Prólogo - ASCENDENTE

O céu da pequena cidade praiana estava sem nuvens naquela noite e Clara olhava atentamente a cada pontinho cintilante naquele mar de esc...

═══ • ◆ • ═══ Porque não depende só do que você quer, é egoísmo, se trata do que o outro também quer. ═══ • ◆ • ═══ O sol despertou a todos...

• Nove • ASCENDENTE

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Porque não depende só do que você quer, é egoísmo,
se trata do que o outro também quer.

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O sol despertou a todos naquele alvorecer, o mal tempo havia passado e ido para o mar com a ajuda da ventania daquela madrugada. Clara acordou disposta naquela manhã, ainda mais por saber que seu amor não tinha abandonado ela, ele estava lutando por eles e ela lutaria também. Mas onde e quando se encontrariam com Dona Maria e Dona Tereza em seu encalço?

Terminou de se arrumar, se despediu de sua mãe e seus irmãos que estavam na cozinha, seu pai já tinha ido trabalhar e foi para a escola na companhia de sua melhor amiga. Os cabelos soltos de Clara estavam mais escuros e brilhosos naquele dia, sua pele mais corada também, Amélia não deixou de notar o clássico sinal de que a amiga estava apaixonada, além do sorriso no rosto e os olhos cintilando. Mas ela não podia ignorar o motivo de que ele não veio ver a amiga ou nem dar um sinal de vida, ele não estava trabalhando assim como disse seu irmão, isso ela desconfiou depois que chegou em casa e relembrou o reencontro repassando a conversa na cabeça.

Ao soar do sinal para a primeira aula, as amigas caminharam animadas para a sala, alguns alunos estavam preguiçosos naquela hora, mas logo despertariam. Clara e Amélia adoravam a matéria de língua portuguesa, e por isso prestavam a atenção no que a professora dizia, e anotaram os livros que precisariam ler no decorrer daquele trimestre.

O segundo sinal tocou para os professores intercalarem as salas e os alunos relaxaram com conversas paralelas e algazarra. Clara recebeu um bilhete que alguém deixou em cima do seu caderno enquanto fazia anotações, leu o conteúdo e percebendo que a professora ainda não havia chegado, não pensou duas vezes e pediu para a amiga a acobertar, pois ela estava decidida a ver Rodrigo. Amélia não entendeu direito o que ela iria fazer, mas prometeu ajudar, no entanto sentiu uma ponta de inveja da amiga, Diego estaria ocupado a essas horas e ela não poderia fazer nada além de estudar.

Clara sentia um misto de ansiedade e nervosismo, caso fosse pega saindo da escola em horário de aula, mas ela caminhou à espreita até chegar no portão da escola que dava para a saída, abriu-o sem chamar a atenção, saindo sorrateiramente por ele e fechando em seguida, e no outro lado da rua ela encontrou seu príncipe em seu cavalo branco, ou melhor, Rodrigo recostado no carro de Henrique.

— Quero que venha comigo — ele apenas disse a conduzindo para dentro do carro, sem deixar espaço para mais perguntas, estas que Clara almejava tanto, ela estava decidida a fazer com que Rodrigo prestasse contas dos seus atos. Ela acreditava que honestidade era o ponto forte de um casal e precisava disso vindo do rapaz.

Rodrigo dirigiu até sua casa, ele escolheu o momento em que ele estaria sozinho e a casa silenciosa, a claridade do dia entrava através das cortinas translúcidas deixando um ar de pureza e mistério. Clara achou lindo esse contraste, a luz do sol e a penumbra. Rodrigo escreveu no bilhete que queria conversar com a moça, mas não era isso que ele tinha em mente. Ele estava apaixonado por Clara e a desejava, e queria ter certeza se era recíproco satisfazendo seus próprios desejos.

