═══ • ◆ • ═══ O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre ═══ • ◆ • ═══ • Madrugada, depois do reencontro n...

• Vinte e Oito •


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O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre

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• Madrugada, depois do reencontro no bar de Henrique •


Camille chegou em casa com sua mãe e, antes de dormir, checou as notificações, encontrando uma enxurrada de mensagens de Dominic.




Camille franziu a testa, confusa. 'Como assim, armaram?'



Foi então que caiu a ficha. Ela sabia que havia algo no passado de sua mãe, mas ninguém falava nada e ela sempre percebia que quando sua mãe e sua tia conversavam o assunto mudava quando ela se aproximava. Então era isso, era Diego. Talvez um namorado da adolescência?



Percebeu o quão sensível era seu namorado, por se importar tanto com Diego que nem era parente de sangue, apenas amigo de infância do seu pai. Primeiro sentiu um ponta de raiva por ele ter se metido nos assuntos de família, mas depois que entendeu sua posição, seu coração amoleceu por ele.




Camille terminou de digitar a mensagem com o pouco de sono que tinha e apagou imediatamente sob o aconchego dos seus lençóis de cetim perolizado.


• Manhã seguinte, no cemitério •


Sentindo os ombros mais leves, como se um fardo invisível tivesse sido retirado, Clara caminhou para fora do cemitério, decidida a não fazer mais promessas que não pudesse cumprir. Exalou um suspiro de alívio e apertou o botão do controle, destravando o carro.


— Oi, Clara — a voz de Diego a surpreendeu, ele aproximava com um buquê de tulipas rosas, suas favoritas.


— Oi, Diego — no primeiro momento, Clara pensou que ele estaria ali com o mesmo propósito que ela, mas a expressão nervosa de Diego a fez perceber que havia algo mais. Sorriu.


— Eu estava indo até sua casa para conversar com você, e passando aqui na frente, vi seu carro estacionado e resolvi esperar — ele passou uma mão pela nuca, em um gesto nervoso. — Estas flores são para você — estendeu o braço, oferecendo o buquê.


Clara segurou as tulipas com delicadeza, inalando o perfume suave. — Vamos, eu também preciso conversar com você.


Diego abriu a porta do carro para ela, um sorriso tímido iluminando seu rosto. — Podemos nos encontrar no bar do Henrique, está vazio a essa hora.


Clara assentiu, retribuindo o sorriso. Pousou o buquê no banco do passageiro e seguiu Diego em seu carro, o som suave de uma música lounge preenchendo o silêncio. Precisava organizar seus pensamentos. Ao chegarem, Diego estacionou em uma vaga privativa e fez um sinal para que ela o seguisse.


Entrando em uma porta passando por alguns corredores chegaram ao salão que diferente da noite passada, agora estava silencioso e com as luzes apagadas, apenas os raios do sol entravam pelas largas janelas de vidro. O tac, tac, tac dos saltos ecoava alto, preenchendo o ambiente.


— Quer beber algo? Posso preparar o que quiser.


— Quero ter uma conversa sóbria com você dessa vez — deu um sorriso travesso lembrando da noite na fogueira —, então só água, por favor.


— Ah ok —  virou-se rindo para esconder o rubor em seu rosto, lembrando da mesma noite. Disse por cima dos ombros — Sente-se, que eu já volto!


Minutos depois Diego retornou com dois copos com gelo e duas garrafinhas de água mineral. Sentou de frente para ela, justamente ela escolhe a mesma mesa da noite anterior, algo naquele lustre lhe chamava a atenção. Diego percebeu que ela o encarava e o acendeu, iluminando ainda mais o seu rosto. Sentou novamente e lhe serviu.


— Eu tenho tantas perguntas, Clara. Mas não tenho certeza se você vai responder. — Diego fechou a tampa da última garrafinha, o som plástico ecoando no silêncio entre eles, e mirou seus olhos nos dela. Clara acompanhava seus movimentos lentos e precisos, o coração acelerado.


— Pode perguntar, eu prometo ser o mais direta e sincera possível — apoiou os cotovelos na mesa para segurar o queixo.


