chegamos — Camille abre a pequena bolsa para pegar o celular, enquanto Clara se prontificou de pegar o cartão.

Entrando pela porta principal qualquer um ficaria encantado com a decoração boho chique. O piso era dominado por madeira envernizada brilhante, nas paredes a pedra dava uma sensação de aconchego. Na decoração os elementos como palha e folhas verdes nativas traziam a simplicidade e o frescor da praia.

No ambiente tocava o melhor da Música Tropical Deep House de Ibiza, algumas mesas já estavam ocupadas, uns se balançavam sob o som da leve batida, outro riam alto alterados pelo álcool.

Com a vida de universitária, Camille nunca foi a nenhuma balada ou algo do tipo, e mesmo que tivesse tempo, em Paris não teria nada comparado a esse lugar. Automaticamente se tornou seu bar favorito no mundo.

— Olá, boa noite, sejam bem vindas — uma moça muito simpática as recepcionou segurando um tablet junto ao corpo, pediu o cartão de comanda e retirou uma caneta touch do bolso da camisa branca para fazer anotações — mesa para quantos?

Clara avisou que estava esperando uns amigos e a recepcionista as levou até uma mesa adequada.

— Olha só quem chegou — Dominic aproximou-se a passos largos e cumprimentou cada uma com um beijo no rosto — vocês estão muito lindas esta noite.

— Obrigada querido — respondeu Clara, Camille agradeceu com um beijo discreto no ar, Dominic corou levemente, mas só a recepcionista viu.

— O que querem beber? Posso preparar qualquer coisa, mesmo se não tiver no cardápio.

— Hum, eu quero Margarita, — Camille disse depois pensar um pouco — e você mãe?

— Duas então — sorriu para a filha e receberam um sinal para sentarem.

— Pode deixar, eu mesmo vou preparar para vocês, volto logo. — virou para a recepcionista — ah você pode por elas naquela mesa ali — diz apontando — essa mesa é muito boa, mas tenho uma surpresa pra minha futura namorada e aquela mesa será perfeita para o que eu planejei.

Alguns minutos se passaram e Henrique entrou no salão, era impossível não notar Clara, sua presença sempre iluminou qualquer ambiente, era como se tivesse um holofote em cima de si onde tivesse; Seus passos automaticamente seguiram até ela, faziam muitos anos que não tinha notícias, mas jamais se esquecera do seu rosto.

— Clara? — inclinou um pouco a cabeça para ver sob a luz do ambiente e ter certeza se era ela mesmo.

— Henrique? — perguntou retoricamente olhando em sua direção, já se pondo de pé ao reconhecer o amigo dos irmãos que abalaram seu verão de 92 — que surpresa te encontrar aqui!

— Eu que digo, que surpresa incrível! — abraçou Clara rapidamente com um beijo estalado no rosto. — Eu quero muito falar com você, mas eu preciso encontrar primeiro a mãe de uma amiga do meu filho, elas cuidaram dele muito bem enquanto ele estudando fora e eu queria agradecer. — olhou em volta — meu filho disse que elas estavam por aqui, mas não encontro, será que entendi errado?

— E por acaso seu filho se chama Dominic? — Clara se alegrou com a descoberta naquele momento, só deixou seu sorriso mais radiante.

— É sim, como você sabe? — perguntou incrédulo franzindo a testa entre os olhos.

— Por acaso sou eu, e essa é minha filha Camille — a moça se pôs de pé para cumprimentá-lo.

— Oi, eu sou a Camille — seu sorriso era idêntico ao de Clara, mas em seu rosto havia um toque a mais que ele não se lembrou imediatamente.

— Ah, então só pode ser o destino. Muito prazer, Henrique. — respondeu surpreso enquanto ligava os pontos em sua mente, mudou seu tom para melancólico segurando as mãos de Clara — de coração, muito obrigada por vocês darem essa atenção aos meninos, o Dom e o Liam ficariam realmente perdidos se não tivessem vocês lá, e eles falam tanto de vocês, — abruptamente, adotou um tom mais jovial e alegre — e meu Deus, como eles falam, mas não tivemos outra oportunidade de nos conhecer.

— Imagina, só estou retribuindo um favor que recebi uma vez — Clara relembrou da vez que um senhor muito simpático a abordou na loja de pranchas do Rodrigo, lhe oferecendo uma bolsa de estudos em Paris.

Foi inesperado e a proposta a deixou muito desconfortável. Porque oras um senhor mais velho lhe faria tal proposta na beira da praia? Mas para provar que suas intenções eram genuínas ele solicitou uma conversa com seus pais e com a ajuda do seu filho também.

Acontece que esse humilde senhor era dono de uma grande empresa no setor de surf na Europa, lá eles faziam pranchas e outros adereços, roupas de mergulho, tudo para o mundo aquático, e ver o talento escondido de Clara era como encontrar uma joia rara dentro de uma concha recém aberta: precisava ser polida antes de se tornar um brinco ou anel em uma vitrine de uma loja de luxo.

Dona Maria e senhor Narciso nasceram na roça e viveram na praia, mas não eram ingênuos, e precisou muitos encontros e provas de recomendação antes deles decidirem deixar sua filha mais velha estudar fora do pais.

— Eu trabalhei no ramo a minha vida inteira — explicou o senhor gesticulando — e eu vejo o talento emanando da pessoa quando eu vejo. A filha de vocês tem esse talento e eu gostaria de lapidar. — E continuou recostando no sofá velho da família. — Podem ter certeza de que ela terá tudo por lá, um lar para viver, estudo e trabalho, eu quero realmente investir no futuro da filha de vocês.

Depois de tanto pensar, por mais que estivesse tentados, eles jamais obrigariam a filha a fazer algo que não quisesse, e caberia ela tomar a decisão final.

— É verdade, você sumiu do nada e fiquei sabendo que você tinha ido à Paris estudar — fez um sinal para elas se sentarem para não interromper a conversa, o garçom chegou em seguida com as bebidas, serviu e avisou discretamente que Dominic estava verificando pessoalmente os petiscos com o Cheff.

— Sim, eu fui para lá estudar, casei e essa é minha preciosa. — disse segurando a mão da filha.

— Ela é linda, a sua cara — foi sincero, mas não podia deixar de notar a semelhança naquele olhar. Ahá, como um estalo ele havia se lembrado com quem ela também se parecia, seu amigo de infância.

— Parabéns pelo seu bar, ele é lindo — elogiou reparando no delicado lustre acima da sua mesa, era como uma árvore rosé de cabeça para baixo e nas pontas dos galhos fossem pontos de luz — me lembro que me disseram que esse era seu sonho.

— Verdade, eu também adorei e olha que não fui a muitos bares.

— Ah é? — perguntou em tom de deboche — e a quantos você já foi?