Ele mentiu descaradamente sobre a maior parte do que disse a Clara e tentou se convencer que ela não o questionaria e acreditaria em mais essas mentiras. Uma parte desse tempo em que esteve ausente ele estava frequentando as festas que Henrique e as gêmeas davam, com tempo livre, sol e turistas era sinônimo de mais clientes e mais dinheiro para mais festas. A outra parte do tempo duas forças lutavam dentro de si, ele não sabia o que queria, qual mulher escolher, e o fora que recebeu de Luana depois que ela decidiu não ser mais um objeto nas mãos de Rodrigo, foi quando ele decidiu o que fazer. Porém o que ele disse a Clara foi totalmente ao contrário.

A moça não sabia se acreditava ou não em suas palavras, havia muitos furos na história  do rapaz, mas antes que ela perguntasse alguma coisa ele a beijou. Aquele beijo doce que ela ansiava a tanto tempo, cheio de saudade que fez seu corpo todo arrepiar com o toque dele em sua pele. Ela correspondeu o rapaz até quando os beijos estavam tomando outro rumo, mesmo ela não sabendo o que fazer, porque nunca estivera com outro rapaz dessa forma. Porém, pelo jeito que Rodrigo a conduzia dizia que ele sim sabia exatamente o que fazer.

Ainda estavam de pé na sala quando o rapaz deslizou uma das mãos por baixo da blusa procurando por seu seio e sentindo o bico enrijecer ao toque decidiu que queria mais. Pegou-a no colo, ela enroscando suas pernas ao redor de sua cintura sentiu o membro dele firme sob a roupa e isso fez sentir um calor gostoso percorrer seu corpo. Deitou-a no sofá, tirou a própria camisa exibindo seu peitoral atlético, tirou a camisa dela e em seguida o sutiã para poder abocanhar um seio e apalpar o outro. Clara fechou os olhos e aproveitou o momento sentindo cada pelo do seu corpo arrepiar, era eletrizante e suspiros exalaram dos seus lábios e foi surpreendida por beijos cada vez mais ferozes. Depois do primeiro beijo Rodrigo não disse se quer uma palavra e tudo que ele fazia tomava a resposta gritante do corpo de Clara como sinal para continuar. Ela o queria, e como queria. Ele bem sabia que ela era pura, mas não deixou isso o intimidar. 

Ficou de joelhos em frente a ela sentada no sofá deslizou suas mãos firmes pelas pernas da garota, a saia do uniforme da escola era só um objeto de desejo. Subiu a mão vagarosamente pela coxa ora apertando de leve de um jeito que sabia que ela soltava suspiros mais profundos enquanto enfiava sua língua na boca dela. Parou um momento para ver o rosto corado da moça e a respiração mais forte e pensou "ela já está entregue". Naquele momento ela já tinha esquecido o que queria perguntar, e qualquer resquício de juízo da sua cabeça tinha evaporado e apenas se deixou levar. Rodrigo olhou bem em seus olhos enquanto sua mão travessa abria passagem puxando a calcinha um pouco para o lado e introduziu um dedo devagar, ele mal conseguia se segurar quando sentiu ela lubrificada. Seus suspiros aumentaram e então ele aumentou o ritmo.

Rodrigo estava pronto, mas não iria a diante antes de introduzir mais um dedo e fazer a moça sentir mais prazer, ela deu grunhidos tímidos em resposta. Ele sabia que era o seu primeiro homem e queria que fosse inesquecível. 

— Isso, geme para mim — ele a encorajou —, ninguém virá, se solte mais. E foi o que ela fez quando um calor aumentou no ventre e lambuzou seus dedos que ele fez questão de lamber sob o seu olhar atento, beijando-a para fazer ela mesma sentir o seu próprio gosto. Clara estava tão absorta que esquecera onde estava e o que estava fazendo. Puxou a calcinha dela para baixo plantando beijos nas suas pernas tentando manter o clima, o suor já brotavam de suas testas. 

Rodrigo abaixou sua bermuda rapidamente, levantou a saia e posicionando em cima dela...

