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Até que ponto a amizade suporta?
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A chuva caía fraca em Cerca Grande, Diego
olhava as gotas se formando na ponta do telhado e caindo quando não aguentavam
a força da gravidade fazendo um barulho familiar na poça que se formava no
chão.
Pensava em Amélia.
Já se passaram três meses e a vida começou a se habituar aos poucos a cada dia
que passava, e o ano novo não era mais tão novo assim, e nesse tempo eles não
se falaram, pois seu trabalho no restaurante foi árduo, o rapaz trabalhou sem
descanso devido a temporada de verão, que acabou depois do Carnaval, em
fevereiro, após esse evento os veranistas voltaram para suas vidas e o
movimento no restaurante foi diminuindo gradativamente para baixa temporada,
atendendo principalmente quem viajava na auto estrada e parava ali para
almoçar. Sendo assim, o trabalho das amigas na sorveteria também, porque fecha
completamente nesse período. Perguntou-se o que ela estaria fazendo, se
estaria com raiva dele, então decidiu parar de pensar e começou a agir. Tomou
banho, vestiu sua melhor roupa e caminhou até o quarto do seu irmão, talvez
ele quisesse uma carona.
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As aulas estavam prestes a começar, com seus materiais escolares em mãos, as
amigas marcharam pelas mesmas ruas que já conheciam até a escola Francisco.
Mesma escola, mesmos colegas de classe, mesmos professores, tudo igual, só
mudava o ano escolar. Sua turma estaria junta na mesma sala novamente esse
ano, ficaram eufóricos quando souberam disso, Lucas revirou os olhos cinza e
praguejou quando as meninas soltaram gritinhos estridentes de felicidade.
O primeiro dia de aula foi para conhecer o que eles já conheciam, e receber o
plano de aula anual, não que os professores fossem seguir o cronograma à
risca, mas era para os pais e alunos terem como base aquele plano. Depois que
foram dispensados a turma caminhou até a saída para se despedir e seguirem
seus caminhos, mas não esperavam encontrar os irmãos ali na hora da saída,
Doug, Peu e Catarina se despediram das amigas, não antes de lançar um olhar de
desprezo para os irmãos, eles estavam a par da situação.
— Ora, ora, ora — Amélia cruzou os braços e fechou a cara enquanto falava —
olha quem resolveu dar as caras por aqui, Clara?
Ela não iria perder a oportunidade de alfinetar os irmãos, não depois desse
hiatos de encontros. Diego parecia arrependido, enquanto Rodrigo mostrou uma
cara de deboche.
— Se não estão felizes em nos ver, então vamos embora — ele arrebatou e Diego
lançou um olhar matador a ele.
— Eu estive trabalhando muito esse tempo todo, não sei o meu irmão, mas eu não
tive muito tempo livre.
A feição de Amélia se iluminou com essa revelação, ele seguiu seu conselho de
trabalhar, e era claro que ela queria saber de todos os detalhes, até se
esqueceu que estava brava com ele. Clara então olhou para Rodrigo querendo
mais respostas, decidiram então dar essa chance aos rapazes. Mas ali não era a
hora e o local, o céu já estava querendo se desmanchar novamente, e elas
precisavam ir para casa, então marcaram outro dia.
Sem muito o que fazer depois do almoço, Amélia foi até a casa da amiga, Clara
faria aniversário em julho, então teriam menos de três meses para planejar a
festa que marcava qualquer adolescente. Primeiro contaram o dinheiro que Clara
vinha juntando com os trabalhos, não era muito, mas ajudaria bastante, seus
pais inteirariam o que faltasse, mas deixaram explicado que não mais que
metade do valor total que a festa custaria.
A decoração seria um rosa envelhecido, passava uma impressão de elegância, as
meninas encontraram em uma das revistas de moda que Dona Maria tinha em seu
ateliê de costura. A cor estaria no seu vestido, na toalha da mesa, na
decoração do bolo e nos docinhos que preencheriam a mesa principal. Em outra
revista, Clara e Amélia encontravam um vestido que ficasse bom em seu corpo.
Marcaram a saia de um, gola de outro, manga de outro ainda, até terem um
modelo perfeito aprovado pela mãe de Clara que confeccionaria a peça.
— Essa manga combina com a saia desse vestido, olha Amélia — Clara apontou com
o indicador nas duas revistas de moda abertas em cima da mesa de corte.
Dona Maria assentiu olhando para as revistas fazendo uma nota mental do que a
filha sugeriu, já tinham montados mais de vinte vestidos diferentes naquela
tarde, e a imaginação das garotas estava à toda. Saiu esfregando o pano de
prato na louça que segurava nas mãos sentido à cozinha.
— O que sua mãe acha sobre Rodrigo? — Amélia perguntou à amiga em um tom baixo
só para elas ouvirem.
Por mais que sua mãe dissesse que aprovaria seu relacionamento com Diego, e
que ela sentisse que gostava do rapaz, não poderia prosseguir com ele sem
saber o que sua melhor amiga pensava sobre isso, ela sentia que seria errado
caso a amiga não desse certo com o futuro ex-cunhado dela.
Clara remexeu nas unhas em um momento de nervosismo, e Amélia bem sabia disso,
e antes da amiga poder dizer algo mais ela já sentiu a tristeza quebrar seu
coração.
— Amiga — ela chamou a atenção da loira que mudou de humor bruscamente — está
tudo bem se você e Diego derem certo, não será um problema se vocês ficarem
juntos — Clara puxa Amélia para um abraço e aconchega sua cabeça no seu peito
— eu quero e desejo que vocês sejam muito felizes.
Um beijo foi depositado no topo da cabeça de Amélia, e as amigas ficaram ali
em silêncio, até perceberem que a chuva estiou. Depois de constatar que tudo
estava certo para o aniversário da amiga, Amélia foi para casa, a chuva tinha
dado uma trégua e ela se apressou antes que desaguasse novamente.
PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:
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