— Bom, esse é o primeiro, e por isso é especial. — Ambos fizeram um sonoro "ah entendi" tentando segurar o riso olhando pela perspectiva da garota.

— Então não puxou a sua mãe, porque ela não saia do Furacão 2000!

Com essa piada interna foi difícil segurarem a gargalhada, até Camille se juntou a eles.

— Mas e o Liam? Onde ele está? — perguntou olhando ao redor na tentativa de captar a presença do rapaz.

— Ele está logo ali — disse apontando para a janela grande, onde os fundos do terreno dava para a praia e além dele no breu do mar apenas um ponto luminoso podia ser notado, — na lancha do pai dele, no caso, ele está com a namorada e acho que vai passar a noite com ela.

Dominic se aproximou com a ajuda do garçom. Por um momento, Clara observou o rapaz servir os petiscos. Seus ombros largos, a barba por fazer e a segurança em seus movimentos a fizeram piscar, surpresa. Não era mais o adolescente que ela conhecia, aquele que vinha à sua casa com a mochila nas costas, pedindo ajuda com o francês. Agora, ali, diante dela, estava um homem, seguro de si e com um charme que a surpreendeu. Um nó se formou em sua garganta.

Aqueles meninos, que ela acolhera em sua casa como se fossem seus próprios filhos, haviam se transformado em homens. E um deles, Dominic, parecia ter conquistado o coração de sua filha. Clara e Camille trocaram um olhar rápido, repleto de cumplicidade. A jovem sorriu, e Clara sentiu uma emoção diferente. Era como se estivesse sendo apresentada a uma nova versão de sua filha, uma mulher forte e independente.

— Filho, você não tinha me mostrado nenhuma foto nem o nome dela, mas nós já nos conhecíamos — reclamou se divertindo com a descoberta.

— Olha que legal, e de onde se conheciam? — Clara sempre perspicaz, pensou rápido no que poderia responder, em sua cabeça ela estava diante de todo o seu passado vindo para cima como se levasse uma onda na cabeça.

— Ela era...

— A gente morava no mesmo bairro em Cerca Grande — Clara disse rapidamente interrompendo Henrique, que percebeu que Clara não queria tocar no assunto, se perguntou o que ela estava pensando e o que queria esconder.

Clara não sabia que Diego era o sócio de Henrique e estava no escritório a poucos metros e sem sombra de dúvidas que ele iria sem rodeios até Diego lhe contar que Clara estava no salão.

De repente um trio se aproximou da mesa escoltados por uma recepcionista. Clara olhou na direção e ficou em pé imediatamente, eram seus amigos da escola. Petry ainda era magro e alto, mas a idade lhe caiu bem e agora ele arrasaria corações, com toda certeza. Catarina deu um tom diferente ao seu ruivo com uma californiana discreta, clareando um pouco as pontas, seus cachos foram domados, enfim. Douglas agora tinha braços fortes, um deles tatuado do ombro até os dedos da mão e não havia nenhum traço do menino baixinho, roliço e desengonçado.

Revê-los fez Clara se emocionar, indo ao encontro deles para abraçá-los, todos se cumprimentaram e Henrique os deixou conversando fazendo um sinal silencioso para ela "depois a gente conversa mais".

Clara apresentou orgulhosa a filha aos amigos, a última vez que eles a viram ela era adolescente e agora ela era uma mulher feita.

Entre conversas animadas, Dominic apareceu com o barman e uma surpresa para o grupo: em uma bandeja especial ele trouxe drinks coloridos e entre os copos velas estrelinhas soltavam faíscas deixando o momento extasiante.

Enquanto todos estavam hipnotizados com o show do barman, Dominic cochichou no ouvido de Camille e segurando sua mão a levou pelo salão sem dizer uma palavra, ela apenas o seguiu.

— Deixa eu te ajudar — fora do salão principal, o rapaz se abaixou e tirou o salto de Camille calçando um sapatinho confortável para o trajeto na areia, andaram entre quiosques até chegar em seu destino.

O pequeno ninho que preparara era um convite ao relaxamento: almofadas macias em tons pastel, velas cintilantes espalhadas sobre a mesa de centro e a presença das estrelas cintilantes em um céu sem nuvens, criando uma atmosfera suave e aconchegante. O som das ondas, quebrando suavemente na praia, era a trilha sonora perfeita para a ocasião. A penumbra, intensificada pela luz das velas, revelava pequenos pontos verdes que dançavam entre a vegetação. Vagalumes! Camille sorriu ao reconhecer os antigos conhecidos de sua infância.

— É incrível como a natureza nos surpreende, não é? — ele comentou, observando os vagalumes.

Ele pediu para que ela se sentasse e ele se sentou ao seu lado. Na mesa central já haviam dois drinks coloridos que Clara fez questão de provar quando o rapaz abriu a caixinha turquesa que pousava ali, revelando um tesouro: um par de anéis em ouro rosé, delicados e elegantes com um design moderno e a letra "T" entrelaçada nos elos. Um deles, era acompanhado por um anel "Half Eternity", cravejado de diamantes que cintilavam como estrelas.

— "T" de você é meu tudo. Aceita ser toda minha? Minha melhor amiga, minha amante, minha mulher, minha namorada...

— Sim!!

Institivamente Camille inclinou seu corpo em direção ao rapaz e selou seus lábios no dele tentando segurar um sorriso tímido, ela estava feliz, porque ele a deixava assim.

— Deixa eu por em você — deslizou os anéis nos dedos magros da sua agora namorada e ela colocou o anel no dedo dele. Notou uma mancha azul e fez uma cara de interrogação.

— O que seria essa mancha nas suas mãos? — riu divertida.

— Ah, é o corante dos drinks, a prova de que fui eu quem fiz, viu? — puxou as taças até a borda da mesa para ela alcançar. — O que achou?

— Uma delícia! Você me surpreende sempre — bebericou do canudinho entre risadas e depois se aconchegou nos braços do seu amor aproveitando aquela noite tranquila.

PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E CINCO



0 comments:

Olá leitores, Para mim a poesia e a música estão estreitamente ligadas, eu amo ouvir músicas e ouço a todo momento desde que eu era c...

Minhas Poesias Inspiradas por Músicas

Olá leitores,


Para mim a poesia e a música estão estreitamente ligadas, eu amo ouvir músicas e ouço a todo momento desde que eu era criança e explorar os significados das letras se tornou um hobby há muito tempo. Assim como a poesia também faz parte do meu dia a dia, desde a minha adolescência. 


Entender isso se você acabou de chegar aqui pode ser confuso, mas meu Blog Pense Repense só surgiu para eu expor o meu mundo poético, e lá no comecinho eu falei muito sobre as letras e bandas que me traziam profundas reflexões. Mas e quando as próprias melodias são fonte de inspiração para poesias? Perfeito, duas paixões que se juntam em um propósito. 


