Prólogo - ASCENDENTE

O céu da pequena cidade praiana estava sem nuvens naquela noite e Clara olhava atentamente a cada pontinho cintilante naquele mar de esc...

═══ • ◆ • ═══ O primeiro a se apaixonar deve ser o homem. Depois a mulher. ═══ • ◆ • ═══ Uma das coisas que nossos pais nos diziam desde peq...

• Cinco • ASCENDENTE

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O primeiro a se apaixonar deve ser o homem. Depois a mulher.

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Uma das coisas que nossos pais nos diziam desde pequenos era para cuidarmos com nossas amizades, mas porquê? Nem todos nasciam com um bom caráter e nossos pais tinham medo deles corromperem as almas de anjos que vossos filhos tinham. Mas seus próprios filhos eram anjos? Por esse motivo Dona Maria sempre policiou as amizades dos seus filhos, tanto na escola, quanto na rua, assim como Dona Tereza. Clara e Amélia eram tão unidas assim porque suas mães também eram amigas de infância, e assim uma ajudava a outra a cuidar das meninas. Porém nem todas as mães tinham esse cuidado, ou por trabalharem demais e não terem ninguém para ajudar a tomar conta de seus filhos, ou por desleixo, falta de maturidade, entre outros motivos.

Esse era o caso de Cecília, ela trabalhava fora e com o marido ausente por causa do Marinha, não conseguia ficar próxima o suficiente dos rapazes e com isso não sabia com quem se envolviam. E quando estavam em casa, a rigidez do Coronel fazia com que eles ficassem mais rebeldes. Tentavam aconselhar os rapazes quando percebiam que eles estavam "fora da linha", mas como contra argumentar quando se é questionado sobre ser uma mãe ou pai mais presente. Que precisa sustentar a casa? Isso não era o suficiente.

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Com o término das provas finais e início das férias escolares, Clara e Amélia tinham o tempo disponível para trabalharem em meio período, sem atrapalhar suas outras atividades. Conseguiram um emprego temporário na sorveteria do seu Amaro, um conhecido do pai de Amélia. Elas fariam a maior parte do serviço, atender, limpar e seu Amaro cuidaria do dinheiro do caixa. Clara se sentia bem em trabalhar ali, isso aumentaria sua poupança também e ainda na companhia da amiga.

Amélia aproveitou um momento a sós com a amiga, que cada vez mais se mostrava apaixonada por Rodrigo, para conversar com ela, ainda tentando mostrar a verdade para a amiga sem a magoar.

— Amiga, esse é o seu primeiro relacionamento, talvez você tenha que ter mais cautela e ir mais devagar, o que acha? — Amélia limpava a máquina de sorvete, enquanto Clara limpava o chão da sorveteria.

— Eu estou tendo cautela, Mel. — Clara não sabia onde a amiga queria chegar, e tampouco estava disposta a descobrir, e o assunto morreu, cada uma atarefada com as suas atividades.

Ainda era cedo, mas logo a sorveteria iria encher de clientes sedentos por um refresco para aquele calor. O clima estava esquentando gradativamente, logo o verão chegaria ao pico, e os turistas e veranistas encheriam a cidade. Mesmo sendo uma cidade pequena, era acolhedora e com algumas atrações turísticas dignos de prêmios estaduais. O Museu Etnográfico Casa dos Açores, praias belíssimas, parques aquáticos e passeios em trilhas nas matas oeste da cidade.

Depois que a hora de pico na sorveteria passou, diminuindo assim o movimento de clientes, eis que dois rapazes, um mais alto de cabelos escuros, compridos até os ombros e com as pontas encaracoladas, e o outro mais baixo de cabelos mais claro e curto, aparecem na sorveteria.

A voz grave e forte de um deles foi que chamou a atenção de Amélia, o outro tinha uma voz grave, porém mais gentil. Amélia caminhou até a mesa que os irmãos tinham se sentado levando consigo um pano que usava para limpar as mesas. Diego nunca tinha achado ela tão sexy com um shorts preto e camiseta branca como uniforme e em sua cintura um avental colorido com estampas de sorvetes de casquinha.

— Vocês não trabalham, não? — Amélia indagou ao se aproximar da mesa com um sarcasmo no sorriso, mas era claro que tinha uma ponta de verdade.

— Claro que não — Rodrigo respondeu prontamente e mandou de volta —, como iríamos ter tempo de vir aqui ver vocês se a gente trabalhasse?

A moça revirou os olhos no momento que Clara gritou lá de dentro do balcão que estavam liberadas do trabalho. Amélia só respirou ao olhar para trás na direção da amiga que fez sinal para ela se apressar. Forçou um sorriso para os rapazes e deu meia volta para guardar o avental.

— Por que não me avisou que eles estavam ali nos esperando, Amélia? — a amiga perguntou curiosa.

― Eles não chegaram há muito tempo — Amélia respondeu e deu de ombros, ela queria ter a chance de falar com os irmãos a sós e acabou de perder a oportunidade.

Pensou então que seria difícil conseguir essa façanha, então ela falaria primeiro com Diego, tentaria tirar tudo o que conseguisse dele e depois veria o que iria acontecer.

Se despediram do senhor Amaro e caminharam pela calçada sentido a rua onde elas moravam, eram quase onze horas e o almoço estava sendo preparado por suas mães, era um sinal de que elas não poderiam demorar nesse trajeto trabalho-casa.

De mãos dadas com Diego, afrouxou o passo ficando mais atrás do outro casal, Clara imaginou que a amiga queria mais privacidade com o... Nem ela sabe o que eles são. Uma brisa lhe tocou a face e ela sabia que esse era o momento.

— Eu percebi o modo como você olha para a Clara, Di.

Apenas jogou a bomba, e nada mais. Diego, que era a calma em pessoa, não se abalou com as palavras jogadas ao ar, mas também não se fez de desentendido. Ele deu a volta ficando de frente para a moça, colocou uma mão em seu rosto e a outra segurou na sua cintura, mas não para a beijá-la.

— Eu não sei o que te levou a pensar isso, mas estou aqui para te responder qualquer dúvida, qualquer pergunta. E por você eu faço qualquer coisa. — ele manteve o contato visual sem vacilar — eu estou aqui por você e é com você que eu quero ficar, se você também me quiser.

Ele foi firme e verdadeiro em suas palavras, Amélia podia sentir no timbre de sua voz e ver na dilatação de sua pupila que o rapaz falava a verdade e isso fez algo aquecer seu peito e se sentir aliviada, fazendo-a se jogar em seus braços para o beijar.

Clara percebendo a ausência de passos atrás de si se virou e viu sua melhor amiga aos beijos com o cunhado. Amélia era da altura de Clara e Diego — sendo quase tão alto quanto Rodrigo —, precisava se curvar para alcançar os lábios da moça, que ficava na ponta dos pés para o alcançar os dele também. Clara sorriu e olhou para seu parceiro que sorriu para ela antes de a beijar também.

Não se demoraram muito, pois ainda precisavam chegar em casa para o almoço, se despediram dos irmãos e dobraram a esquina que chegava em sua rua.


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