— Clara, eu preciso saber... por que você foi embora de repente? — A pergunta pairou no ar, densa e carregada de emoção. O clima mudou rapidamente, algo que já era previsto por Clara, mas ouvir diretamente de Diego a fez, de repente, voltar no tempo e sentir toda a pressão novamente. Ela desviou o olhar, as lágrimas marejando seus olhos antes de responder.


— Diego, eu... eu não sabia o que fazer — olhou ao redor parecendo perdida.


Diego sabia que precisava perguntar mais para fazê-la abrir seu coração, para que finalmente entendesse completamente a situação. Seu tom era doce e calmo, como se limpasse uma ferida aberta.


— O que foi aquela noite para você, Clara? Depois da festa da loja do Rodrigo?


— Nós... nós nos entregamos um ao outro. Para mim, Diego, foi um momento de paixão, de amor...


Diego parou para pensar um pouco, tentando processar as palavras de Clara.


— Certo... Para mim também. E depois? — Seu ciúme agora era evidente. —  De repente, você foi embora com Caio!


Clara bebeu um gole de água, a garganta seca pela tensão. — Eu descobri que estava grávida. Grávida de você.


Diego ficou paralisado, a notícia o atingindo como um soco no estômago. Ele havia ouvido boatos sobre a gravidez de Clara, mas sempre os descartara, acreditando que o filho era de Caio. A revelação de Clara o deixou sem fôlego, a raiva fervendo em suas veias. Levantou-se bruscamente, arrastando a cadeira para trás, o som estridente ecoando no silêncio do bar.


— Um filho meu? Clara, por que você não me disse? Eu tinha o direito de saber! — Seus olhos, antes marejados, agora flamejavam de raiva e dor.


— Eu estava com medo, Diego. — As lágrimas escorriam pelo rosto de Clara, silenciosas e dolorosas. — Medo de te perder, medo de perder a Amélia. Eu fiz uma promessa para ela.


— Que promessa? — Diego franziu o cenho, confuso e magoado. Clara desviou o olhar.


— Que nunca mais te procuraria. — A revelação caiu como uma bomba, explodindo o mundo de Diego em mil pedaços. Ele se sentiu traído, enganado, roubado. 'Não acredito que Amélia fez isso', pensou ele, incrédulo. 'Eu não a conhecia completamente. Não imaginava o quanto ela era obsessiva e manipuladora a esse ponto.' A raiva, antes contida, explodiu em um grito selvagem, rasgando o silêncio do bar. Diego começou a andar em círculos, tentando processar a informação, a tensão se dissipando aos poucos. 


— Então foi por isso que você foi para a Europa? — perguntou com a voz mansa.


— Sim, Diego. Eu tentei te esquecer, mas não consegui. Se eu ficasse, sabia que voltaria para você, e não podia ser egoísta e colocar a vida do nosso bebê em risco. Camille foi um presente, um pedido realizado por uma estrela cadente. Eu faria qualquer coisa por ela.


Diego se ajoelhou ao lado de Clara, seus olhos ternos e marejados buscando os dela. — Clara, você só queria o melhor para nossa filha. Eu te entendo, e estou aqui agora, disposto a recuperar cada segundo perdido, se você me permitir. Sem ressentimentos, sem mágoas, apenas amor.


As palavras de Diego ecoaram no coração de Clara, como um dia de sol no verão — Eu te amo, Clara.


Ele ergueu as mãos de Clara, beijando-as com fervor. — Eu nunca deixei de te amar.


Um soluço escapou dos lábios de Clara, a emoção transbordando em lágrimas de alegria. Diego ergueu-se, aproximando-se dela, seus lábios se encontrando em um beijo urgente, faminto, como se quisessem recuperar o tempo perdido.


— Me perdoa por não ter te procurado, Clara. Fui covarde, deveria ter lutado por nós.


— Não, Diego, você não fez nada de errado — Clara suplicou, a voz embargada pelo choro. — Me perdoa por ter te deixado, por ter te afastado da nossa filha.