Nesse post vou falar mais profundamente sobre cada poesia e porque me inspiraram.


Minhas Poesias Que Foram Inspiradas Por Músicas


Recentemente fiz um reels para Instagram, e você pode me ajudar a engajar clicando abaixo e agora embarque comigo nessa jornada de descobertas de sentimentos!



0 comments:

═══ • ◆ • ═══ Que seja eu o motivo da sua felicidade. ═══ • ◆ • ═══ C lara pegou no armário da casa da piscina¹, sua antiga bolsa de...

• Vinte e Três •

═══ • ◆ • ═══

Que seja eu o motivo da sua felicidade.

═══ • ◆ • ═══


Clara pegou no armário da casa da piscina¹, sua antiga bolsa de praia, um guarda-sol e pegou o caminho para a praia, nos fundos do terreno, se sentia em casa, enfim. Paris era uma cidade muito fria, mesmo no verão, e não era uma crítica às pessoas, ela adorava seus vizinhos e conhecidas, era mais por sentir falta da sua família e da areia fofa e quente da praia, mesmo esses anos todos vivendo lá, ainda não se acostumou.


Saindo pelo portão estreito, Clara ajustou os óculos escuros em cima do nariz e se aventurou na imensidão dourada. A areia macia acolheu seus pés a cada passo, enquanto o som das ondas e o chamado insistente das gaivotas preenchiam o ar. Escolhido um ponto estratégico, estendeu a toalha e, com movimentos lentos, preparou seu refúgio. 


— Primeiro o guarda-sol! — Sentia-se revigorada e animada, mas por um breve momento.


A cada golpe da estaca no solo, a areia cedia, revelando a força da natureza e a fragilidade humana. Com os dedos afundados na areia quente, sentia que o suporte não se aprofundava.


— Não é possível que eu tenha perdido o jeito! — exclamou para si, indignada com sua falta de destreza.


Como um filme passando diante dos seus olhos, lembrou das vezes que precisava conversar e tinha Amélia, sua fiel amiga. As meninas pegavam essa mesma bolsa, compravam alguns lanches e sucos na vendinha da esquina de casa e desabafavam suas dores e alegrias, enquanto curavam uma a dor da outra sentadas na areia da praia.


Mas o que poderia ter acontecido entre essas duas amigas que tinham tudo para ter uma amizade de anos a se separarem do dia para a noite? 


Um homem. Diego, mais precisamente.


Clara sabia que era errado desde que Diego sentou ao seu lado na fogueira, no dia da festa de Rodrigo, ela pressentia que algo iria acontecer e que pessoas iam se machucar. Ela hesitou, mas foi mais forte do que ela.


Acontece que desde que ela e Diego se viram pela primeira vez na escola, eles se apaixonaram perdidamente, se esbarraram outras vezes e por fim, Diego criou coragem para chamar a garota para sair e imaginou que a discoteca Furacão 2000 seria uma boa ideia, o que ele não esperava era que o irmão a roubaria dele.


Vendo como ambos estavam se divertindo, ele não quis incomodar e achou ser o destino. Foi quando ele conheceu Amélia. Ele também não esperava que ela e Clara fossem melhores amigas. Que destino cruel, não é?


Um estalo trouxe Clara de volta de seus devaneios, um jovem rapaz que por ali corria quis ajudar. Era Dominic. 


— Olá, senhora Clara — chamou o rapaz da beira da praia, onde a água salgada deixava sua marca na areia, levantou uma mão para chamar sua atenção.


— O-oi — gaguejou, levantando o rosto na direção ao chamado com um sorriso torto, ela havia sido pega desprevenida. — Oi, Dominic!


— Quer ajuda com o guarda-sol? — o jovem leu a expressão de Clara e pensou por um segundo que não era uma boa ideia, mas ela de repente sorriu e deu um passo para o lado lhe estendendo o suporte de metal, prontamente ele se aproximou.


— Rapidinho estará pronto — disse o rapaz forçando o ferro na areia fofa com mais precisão e força do que Clara. Sem tirar o olho do que estava fazendo ele perguntou — A Camille está em casa? Eu saí pra correr e não trouxe o celular.


— Está sim, ela vai ficar muito feliz de te encontrar. — Como um girassol ela girou seu corpo em direção ao astro no céu, um raio de sol refletiu no mar e junto com o clarão nos olhos, também lhe trouxe boas lembranças. — Você surfa?


— Ah, eu surfo sim. — Dominic amontoou um pouco de areia com o pé ao redor do suporte e pisou forte em cima, afim de o firmar bem no chão. — Meu pai e o tio do Liam surfam e eles nos ensinaram.


— Então precisamos marcar algum encontro para vocês surfarem juntos, nós temos tendas, podemos passar o dia por aqui.


— Legal! Vou chamar meu amigo e combinar com a Camille — respondeu fixando o guarda-sol ao ferro, agora firme na areia. — Prontinho — Clara agradece e Dominic se despede.


— Seguindo por aquele caminho — Clara apontou com o dedo na direção da trilha de areia entre a restinga — ele dará em um portão pequeno de ferro, está apenas encostado, pode entrar e vai encontrar ela na piscina.


— Eu vou lá então, obrigada Senhora Clara.


Com aceno distante deixando o rapaz seguir seu rumo, Clara esticou-se em sua toalha pegando um livro para lhe acompanhar nessa manhã enquanto sua pele recebia o calor do sol.


Nesse momento um jato de vento passou colocando à prova o trabalho do rapaz, que não se moveu um centímetro, apenas balançou a borda do tecido. Clara sorriu agradecida pela ajuda.


• ◆ •


Seguindo as instruções de Clara, Dominic encontrou o portão facilmente, vestiu a camisa e entrou chamando por Camille assim que avistou seu chapéu, ela debruçada na beira da piscina.


— Camii! — o rapaz fechou o portão atrás de si e deu passadas rápidas até se aproximar da garota.


— Dom, que surpresa incrível! — Camille sorriu ao ver o rapaz e fez um gesto para se distanciar da beirada e nadar até a escada. — Espera que eu vou me secar.


— Não precisa, ta calor aqui — disse firmemente segurando na gola da camisa e abanado reforçando sua intensão, em seguida se sentou relaxado em uma espreguiçadeira com os braços apoiados para trás, suavizando seu tom — foi fácil te achar, porque encontrei sua mãe na praia e ela me ensinou o caminho, agora eu já marquei o local, posso achar sozinho da próxima vez.


— Sério? Ah que ótimo, eu sabia que só te explicar aquela vez não faria você gravar, porque o acesso é bem escondido mesmo — ele concordou com a cabeça.


— Ah sim, eu vim aqui, porque ...— Camille que tentava prestar a atenção no que Dominic falava, mas só conseguia encarar os gomos da sua barriga. O suor de sua pele formava uma película que esculpia a camisa em seu corpo como os deuses de mármore que haviam nos museus de Paris.


