Quando Deus resolve dar uma lição à sua criação alada rebelde,
em uma cansativa jornada por respostas
que será a chave para retornar ao céu depois da queda,
uma batalha entre anjos contra anjos será travada ao longo dos
séculos.
Qual será a chave para o retorno ao céu?
Era perto das três da manhã e Catarina dormia tranquilamente com seu namorado
no quarto dele nos fundos da casa, enquanto o vento assobiava nas frestas da
veneziana anunciando que logo choveria. O clima já era frio nessa época do
ano, mas o suor escorria pela face da moça.
Ninguém podia ver, mas ali fora a poucos metros de onde o casal dormia
acontecia uma batalha. Normalmente o quintal era enorme e todo coberto por uma
grama rasteira e verdinha, a casa ficava um pouco elevada nos fundos do
terreno, em relação à rua. Porém o cenário da batalha transformava um pouco
esse local.
Nuvens densas lançavam raios por toda parte, o gramado do quintal dividia
espaço com pedras esculpidas com nomes e datas, algumas danificadas, outras
cheias de limo, eram lápides. Retratavam um evento paralelo, mas nenhum humano
podia ver.
A cada ataque e defesa durante a batalha o céu recebia um clarão poderoso que
em segundos iluminava a escuridão do céu, que à noite era apenas iluminado
pela luz do poste da rua estreita e empoeirada.
As espadas pareciam indestrutíveis, os escudos impenetráveis, e seus soldados
invulneráveis, mas todos estavam cansados de lutar. Por anos a fio essa guerra
acontecia, desde o nascimento da moça que dormia a poucos metros dali, mas
ninguém iria ceder. Lutariam até morrer, alguns encontraram o descanso eterno
assim.
— Ela é nossa! — ouviu-se um dos cavalheiros de capa e armadura pretas
vociferar para o seu duelista de capa vermelha e armadura prata, muito
cintilante.
Isso o irritou ainda mais, fazendo os ataques do time de vermelho ficarem mais
fortes e o tilintar das espadas ficou mais alto.
— Você não sabe o que é melhor, por isso devemos ficar com ela! — os líderes
brandiam suas espadas sem cessar, enquanto um tentava convencer o outro de
quem era o melhor.
Os outros duelistas lutavam com a mesma bravura e convicção de seus líderes,
mas qual deles tinha razão?
Com a queda dos anjos do céu, depois que a estrela da manhã se rebelou, esses
anjos caídos foram divididos entre os anjos da terra, aqueles que não
escolheram nem Deus e nem Lucifer, e os anjos do inferno, aqueles que ficaram
ao lado do diabo.
Desde então os anjos da terra vem procurando um modo de se redimir com Deus
para voltarem ao seu lugar de direito, e de alguma forma eles sentem — mesmo
não sabendo como — que a chave estava na garota. Enquanto isso, os anjos do
inferno vinham tentando impedir, eles também viram algo de valioso nela, e não
queriam perder a oportunidade.
Na hora do nascimento de Catarina, uma fenda abriu-se no tempo e espaço
chamando a atenção dos caídos, algo que eles não viram acontecer por todos os
séculos que vagaram pela terra e até mesmo antes disso, no céu.
Mesmo sem saber o porquê exatamente, eles brigavam pela alma da garota, uma
maratona, e quem descobrisse primeiro, era quem sairia na frente e claramente
ganharia sua alma.
Foi assim durante dezenove anos, uma luta que estava longe de acabar. Pelo
menos até ela morrer, tinha a ver com o fato de ela ser A Destinada.
Deus em sua imensa bondade lançou uma profecia, se os anjos caídos
descobrissem o porquê dela ser a destinada e a mantiverem a salvo enquanto a
profecia não fosse cumprida, eles ganhariam o seu perdão. Os anjos do inferno
viram a chance de além de atrapalhar os planos de Deus e dos caídos na terra,
também algo que seria muito valioso para Lúcifer, um presente para firmar sua
lealdade.
Na noite dessa batalha, alguns dos anjos do inferno foram enviados até a casa
de Catarna, pois perceberam a baixa guarda dos anjos protetores. São anjos do
céu que protegem aqui na terra, suas vestimentas são mais resistentes e
reluzentes que os outros anjos, a espada mais afiada e eles próprios mais
fortes que qualquer outro anjo, são treinados para a defesa de seus protegidos
contra qualquer um. Eles foram enviados à terra quando Lúcifer foi banido do
céu com a promessa de se vingar da criação de Deus mais preciosa, os humanos.
Ao menor sinal de perigo, os anjos da terra foram chamados, enquanto os anjos
protetores protegiam a garota.
A única tarefa dos anjos do inferno era capturar Catarina e a levariam para as
profundezas flamejantes, onde Lúcifer habitava e governava, e fariam
experimentos até descobrir o porque dela ser a escolhida, e qual a profecia.
Um estrondo muito forte chamou a atenção dos Anjos Caídos, fazendo eles
pararem de lutar por alguns minutos.
Todos os anjos tem uma ligação entre si, muitas vezes usada para comunicação
ou para saber a localização de cada um. Depois que um terço foi expulso do
céu, para eles essa ligação ficou mais fraca em relação aos que escolheram
Deus. Porém a ligação entre os anjos da terra e do inferno aumentou entre
eles, formando duas novas ligações, assim como dois novos exércitos de anjos.
Esse estrondo forte foi o jeito que o deus do fogo encontrou para chamar a
atenção de ambos os exércitos, e através da ligação com seus anjos ele ordenou
que voltassem para casa, pois tinha muitos planos e perder seu exército em um
combate como esse não estava na lista.
O líder desse pequeno exército do inferno, o anjo Gadrel, o terceiro anjo que
Lúcifer influenciou a se rebelar, chamou a atenção dos seus irmãos e foram
embora, um a um eles foram abrindo suas asas — cujas penas eram de aparência
suja pela graça perdida, faltando algumas em vários pontos —, e alçando voo
para a escuridão da tempestade acima de suas cabeças.
A batalha havia terminado, porém nenhum lado ganhara novamente, apenas
recarregariam as energias para a próxima batalha. Talvez amanhã de manhã, ou
ano que vem no próximo aniversário de Catarina.
Os anjos da terra abaixaram suas espadas até suas bainhas, e secaram o suor
da testa, estavam espalhados pelo terreno, e podiam sentir igualmente de
onde estavam a energia que emanava da garota. Ela era como o sol, brilhante
e cheia de calor.
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Um grande abraço e obrigada pela leitura!
Com carinho,
Escritora Aline Duarte
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