Diego a abraçou com força, apertando-a contra o peito, como se quisesse protegê-la de toda a dor do mundo. — Eu te perdoo, Clara. Você era apenas uma menina, assustada e confusa. Eu nem consigo imaginar o que você passou. Tenho muito a agradecer a Caio, por ter cuidado de você e da nossa filha, por ter feito o que eu não tive coragem de fazer.


As lágrimas de Clara haviam cessado, mas seus olhos ainda brilhavam com a emoção do momento. Diego, com um toque suave, enxugou as últimas lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto. Com um toque suave, guiou-a até a cadeira ao lado, onde poderiam compartilhar o silêncio e a proximidade.


— Mas agora eu estou aqui, Clara — ele disse, a voz embargada pela emoção. — Vamos recomeçar? Vamos construir um futuro juntos?


Um sorriso radiante iluminou o rosto de Clara, as lágrimas de alegria escorrendo por suas bochechas. — Sim, Diego. Vamos recomeçar.


O silêncio que se seguiu foi preenchido pela promessa de um novo começo. Diego, com um olhar apaixonado, segurou as mãos de Clara, entrelaçando seus dedos.


— Prometo que farei de tudo para te fazer feliz, Clara. Prometo que serei o pai que Camille sempre mereceu.


Clara assentiu, a voz embargada pela emoção. — Eu acredito em você, Diego. Eu acredito em nós.


Eles se abraçaram ainda mais forte, como se temessem que o momento mágico pudesse se dissipar. O futuro, antes incerto, agora se apresentava como um caminho promissor, onde o amor e a esperança guiavam seus passos.


Um sonoro 'oinc' ecoou pelo bar, quebrando o silêncio cúmplice.


— Desculpa, Diego — Clara corou, envergonhada com a mão na frente do rosto. — Acordei tão desolada que nem consegui tomar café da manhã. Estou faminta!


Diego explodiu em risadas, um som contagiante que preencheu o ambiente. Clara sorriu, aliviada por quebrar a tensão.


— Vou preparar algo para a gente comer — Diego a guiou pela mão, seus dedos entrelaçados, seus corpos emanando um calor que fazia suas mãos suarem. — Temos muito tempo até os funcionários começarem a chegar.


A cozinha, antes um mistério para Clara, agora se revelava como um palco para um novo começo. O cheiro do suco de morango e camarão fresco pairava no ar, convidando-os a desfrutar daquele momento.


— Você tem planos para a tarde? — Diego perguntou, enquanto enxugava os pratos que haviam servido uma refeição deliciosa. Clara, com os olhos fixos nos braços flexionados de Diego, hesitou por um momento.


— E pior que tenho — respondeu, um bico triste se formando em seus lábios. — Tem o desafio de surf do Henrique.


— Ah, é mesmo! — Diego exclamou, batendo na testa com a palma da mão. Olhou para o relógio de pulso. — Mas ainda temos tempo... — Com um movimento rápido, pressionou Clara contra a pia, seus lábios se encontrando em um beijo profundo e apaixonado, que fez as pernas de Clara bambearem. — Vem, vou te mostrar minha casa.


De mãos dadas, eles saíram do bar com o carro de Diego. O trajeto até a casa dele foi curto, o bairro não era grande e sua casa era próximo dali. Ao entrarem, a residência se transformou em um refúgio de amor e paixão. Beijos, carícias e suspiros preencheram cada cômodo. Entre um toque e outro, Diego parou, seus olhos brilhando como uma criança travessa prestes a fazer travessuras.


— Você ainda pode engravidar? Seria maravilhoso termos mais uma menina... ou quem sabe um menino!


Clara corou, um sorriso tímido se formando em seus lábios. — Diego! — Ela deu um tapinha de leve no ombro dele, a vergonha misturada com a alegria.


Risadas, gemidos e suspiros ecoaram pela casa, enquanto eles se entregavam ao prazer, celebrando o reencontro de suas almas.


 PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E NOVE

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═══ • ◆ • ═══ Uma vida surgiu do caos. ═══ • ◆ • ═══ • Flashback, uma semana depois de descobrir a gravidez • A ideia...