— Você quer entrar? — Perguntou pausadamente sem pensar com os olhos vidrados. Dominic, totalmente absorto do que se passava na mente da amiga, não parava de falar enquanto Camille lutava para manter o foco.


— Mas eu não tenho roupa de banho aqui — explicou, olhando para si.


— Capaz, só toma uma ducha — jogou seu corpo para trás e bateu os pés nadando de costas — depois eu pego uma roupa do meu tio, vem! A água está uma delícia!


Em um gesto lento e sensual, ele se pôs de pé, deslizou a camisa pela cabeça, revelando um corpo levemente bronzeado e definido. O chinelo arremessado com precisão, caiu embaixo da espreguiçadeira. A água fria do chuveiro externo contrastava com o calor do dia, enquanto ele se refrescava tentado tirar os resquícios da areia da praia. Camille, agora deitada em seu flamingo rosa, o observava com um sorriso travesso, seus dedos brincando com a água.


— Lá vou eu! — gritou ele antes de correr em direção à piscina e pular próximo a garota hipnotizada, espirrando água para todo lado e fazendo ela cair da boia, perdendo seu chapéu para o impacto, afundando lentamente como um navio naufragado.


Camille mergulhou e submersa nadou até alcançar os pés do rapaz que o fez soltar uma gargalhada gostosa. Dona Maria ouviu o barulho de água agitada e foi conferir, mas não conseguiu mover seus pés para longe observando a cena engraçada.


A cada braçada, Dominic se aproximava da escada deslizando sobre a água como um golfinho, ele parecia tão a vontade, leve e ágil, que dona Maria quase o confundiu com um deles. Subiu as escadas com a água caindo a seus pés torrencialmente e parou rente a beirada para observar Camille, inclinando um pouco sua cabeça para o lado um sorriso apaixonado brotou em sua face e ele só conseguia pensar no quão linda ela estava hoje, mais que ontem e menos do que amanhã.


Enquanto isso, com a agilidade e graça de uma foca, Camille nadou até a borda contrária, abriu o registro e subiu no mini tobogã, observando fascinada a água descendo em um fio contínuo.


— Essas crianças — Dona Maria suspirou, balançando a cabeça com um sorriso nostálgico e um olhar melancólico. — Ah, a juventude... lembro quando eu tinha a idade deles.


Ao perceber que era observada pelo rapaz, Camille acenou antes dele cair na água e nadar em sua direção. Ela, por sua vez, desceu pelo tubo d'água parando antes de cair parando sentada com as pernas balançando, a ponta dos seus pés tocavam a superfície.


— Você está se divertindo longe de mim? — Provocou, aproximando-se ainda mais, o olhar fixo nos olhos dela. Com um sorriso malicioso, ele a encurralou no tobogã. A garota sentiu um arrepio percorrer sua espinha, presa entre ele e a água. Em um movimento rápido ela gritou se jogando em seus braços.


— SIMM!! — Dominic a agarrou pela cintura para que ela não afundasse, ela por sua vez, gargalhou alto passando seus braços ao redor do pescoço dele.


Em um piscar de olhos o momento divertido se tornou mais intenso e as risadas cessaram, seus pés batiam em sincronia sob a água criando um som único de relaxamento, audível apenas para eles. O sol do meio dia, alto no céu, revelava a o fervor do momento em seus rostos; o dela, corado e radiante, estava tão perto que ele podia sentir a maciez de sua pele e se perder no oceano dos seus olhos. O dele, o suor misturado à água da piscina criava um aroma único e irresistível, um perfume masculino que deixava Camille cada vez mais embriagada.


Dominic fechou os olhos e diminuiu a distância entre eles fazendo a ponta de seus narizes se roçarem e a cada respiração, seus hálitos se misturavam, aquecendo o ar entre eles. O coração batia forte em seu peito, e a cada toque, uma nova explosão de emoção os tomava. Era agora ou nunca. 


Tocou seu lábio no dela acariciando em movimentos suaves, um leve contato que a eletrizou. A resposta dela foi imediata, seus lábios se abrindo para recebê-lo. A língua dele deslizou pela dela em um movimento lento e sensual, despertando um desejo que crescia a cada segundo. Com um movimento rápido, ele a encurralou contra a parede da piscina aprofundando o beijo, enquanto sua língua explorava cada canto da boca dela. A água os envolvia como um testemunho silencioso da paixão.


Um farfalhar violento fez Camille vacilar o beijo tocando o peitoral dele suavemente, por um breve momento ela se esqueceu que estava na casa dos avós e que eles estavam em casa. A garota colocou o indicador nos lábios dele para silenciá-lo enquanto olhavam ao redor.


Soltando o ar que nem sabia que estava prendendo, ela confirmou que ainda estavam sozinhos e que poderia ter sido algum passarinho ou bixo no mato. Dominic se impulsionou apoiando o pé na parede da piscina e nadou para o meio, dando espaço para Camille. Jogou um beijo no ar que foi devolvido com respingos de água e gargalhadas.


— Acho melhor a gente sair daqui, suas mãos já estão enrugadas — ela confirmou com "tá" olhando para suas mãos. Tentando controlar o que sentia por dentro, deslizou pela água morna até a escada, Camille o seguiu ao seu lado com um sorriso bobo no rosto.


— Espera aí, vou te dar uma mãozinha — ele chacoalhou a cabeça, afastando as gotas d’água dos fios, e com um movimento único, ajeitou o cabelo para trás.


Dominic subiu a escada submersa primeiro, água caia torrencialmente ao seu redor a medida que ele emergia e chegando à beirada estendeu a mão para que ela pudesse segurar e sair em segurança.


— Senta aqui na espreguiçadeira enquanto eu desligo o tobogã — pediu ela segurando em seus ombros enquanto o empurrava para frente — e vou pegar uma toalha pra gente também.


— E o seu chapéu? Jurava que você estava usando um quando eu cheguei — Dominic coçou a cabeça tentando imaginar onde ele estaria, Camille olhava por todos os lados, mas também não o via.


— A-há! — o rapaz exclamou e apontou com o dedo indicador — lá no fundo da piscina, deixa que eu pego, busca as toalhas para nós? — Ele rapidamente se jogou na água mergulhando para alcançar o chapéu, depois nadou até o togobã para desligar o registro, saindo da piscina no momento que Camille trouxe as toalhas, jogou uma para ele.


Nessa hora o portão de acesso à praia range, denunciando a entrada de Clara, um pouco desajeitada devido a sua mão estar ocupada com bolsa e tudo mais, ambos giraram na direção do barulho.


— Mãe, eu te ajudo! — Camille deu um passo à frente, mas Dominic interpôs, bloqueando o caminho da garota.


— Eu ajudo a senhora! — o rapaz também avançou um passo, mas, de repente, parou abruptamente.


— Nem se preocupem, vou deixar aqui mesmo, — deitou a bolsa com o guarda-sol ali mesmo  fora do caminho e explicou com a voz pesada, cansada por trazer os itens — o Guto me mandou uma mensagem, disse que foi buscar a namorada e vai usar depois, e pediu pra deixar aqui. Se divertiram na piscina?


— Nos divertimos sim — Camille e Dominic se encararam, os olhos brilhando e um sorriso travesso nos lábios, gesto que fez o coração de Clara dar um salto.


Ela sabia que a filha já não era mais criança, e ela até gostava de Dominic, mas imaginar como as coisas estavam acontecendo a deixava preocupada. Pensamentos de mãe, mas impossível manter a memória do seu primeiro beijo com Diego dentro da caixinha em seu coração. Sorriu ao lembrar.


— Eu preciso ir agora, Cami, te vejo à noite?


— Hã, a noite? — A garota parecia confusa por um momento — Sim, mas nós marcamos algo? Eu não lembro! — suas mãos foram à boca no mesmo instante que seus olhos se arregalaram ligeiramente.


— Claro, você me deixou fazendo um monólogo agora a pouco, você não lembra de nada do que eu falei? — ela fez que não com a cabeça, e ele riu alto — tudo bem, eu te mandei o convite antes de sair de casa, depois você olha o seu celular.


— Não quer ficar para o almoço? — Clara convidou fazendo o rapaz parar com a mão no portão para olhar para trás.


— Hum, — ele pensou um pouco olhando para um ponto fixo e em seguida mirou em Clara com um sorriso sincero antes de responder — eu tenho planos com meu pai, mas em uma próxima, sim. Até à noite!


— Tudo bem então, até mais Dominic — Clara se despede girando os calcanhares, deixando a filha para trás.


Ele jogou outro beijo no ar para Camille enquanto Clara estava de costas e saiu pelo caminho que viera deixando para trás uma garota sonhadora e apaixonada.


Depois de tirar o biquíni molhado e tomar um banho, Camille checou finalmente as mensagens de Dominic. Gemeu ao se sentar no sofá da varanda, o verão mal tinha começado e ela já estava queimada do sol.


— O Dom me mandou um convite VIP para ir ao bar do pai dele, pelas fotos parece bacana, Pier Havana Lounge Bar, gostei da vibe, olha mãe — aproximou o aparelho de sua mãe.


— Deixa eu ver — Clara tomou o celular nas mãos e foleou o convite de cima a baixo — é onde vou me encontrar com meus amigos hoje, se importa de irmos juntas, filha?


— Claro que não, mãe!


— Vamos almoçar e se arrumar pra essa noite, vamos ficar bem lindas!


A ansiedade tomava conta de Clara. Fazia mais de um ano que não via seus amigos e a expectativa para o reencontro era imensa. Para a ocasião especial, contrataram uma profissional de beleza e passaram a tarde em um verdadeiro ritual: unhas impecáveis, cabelos modelados e maquiagens que realçavam a beleza de cada uma. A dona Maria, com seu bom gosto inegável, as ajudou a escolher os looks perfeitos para a noite.


A tarde se transformou em uma verdadeira celebração da amizade, com direito a risadas, confissões e muita animação enquanto o perfume das flores e o som do secador de cabelo preenchiam o ar, criando uma atmosfera festiva.


— Mãe, você está deslumbrante! — exclamou Camille, admirando o resultado da transformação.


1. Uma casa anexo à piscina com academia, jogos, cinema, um loft para visitas e também era guardado algumas coisas referente à praia e piscina, como pranchas, guarda-sol, etc.


 PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E QUATRO •

0 comments:

  Olá leitores, Fiquei pensando no que poderia falar no primeiro post para o blog e contar sobre a minha história parecia a melhor o...

Como nasce uma escritora?

 Olá leitores,

Fiquei pensando no que poderia falar no primeiro post para o blog e contar sobre a minha história parecia a melhor opção, então vamos lá!



Confesso que nem sempre gostei de ler, ganhei alguns livros na infância que não passei da primeira página, um deles era "entre neste livro" ou algo assim. Mas minha história tomou um curso diferente quando ganhei de uma amiga da minha mãe, alguns gibis do Maurício de Souza, eu tinha pouco mais de dez anos. Então minha casa passou a estar sempre cheia na companhia da turma da Mônica, do Chico Bento, do Astronauta, da Tina e do Penadinho.

Vencer obstáculos está no meu sangue desde o ventre da minha mãe por ser uma gravidez não planejada, mas a força e coragem dela também vieram no pacote. Comecei a escrever na minha adolescência, geralmente é uma fase difícil e para mim não foi diferente e pode parecer clichê, mas foi nessa confusão de sentimentos misturados com lágrimas que meu relacionamento com a caneta e o papel iniciou.

No início eram apenas palavras jogadas no papel sem qualquer disciplina, desabafos de uma mente confusa, inspirações vindas de letras de músicas e decepções vividas. Confesso também que na escola a matéria que menos gostava era Língua Portuguesa, mas não era tão ruim, ajudei amigos escritores na revisão e até a editar suas obras, é uma responsabilidade enorme e eles confiaram em mim para tal missão. Já cogitei fazer bacharel, ser revisora ou editora. De uma coisa eu sei, o futuro é incerto.

Com o tempo pequenas cenas vinham a minha mente e mesmo insegura quanto a minha escrita fui compondo uma a uma até virar um pequeno conto. Mas tinha muito que desenrolar a história ainda e se tornou minha primeira novela: Segredos - Todos Temos Um, escrito em 2013, e relançado em 2015.

Foi também em 2013 que lancei meu Blog Pense. Repense. Quantas vezes forem necessárias, mudado o nome posteriormente para apenas Blog Pense Repense O blog foi criado primeiramente para publicar minhas poesias e textos, não que eu achasse que era ótimo e queria que o mundo lesse, muito pelo contrário. Um amigo muito especial, Michael Mendonça, me presenteou com ele após ler meus escritos e admirá-los. Hoje, além dos meus desabafos, publico sobre diversos assuntos, principalmente literatura. Compartilho notícias e eventos importantes, e até já fiz uma seleção de contos de escritores do wattpad para divulgar no blog.

A partir de 2015 minha vida de escritora começou a se agitar, conheci outros escritores, aprendi muito mais sobre ser escritora e sobre escrever também, lembro dessa época como um salto na minha carreira. Foi assim que comecei a participar de antologias de poesias e contos onde a maior parte dos meus textos foram publicados.

Já em 2017, participei na antologia A Viagem do Pólen da Vida com minhas poesias ''Rimas para Você'' e ''Represa'' e meu conto ''Henrique e Ela - Amor que Floresce'' na edição Cultive o Pólen da Vida 3, organizados pelo Professor Lenilson. Meu primogênito, "Sonhos Distantes", publiquei na antologia de contos Sem mais, o amor, pela Andross Editora.