• Vinte e Sete •



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Uma vida surgiu do caos.

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• Flashback, uma semana depois de descobrir a gravidez •

A ideia de ter traído seu namorado tirou o sono de Clara. Se sua mãe soubesse iria dizer "não criei filha assim", era inadmissível. Por isso decidiu terminar com Rodrigo imediatamente quando ele acordou, no dia seguinte à festa de inauguração.

Pensou em Amélia, sua melhor amiga desde que aprendera a andar. Ela conhecia bem a amiga e sabia que se ela abriu seus sentimentos para Diego, era porque o amava de verdade, e então resolveu enterrar seu amor por Diego, tudo pela sua amizade com Amélia.

Ninguém saberia sobre o que acontecera naquele dia, porém um mês depois sentindo sintomas característicos de gravidez, ela faz um teste e confirmou que estava grávida.

Os dias passaram insuportáveis para Clara, ela mal conseguiu se olhar no espelho para pentear os cabelos, se sentia um lixo de ser humano e como foi fazer isso sem se cuidar gerando um filho?

Um filho.

Ele era testemunho do seu amor, e com um estalo no ouvido ela ergueu a cabeça dizendo a si mesma "vou proteger meu amor com a minha vida".

Dias depois Caio pediu para encontrá-la. Ele acabou desistindo de convencê-la a ir para a Europa, pois já não tinha mais argumentos e nada poderia fazer. Então como um gesto de trégua ele a convidou para ir em um parque de diversões no seu último dia na cidade, e ela aceitou.

As luzes do parque no fim de tarde deixava Clara eufórica, esquecendo por um momento de seus problemas. Dizia "uaau" boquiaberta e os olhos mais abertos observando tudo.

Caio com seus olhos brilhantes observava Clara sorrindo e se divertindo olhando os brinquedos girando e os gritos eletrizantes.

— Você gosta de vir aqui? — Era nítida a curiosidade em sua voz, nesse tempo em que conhecera a moça, ele se encantou mais a cada dia.

Clara assentiu vagarosamente, limitou-se a encará-lo apenas quando falou. — Gosto sim, sempre venho aqui quando eles visitam a cidade.

Em meio a gritos estridentes e risadas contagiantes, uma música pop recém-lançada, sucesso nas rádios, tocava nos alto-falantes. Com batida eletrônica e refrão grudento, energizava o parque, fazendo todos balançarem a cabeça e cantarolar. A melodia vibrante e as letras otimistas eram irresistíveis, fazendo todos se entregarem à diversão, tanto jovens quanto adultos.

— Então vamos no carrossel? — O rapaz quebrou o silêncio apontando para o brinquedo todo colorido no meio do parque, os cavalinhos subiam e desciam enquanto seguiam seu caminho.

A moça deu um passo para traz cruzando os braços — Eu acho que não posso ir. — Sua expressão mudou rapidamente para uma preocupada.

Primeiramente Caio ficou confuso e ponderou sobre o que a jovem loira estava querendo recusar. Respirou fundo e perguntou apontando para o letreiro "Carrossel" atrás de si. — No brinquedo ou para a Europa?

Clara desviou os olhos e não respondeu imediatamente, depois de respirar fundo, sentindo-se exausta pela enxurrada de pensamentos, respondeu em um fiapo de voz, olhando para os tênis com o cadarço e bico brancos. — Ambos, eu estou grávida.

Caio, incrédulo, desceu o olhar parando em um reflexo que chamou a atenção. Havia um espelho onde ele conseguia ver a imagem refletida de Clara. Sua expressão sofrida, embora ela estivesse cheia de amor enquanto esfregava a barriga. Ele rapidamente pensou em um plano de ajudar a moça, ele sentiu isso no coração, mas não queria parecer rude ou arrogante.

— Eu posso te ajudar, mas antes preciso saber de algumas coisas. — ela assentiu, ainda com vergonha de o encarar nos olhos — E o pai?