Em 2018 novas publicações, como a antologia Colha o Pólen 1, também organizado pelo Professor Lenilson, participei com minha poesia ''Tempestade''. Já na Coletânea de Contos e Poesias FLAL 5° Edição escolhi meu conto ''Alexandre e Ela - Amor Encontrado''. No final do ano publiquei Minha Inspiração, uma antologia poética solo lançada em comemoração aos meus dez anos de escrita.

Em 2020 novos lançamentos como o meu primeiro romance Coração de Oceano, após longos cinco anos o escrevendo, revisando e editando e a Coletânea de Contos e Poesias FLAL 6° Edição, dessa vez apostei em duas poesias que me levaram ao pódio duas vezes no concurso, "Escravidão" vencedora do sexto lugar, e "Através da Janela" vencedora do segundo lugar.

Minha escrita nasceu para eu fugir de problemas e eu realmente acreditei que assim que superasse essa fase eu deixaria de o fazer. Tenho muito orgulho dos meus livros, dos concursos que participei e principalmente os que ganhei, e sentiria uma dor enorme se esse meu mundo fosse embora. Então encontrei a resposta para minha pergunta: eu jamais deixarei de escrever!

Leia online grátis: 

Certificados de Participações e Concursos

Aquarelas Literárias do Brasil


Esse é um projeto desenvolvido e idealizado pela Uiara Melo, onde participei com meu livro Coração de Oceano. Em um bate papo descontraído via vídeo chamada que respondo perguntas sobre meu livro, a vida de escritora e minha opinião sobre a literatura em geral. Infelizmente não tenho mais o vídeo da entrevista.



Mês Nacional da Escrita de Romances


"O National Novel Writing Month (ou NaNoWriMo, para abreviar) é uma maratona anual de escrita que ocorre em novembro de cada ano. Durante o evento, escritores de todo o mundo tentam escrever 50.000 palavras de ficção entre os dias 1 e 30 de novembro. Isso pode formar o primeiro rascunho de um manuscrito ou processar o trabalho em direção a um rascunho."

Em 2017 participei com '30 Dias", uma história de apocalipse zumbi que me propus a escrever, eu não terminei a história desde então, mas venci a maratona. O objetivo principal é criar uma rotina de escrita que seja confortável.
Além do evento principal em novembro, há outros ao longo do ano, ainda não participei de nenhum, mas são bem dinâmicos.





5º Festival de Artes Literárias e Literatura


Evento online no Facebook, tem o objetivo de divulgar a Literatura Nacional Contemporânea e ajudar a divulgar autores nacionais em várias dinâmicas como entrevista, bate papo e também publicando os textos participantes em uma linda coletânea. Os exemplares estão disponíveis aqui: Leia Livros Editora Online.




Concursos Wattpad

Concurso Tatanjuba 02/2018


Esse foi o primeiro concurso ganhei com essa história, e fiquei muito feliz, pois também foi o primeiro concurso que eu ganhei no Wattpad! Só havia uma qualificação para cada categoria que são os gêneros literários existentes na plataforma, e venci no categoria Romance.



Concurso MoonBook 10/2018


Esse foi o segundo concurso que participei e ganhei em segundo lugar na categoria Romance.




Concurso Rosas Douradas 10/2018



Esse foi um concurso que participei com minha história Coração de Oceano, ganhando em segundo lugar na categoria Aventura.






Concurso Órion 10/2018



Participei também com a história Coração de Oceano e venci em segundo lugar na categoria Ação e Aventura.






6º Festival de Artes Literárias e Literatura

Em 2019, tornei a participar do FLAL tanto nas entrevistas quanto no concurso de textos anônimos, e para a minha surpresa minhas duas poesias foram premiadas. A coletânea você pode conferir aqui: Leia Livros Editora Online









Postagem original Blog Pense Repense 12/04/2023



 ═══ • ◆ • ═══ Você é uma luzinha na escuridão.  Sua intuição é forte e não falha, mas sua oração tem poder.  Seu nome é vó. ═══ • ...

• Vinte e Dois •


 ═══ • ◆ • ═══


Você é uma luzinha na escuridão. 

Sua intuição é forte e não falha, mas sua oração tem poder. 

Seu nome é vó.


═══ • ◆ • ═══


Ao desembarcarem do carro, Clara e os jovens amigos seguiram o protocolo,  pegaram suas malas e aguardaram na sala vip enquanto faziam o check in pelo aplicativo de celular.


Meia hora antes do voo com destino à Ilha da Magia, Clara, sua filha Camille e seus amigos Dominic e Liam, foram autorizados a embarcar e agora caminhavam pelo longo corredor até chegar na entrada especial, próximo à cabine do piloto.


Com um sorriso sincero e olhar nos olhos dos passageiros, o comissário os cumprimentou, e verificando o cartão de embarque, prosseguiu com o atendimento.


— Boa noite, senhoras e senhores. Bem-vindos a bordo do nosso voo da Air France com destino ao Brasil. Eu sou o Comissário Chefe Bruno e em nome de toda a tripulação, tenho o prazer de recebê-los na La Premier. Vou acompanhar até a cabine de vocês.


— Boa noite — responderam em uníssono e seguiram o jovem rapaz.


— Para este voo noturno, planejamos tudo para lhes oferecer o máximo de conforto. Vocês poderão desfrutar de nossas roupas de cama de alta qualidade, um menu à la carte, alta gastronomia, uma ampla escolha de entretenimento e atendimento personalizado, nossa equipe estará à sua disposição para atender a todas as suas solicitações. Nosso horário previsto de chegada ao Aeroporto de Guarulhos é às oito da manhã.


— Muito obrigada pela sua recepção, Comissário Bruno, com certeza fez a diferença em nosso voo esta noite — ele fez um cumprimento curto com a cabeça, em resposta à Clara pelo comentário — Você pode trazer o menu? Eu não jantei ainda — soltou um suspiro leve.


— Com certeza, Senhora Clara, não é? — Comissário Bruno tentou lembrar o nome no cartão de embarque, Clara fez um sinal positivo e ele sorriu de volta. — Vou trazer também a carta de vinhos, são todos maiores de idade, certo?


— Claro, são todos sim — respondeu Clara, que era a mais velha ali.


— Podem aguardar em seus lugares que logo decolaremos e trarei assim que for liberado.


A La Premiere era um santuário de madeira nobre, veludo e outros tecidos suede, onde cada detalhe era um convite ao relaxamento. A suave iluminação indireta, a maciez das almofadas e o aroma sutil de flores frescas criavam uma atmosfera de puro deleite. Um oásis no céu, a primeira classe era um convite ao luxo, com poltronas que se transformavam em verdadeiras camas, serviço personalizado e uma vista deslumbrante.


Clara deslizou suavemente para a última suíte à esquerda, apreciando a privacidade e o conforto do assento junto à janela. Camille escolheu o assento imediatamente atrás, enquanto Dominic ocupou a primeira suíte à direita e Liam, a suíte seguinte.


— Estão muito cansados? — podiam notar que Clara tinha no rosto e na voz uma expressão abatida, mas não queria deixar o clima desconfortável — Eu estou um pouco, mas podem conversar a vontade, afinal, vocês estão de férias.


— Um pouco, senhora Clara. —  Liam respondeu primeiro. — Vamos cuidar para não incomodar a senhora.


— Vocês não incomodam — Clara sorriu para si e recostou a cabeça ao se aconchegar.


— Dom, Liam — Camille chamou a atenção se apoiando no encosto da poltrona para conversar com os meninos do outro lado do corredor —, o que vocês acharam da apresentação da Margaux? Eu achei tão incrível, ela parecia uma deusa atrás do púlpito e com o microfone nas mãos — mesmo de longe ambos os meninos podiam ver o brilho nos olhos de Camille enquanto falava orgulhosamente da amiga, e eles balançaram a cabeça positivamente enquanto ela falava.


— Eu também achei, ela parecia mais confiante nas apresentações da faculdade nesse semestre — Dominic se remexeu em sua poltrona tentando diminuir a distância entre eles enquanto falava.


— Não sei o que aconteceu com ela, mas eu preciso também — a alegria contagiante da conversa foi interrompida pela voz monótona do alto-falante. Com um misto de entusiasmo e apreensão, os passageiros acompanharam as instruções na tela e se prepararam para a decolagem, enquanto todos ajustavam os cintos. Com um rugido potente, o avião decolou, deixando Paris e seus encantos para trás.


Camille já havia voado diversas vezes, mas ainda sentia um frio anormal na barriga durante as decolagens, e assim que atingiram altitude de cruzeiro e puderam desafivelar os cintos, a garota correu até o banheiro para se aliviar.


— Dominic? — chamou o amigo ao olhar para a poltrona atrás de si.


— Sim — respondeu prontamente seguindo o olhar até ele.


— Eu vou ali e não volto, não me pergunte — Liam não pensou duas vezes até atravessar o corredor e sentar no lugar de Camille, deixando seu amigo com uma expressão confusa, porém não questionou, como ele pediu.


Clara fingia indiferença, mas a curiosidade a consumia. Havia horas em que Camille falava sobre seus amigos, pintando um quadro tão vívido que Clara quase se sentia parte do grupo. Mesmo assim, a jovem era um livro fechado, guardando seus sentimentos mais profundos para si. Como mãe, Clara tinha um radar infalível. Observava cada gesto, cada palavra, cada nuance na voz de Camille. A intuição materna, afinal, é um dom.


Todos os quatro amigos se davam muito bem, mas o que estava explícito para Liam e Margaux, e não para Camille e Dominic, era o quanto eles se gostavam. O quarteto estava sempre junto, tanto na faculdade, quanto fora, inclusive nos fins de semana, e só sendo muito tapado para não perceber que o tom de voz que Camille usava para chamar carinhosamente "Dom", e o olhar único e apaixonado que ele lançava para a garota, estava explícito o que eles sentiam um pelo outro.


Quando Camille voltou e vendo seu lugar ocupado, resmungou fazendo uma careta de questionamento para Liam, que cruzou os braços e apontou com o nariz para ela se sentar ao lado de Dominic e não reclamar, se virando em seguida para olhar a vista enegrida além da janela, mas era só um ato para ignorar a amiga, porque nada ele via naquela hora da noite e ainda mais acima das nuvens.


Rapidamente a garota entendeu o recado e deu um sorriso tímido para si mesma, pegou seu celular que havia sido colocado propositalmente no encosto da poltrona e seguiu para o outro lado. Liam estava sentado na frente de Dominic por conveniência, devido só ter eles ali, mas Camille se sentou ao lado do rapaz e logo engataram uma conversa, meu palpite era que eles estavam rezando para isso acontecer. Liam sorriu satisfeito olhando o casal, e logo voltou a sua atenção a uma série na tela embutida à sua frente aconchegando os fones em seus ouvidos.


Não demorou mais que dez minutos até o vinho escolhido ser servido e logo em seguida, o jantar. Clara cuidou para a troca de poltronas não deixar a filha desconfortável, ela sabia que uma hora isso iria acontecer e a vida precisava seguir o fluxo. Crescer, quem sabe casar e seguir em frente. 


— Estão ansiosos para rever seus familiares? — Clara perguntou enquanto dava sua primeira garfada, ela havia pedido filé de dourado, batatas fondant e mexilhões.


— Estou sim, meus pais são demais e eu sinto muito a falta deles. — Dominic foi verdadeiro, Clara podia sentir a ternura em sua voz, e isso fez derreter o coração de Camille ao ouvir.


— E, desculpe perguntar, mas eles trabalham no que? — Fazia muito tempo que Clara não usava aquela expressão desafiadora e olhar afiado, já sua filha ligou o modo alerta para intervir caso a mãe passasse dos limites.


— Meu pai é dono de um bar e minha mãe o ajuda a administrar — Clara não sabia se a tranquilidade do rapaz era devido a pouca idade, ou ele se sentia assim realmente, ouviu ele atentamente. — Caso precise de um local adequado para tomar um drink e sair com as amigas enquanto estiver em casa, eu convido a senhora para conhecer, fica na ilha mesmo e eu posso buscar vocês — por essa Clara não esperava, e pela apresentação que o rapaz fez em seguida sobre o local, não conseguiu segurar sua face entusiasmada e olhos atentos.


— Gostei — respondeu devagar e pensativa com o olhar fixo imaginando como seria o lugar, enfim tornou a olhar para o rapaz — podemos marcar antes das festas de fim de ano.


— Melhor ainda — fez a proposta com um tom animado e brilho nos olhos — o bar ficará aberto para o reveillon, então vocês podem passar lá, tem uma vista linda para as balsas com os fogos.


Ainda pensativa concordou com a cabeça balançando devagar. Com um estalar de dedos ela esticou as costas e levantou o olhar.


— Gostei da ideia! Vou ver com nossa família o que eles planejaram e a Camille combina com vocês. — então ela se virou para Liam, para não deixar o rapaz desconfortável — e os seus pais?


— Ah, meu pai é militar e minha mãe é enfermeira, ela sempre o acompanhava para onde ele viajava quando trocava de base, então eu ficava mais na casa do Dom — sua expressão melancólica tocou no coração de Clara, em seguida sua expressão se suavizou — mas faz uns dois anos que eles se divorciaram e agora ela ajuda as tias do Dom na clínica, e agora vejo mais ela durante as férias.