Ela fez que não com a cabeça — é complicado — uma lágrima escorreu até seu queixo, ela nem quis interromper a gota em seu trajeto.

Ele se aproximou da moça com as mãos prontas para acariciar a barriga pouco protuberante enquanto com a outra secou seu rosto. Clara deixou que ele sentisse o fruto que crescia em seu ventre. Ainda tinha medo, mas se sentiu confortada por Caio naquele momento.

— Eu assumo seu bebê! — Parecia imprudente, mas havia muito tempo que ele pensava nisso. — Você vai ter um lar e pessoas para te ajudar e apoiar, mas eu só consigo se você vier comigo. Eu juro que eu e meu pai só queríamos te ajudar pelo seu talento, mas a primeira vez que eu te vi eu me apaixonei, e eu iria usar esse propósito para te convencer a ir, mas vejo que agora é por outra causa.

Surpreendendo Clara completamente, ele tirou uma caixinha de veludo preta do bolso e se ajoelhou na sua frente.

— Clara, aceita casar comigo? — ele abriu a caixinha e um anel solitário discreto com adornos ao redor do aro.

Clara pensou por um momento. Caio esperou. Até por que sabia o peso dessa resposta — Sim, eu aceito.

Com um sorriso radiante, ele beijou a barriga de Clara, como se selasse um pacto de amor. Em seguida, ergueu-se e deslizou o anel no dedo dela, um símbolo de seu compromisso. A caixinha, agora vazia, repousou em suas mãos, enquanto aplausos ecoavam ao redor. Estranhos, testemunhas daquele momento mágico, gritavam em uníssono: "Beija, beija, beija!"

Caio, tomado por um nervosismo súbito, hesitou. As palavras, antes tão eloquentes, sumiram de sua mente. Mas a multidão, como um coro insistente, não os deixaria em paz. Com um olhar silencioso, ele buscou permissão em Clara, que assentiu com um sorriso. A aproximação foi suave, um encontro de almas. O aroma de Clara, doce e inebriante, envolveu Caio, fazendo seu coração disparar. Seus lábios se encontraram em um beijo apaixonado, uma promessa silenciosa de amor eterno.

Clara, transportada para um mundo à parte, sentiu-se envolta em um calor reconfortante. O beijo de Caio, diferente de tudo que já havia experimentado, transmitia sinceridade e segurança. Suas mãos, guiadas por um impulso irresistível, encontraram o ombro e a nuca de Caio, aprofundando o beijo.

Aos poucos, a multidão se dispersou, deixando o casal a sós. O silêncio, agora cúmplice, permitiu que eles se separassem, ainda conectados pela magia do momento.

— Logo vai começar a inchar, você pode guardar o anel na caixinha até voltar ao normal.

— Tudo bem — concordou ela, aliviada de diversas formas. Uma dúvida lhe pousou na mente, franziu o cenho. — Mas como vamos fazer?

— Eu preciso voltar amanhã para resolver umas coisas, meu voo sai cedo. Enquanto isso você pode ir tirando o passaporte e arrumando as malas. Leve o básico, nós compramos o que precisar lá. Meu pai pode te ajudar a conseguir os documentos mais rapidamente.

Com um sorriso fraco, Clara assentiu, a garganta apertada pela emoção. Após um sorvete, Caio a levou para casa, o silêncio preenchido pela melodia suave do rádio.

No calor do lar, Clara compartilhou a decisão de partir para a Europa com Caio. A gravidez e o noivado, segredos guardados a sete chaves, seriam revelados em outro momento. Seus pais, embora com o coração apertado pela distância, apoiaram a filha. Perceberam, com a sabedoria de pais, que a mudança seria um bálsamo para a alma de Clara.


• Tempo atual, dia seguinte ao reencontro no bar de Henrique •

O ar salgado e úmido da ilha, que normalmente trazia paz, agora parecia carregado de uma tensão que deixava Clara inquieta. O clima tropical que antes a aquecia agora a fazia sentir um gélido frio na espinha. Clara acordou com a convicção de fazer as pazes com seu passado, mas a ideia de enfrentar Amélia a deixava nervosa. O coração martelava em suas costelas como um pássaro preso em uma gaiola.

Decidiu que era hora de visitar sua amiga de infância.

Vestiu sua roupa mais comportada e dirigiu até o cemitério. Raios dourados brincavam entre as lápides, iluminando nomes gravados na pedra, como se tentassem apagar as marcas do tempo. A natureza, em sua exuberância, contrastava com a melancolia do lugar. O perfume das flores frescas, o cheiro úmido da terra, o canto dos pássaros ecoava entre os túmulos.

O cemitério, que antes lhe parecia familiar, agora se mostrava como um labirinto de memórias. — Dona Tereza disse que era por aqui, cadê o anjo? Nossa, isso está mais cheio desde a última vez que estive aqui — murmurou, a voz embargada.

Clara inspirou fundo. Passando seus olhos pelas lápides, imediatamente reconheceu o nome e a foto da amiga, um pouco surrada pelo tempo em uma cerâmica na cabeceira de um túmulo de mármore cinza. As lembranças da infância inundaram sua mente: as tardes de brincadeiras, os segredos compartilhados, a promessa de amizade eterna.

Amélia descansava junto da avó, a mesma que as haviam acolhido com doces e histórias quando eram pequenas. Ao tocar a fria pedra, Clara sentiu um nó na garganta e uma onda de saudade a invadiu. Lembrava-se das tardes de risadas, dos sonhos de infância, e da dor da perda.

Uma lágrima solitária escorregou pelo seu rosto, misturando-se com a umidade da grama. As rosas amarelas que havia trazido pareciam murchas em comparação com a vivacidade das lembranças que floresciam em sua mente. Depositou as flores sobre a lápide, sussurrando um pedido de perdão e prometendo nunca mais esquecer a amiga.

A notícia da morte de Amélia a deixou em pedaços. A imagem de Amélia, sorrindo em meio aos destroços do carro, a perseguia em pesadelos. A culpa era uma pedra pesada em seu peito. A vida, que parecia tão perfeita em seu novo lar na Europa, agora parecia vazia e sem sentido.

Se ela tivesse escolhido a amizade em vez da paixão, talvez Amélia ainda estaria viva. Naquele dia chuvoso, Clara se ajoelhou diante do caixão, as lágrimas borrando a foto da amiga. A igreja, onde tantas vezes haviam compartilhado risadas e sonhos, agora era um lugar de luto e tristeza. A fragrância das flores brancas contrastava com a dor em seu coração. A última vez que haviam se visto, naquela noite de verão, Amélia a olhara com um misto de tristeza e raiva. As palavras de despedida ecoavam em seus ouvidos, um lembrete constante de sua traição.

• Flashback, duas horas depois do encontro com Caio no parque de diversões •

O som das ondas se chocando na beira da praia era como o eco das batidas do coração de Clara, aproximou-se da amiga sentada em um tronco oco esfregando as mãos em puro nervosismo.

— Oi Amélia, te chamei aqui porque preciso te contar algo importante. — Clara começou, a voz embargada.

Amélia que fitava o mar, virou-se e percebeu rapidamente que algo preocupava sua amiga, podia ver mesmo sob a penumbra da noite.

— Estou grávida. — A luz da lua iluminava seu rosto, revelando uma mistura de emoções.

— Isso é... — ela pausou, buscando as palavras certas — isso é maravilhoso, Clara. Já contou para o Rodrigo? O que ele disse?

Clara desviou o olhar para a areia em seus pés, buscando coragem para explicar o inexplicável.

— Não... é que... — ela hesitou, as palavras ficando presas na garganta. — O pai do bebê é o Diego.

Amélia congelou, o olhar perdido no horizonte. O vento carregava o sal do mar, mas era a amargura que pairava no ar. 

A cada pergunta seu tom aumentava, a dor cortava sua garganta por dentro. — Você... você traiu o Rodrigo com o Diego? O meu namorado?