— É uma profissão muito difícil, tenho certeza de que eles sentem muito a sua falta, mas aprecio sua coragem de ficar com seu amigo do que se mudar constantemente — a expressão do rapaz ruborizou de leve, acrescentando um sorriso aliviado.


Terminaram a refeição silenciosamente, cada um absorvendo a conversa que tiveram. Camille ficou satisfeita com o rumo da conversa, então só começou a tagarelar sobre o que ela iria fazer nas férias. 


Clara se tornou a coadjuvante da conversa e só ouviu o que os amigos conversavam, enquanto bebericava seu vinho. O que ela não sabia era a conexão desses garotos com o seu passado. Camille os ajudava com o inglês e o francês e vez ou outra em que falavam português ela reconheceu aquele sotaque familiar que ela julgava inofensivo e por isso, ela não se surpreendeu quando eles fizeram a conexão para o mesmo aeroporto. Clara, que escondia um profundo segredo, não fazia ideia de que a vida desses garotos se cruzariam com a dela de forma tão inesperada. 


• ◆ •

Depois de onze horas atravessando o atlântico, e mais de uma hora de São Paulo até a ilha de Santa Catarina, era impossível chegar ao Aeroporto Internacional de Florianópolis sem se levantar e esticar os braços para se despreguiçar, mesmo não sendo uma cama convencional e ainda mais dentro de um avião que tem balanços e outras movimentações que atrapalham um sono contínuo.


Clara conseguiu descansar um pouco, assim como Liam, que dormiu em um sono profundo o máximo que pode. Já Camille, não havia dormido muito assim como Dominic, a noite passou em um piscar de olhos para o jovem casal e quanto perceberam já eram três da manhã. O resultado não podia ser outro: olhos sensíveis a luz, sonolência e Dominic com um braço dormente por passar o tempo todo de mãos dadas com Camille para que ela ficasse confortável, agora seu braço esquerdo estava completamente dormente, assim como seu coração.


Era quase meio dia e o sol de dezembro estava a pino, beirando trinta graus, e os planos para o dia estavam cronometrados, colocaram seus óculos escuros e aguardaram o comissário abrir a porta para saírem do avião.


— Dominic e Liam, — Clara chamou a atenção dos meninos enquanto procurava pela mala na esteira de bagagens — Camille me falou que vocês moram em Jurerê Internacional também, meu irmão vem buscar a gente e posso deixar vocês no caminho.


— Se não for atrapalhar vocês, — pensou um pouco antes de responder — hum, podemos sim, não é Dom?


— Nós vamos passar no bar do meu pai para ver eles, e depois vamos pra casa. — Dominic pegou sua mala e logo alcançou a de Camille — Acho que da para irmos no mesmo carro, sim.


— Ah combinado então, nós vamos no banheiro nos trocar e encontramos vocês, é rapidinho — Camille puxou a alça da sua mala e esperou pela mãe para a acompanhar até o banheiro, continuar com aquelas roupas pesadas era sinônimo de deboche por parte do tio pelo verão inteiro.


• ◆ •

Uma hora depois...


Clara digitou a senha da porta frontal da casa de veraneio da família, e se surpreendeu ao ver seus pais sentados no sofá da ampla sala e ficaram de pé, com muito custo, assim que a porta se abriu revelando a chegada de sua família. Fazia mais de seis meses que não os via, mas notou que eles estavam mais velhos do que da última vez.


— Pai, mãe — Clara chamou em um sussurro tentando conter as lágrimas, assim como uma represa prestes a romper. Como plumas ao vento, seus pés seguiram até seus pais, não foi fácil segurar a emoção e a saudade rolou pela face de Clara. Camille juntou-se a eles deixando sapatos e mala no hall de entrada para um abraço em família que aconchega qualquer coração, cheio de carícias e beijinhos estalados. Nisso, Augusto não se conteve em apenas observar a cena e abraçou em uma última camada.


Fazia quase um ano que avós e neta não se viam e essa ausência era tempo demais, Dona Maria sentia o peso dos anos em seu corpo e sabia que cada dia era um a menos em sua vida e por isso queria passar o máximo de tempo com a família reunida. Ela já havia suplicado à suas filhas que voltassem a morar todos juntos depois que a filha enviuvou, e elas prometeram assim que Camille terminasse a faculdade, mas quatro anos pareciam se arrastar mais que o esperado.


— Venha minha filha, — chamou seu pai com a voz rouca da idade — quero te mostrar umas flores novas que plantei no jardim, deixa elas conversarem.


Augusto aproveitou a deixa e acompanhou o pai sem desgrudar da irmã até o jardim também. Ele era pequeno quando a irmã saiu do país para estudar fora, mas mesmo assim sentia falta dela e ficava tão grudento quanto cera de abelha quando ela vinha visitar durante as férias de inverno.


— Vó — Camille chamou amansando a voz com uma ponta de súplica dolorida ao reparar que sua avó estava coberta por fios de linha de diversas cores, denunciando o que estava fazendo antes de ser interrompida

— Oi minha netinha linda! — respondeu docemente a senhora derretida pela neta, já especulando a bronca que viria a seguir.

— Nessa idade ainda costurando, seus pulsos não doem? — Acrescentou em um tom de reprovação.

— Meus joelhos doem mais — a avó ergueu os ombros e seus lábios franzindo em um biquinho, como se dissesse: "Ah, as dores da idade... mas o que posso fazer?". Agora com as mãos na cintura ela desafiou a jovem menina — e como pode minha linda neta, que nasceu e cresceu no país da moda vestir roupas que sua velha vó fez em um quartinho nos fundos do quintal?


Camille olhou para baixo, para sua própria roupa e teve que concordar, seu guarda roupa tinha das mais variadas marcas de luxo e todas caríssimas, mas sempre preferia usar as roupas básicas e para esse passeio ela escolheu uma bermuda de linho bege e uma camisa branca de malha, ambos feitos pela dona Maria.


— Como eu poderia usar marcas de luxo tendo uma avó costureira que faz roupas tão incríveis e cem por cento exclusivas? — respondeu com uma carinha fofa piscando os olhinhos que a fez ser abraçada em seguida, sua avó nunca sentiu tanto orgulho de si mesma e de sua descendente.


— Trouxe o que eu te pedi? — perguntou mudando de assunto depois de passada a melancolia.


A pergunta da senhora idosa fez a expressão da moça mudar e seu rosto transformou abrindo um largo sorriso maroto, em seguida correu buscar sua mala indo em um pé e voltando no outro.


— Como eu poderia esquecer? — disse Camille com um sorriso satisfeito levantando um vestido em frente ao seu corpo para que sua avó pudesse ver como um manequim.


— Ele é mais lindo do que eu imaginei! Vamos fazer uns ajustes e estará perfeito para o natal!


PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E TRÊS •

0 comments:

Page 1 of 61236