Clara assentiu, as lágrimas rolando pelo rosto. — Eu sei que não tenho justificativa. A gente se conhece desde sempre, e eu... eu te amava como uma irmã. Mas deixa eu explicar — tentou segurar com as mãos trêmulas as de Amélia, que se desvencilhou.

Levantou-se bruscamente, a areia cedendo sob seus pés. — Você mentiu pra mim, Clara! Como você pôde? — A raiva em seus olhos era intensa. — Eu sempre te apoiei em tudo, e você me apunhala assim pelas costas?

Não teve a oportunidade de contar sua história, ela nem faria sentido aos ouvidos de Amélia nesse momento.

Clara se sentiu diminuída, insignificante. A praia, que antes era um refúgio, agora era um palco para sua humilhação. — Eu sei, eu sei que não tenho o direito de pedir seu perdão. Só queria que você soubesse a verdade.

Amélia olhou para Clara com olhos que antes brilhavam de amizade, agora obscurecidos pela tristeza. — E agora o que vai fazer? — A voz dela era baixa, mas carregada de uma raiva que cortava como um facão.

Clara engoliu em seco, as palavras presas na garganta. — Eu vou para a Europa, vou começar uma nova vida.

— E o Diego? Ele sabe? Vai continuar com ele? — Amélia afastou-se de costas para Clara, as mãos na cabeça e os cabelos revoltos, um espelho de sua ira.

Clara sentiu um nó na garganta. A ideia de perder Diego para sempre era insuportável, mas a amizade com Amélia era algo que ela nunca imaginou que pudesse perder. — Ele não sabe e não vou contar.

Amélia virou-se para ela, os olhos marejados. — Prometa-me que nunca mais vai procurá-lo.

Clara assentiu com a cabeça, as lágrimas rolando pelo rosto. — Prometo.

As duas mulheres ficaram em silêncio por um longo tempo, cada uma lutando com seus próprios demônios. A praia, que antes era um lugar de felicidade e cumplicidade, agora era um testemunho da dor e da traição.

Amélia caminhou em direção ao mar, uma figura solitária se perdendo na imensidão. Clara ficou ali, sentada na areia, observando a amiga se afastar. A promessa de amizade que haviam feito na infância agora parecia um eco distante, perdido nas ondas do mar.

Em seu quarto, outrora refúgio de sonhos e confidências, Clara desmoronou. As lágrimas, como um rio caudaloso, lavaram a dor da despedida. Os laços com os irmãos, a amiga, a família, os vizinhos, os amigos... tudo se desfazia em um turbilhão de emoções. A solidão, como um manto pesado, a envolvia, sufocando qualquer vestígio de alegria. Exausta, após horas de choro, Clara adormeceu, o travesseiro úmido testemunha silenciosa de sua dor.


• Tempo atual, de volta ao cemitério •

— Desculpe-me, amiga, mas vim pedir sua permissão. A promessa de nunca mais vê-lo, de esquecer nossos sentimentos, acabou junto com você nesse túmulo há muito tempo. — O choro de Clara era livre agora, liberando a dor que a consumia há anos. Ela se ajoelhou diante da lápide, as mãos tremendo. Lembrava-se daquela noite, quando, cega pela tristeza, havia feito a promessa que agora a atormentava. 'Nunca mais vou me aproximar de Diego', havia dito, mas o destino havia traçado um caminho diferente para elas.

O vento uivava entre as árvores, balançando os galhos como braços desesperados. Clara ajoelhou-se diante da lápide de Amélia, a fria pedra transmitindo um arrepio sua pele. A vela, solitária e frágil, desafiava a fúria do vento, sua chama vacilante como um reflexo de sua alma dividida.

Lembrava-se da promessa feita sob a sombra da traição, uma promessa que a havia aprisionado por anos. Mas agora, neste lugar sagrado, sentia que estava livre. A chama da vela, que antes tremia hesitante, começou a brilhar com intensidade, banhando a lápide em uma luz suave. Era como se Amélia, em sua infinita bondade, estivesse abençoando sua decisão.

Agora sentia uma paz estranha. Era como se, ao finalmente enfrentar o passado, tivesse libertado uma parte de si mesma.

PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E OITO

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