— Espera — ela interrompeu — você sabe que...

— Sei sim, algum problema?

Ela fez que não com a cabeça.

— Então tudo certo, eu te quero tanto — pressionou seu membro duro na coxa e exalou forte — mas não quero te machucar, vai doer um pouco no começo, mas se não aguentar me avisa, ok? — ela estava tão nervosa que só balançou afirmativo com a cabeça.
Ainda deitado sobre ela naquele sofá de couro coberto por uma manta, ele deslizou para dentro dela devagarinho, sabia que seria desconfortável no primeiro momento, Luana não era mais virgem quando ele transou com ela pela primeira vez, mas ela não era Luana, então ele tomou todo o cuidado. Ele fez de tudo para ajudá-la a relaxar, beijou seu pescoço e ombro para a distrair. A moça sentiu uma dor cortante no ato e uma lágrima escorreu por sua face se alojando atrás da nuca, e ele a beijou enquanto fazia.

Ele continuou devagar sentindo cada músculo tenso do seu corpo prestando qualquer outro sinal que ela desse e não veio, mirou sua face agora mais relaxada então aumentou a velocidade ofegando em seu peito, ela agora parecia gostar, pois se juntou a ele soltando gemidos baixos que para ele era tão sexy que se deixou levar pela própria luxúria e quando sentiu que ia gozar saiu de dentro da moça para jorrar em uma camisa que ele pegou rapidamente.
Rodrigo saiu de cima da moça para se secar, percebeu que ela estava quieta, mas achou ser normal, mulheres e seus pensamentos, agora ela era mulher, ele havia a tornado uma. Ele olhou para a janela aberta coberta pela cortina branca e sorriu com esse pensamento. Ele era o homem mais sortudo.

Mas Clara não se sentia tão vitoriosa assim e uma sombra de dúvidas caiu por ela. Ela cresceu com o pensamento que só se entregaria para o seu marido, após o casamento, e eles? Isso era um sinal de que o relacionamento estaria em um outro patamar? Ela mal o conhecia, quem diria casar. E se seus pais descobrissem só ela sabia as coisas que ouviria deles. Muitas dúvidas rondavam sua cabeça a ponto dela enjoar e correr para o banheiro. Rodrigo apenas se perguntou porque as mulheres que ele transava sempre corriam para o banheiro após o coito.

Depois de fechar a porta e retomar fôlego, Clara conseguia pensar com mais clareza, e de repente a culpa recaiu por seus ombros como um estalo no ouvido quando alguém tinha uma ideia boa, naquele momento era uma má ideia. Pensamentos sujos rondaram sua cabeça, e ela precisou sentar no vaso para reunir forças para não chorar. 

O ato em si não foi como ela pensava que fosse, não foi desconfortável apenas no físico, mas no emocional também. Ela gostava de Rodrigo, mas sentia que estava no lugar errado e na hora errada, talvez até com a pessoa errada. Com esses pensamentos ainda frescos na cabeça, ela tratou de se vestir e secar as lágrimas que rolavam de seus olhos, percebeu sangue no papel higiênico que usou para se limpar depois das suas necessidades, ótimo,  ela pensou, só faltava descer sua menstruação nesse momento para ficar tudo perfeito. 

— Pelo menos foi ele foi fofo — disse baixinho para seu reflexo no espelho. Respirou fundo sentindo o mau humor tomar conta de si, e abriu a porta do banheiro.

— Desculpe, você pode me levar para a escola agora? — Rodrigo pensou por um tempo, não se sentia tão vitorioso quando viu os traços sérios no rosto da moça, "ela esteve chorando?"

— Tudo bem, achei que estava se divertindo, preparei um café para a gente comer — ele soltou achando que conseguiria tirar algo da moça.

— Sim, me diverti — Clara assentiu ainda confusa com seus sentimentos —, o que você preparou para a gente?

Rodrigo pegou na sua mão e a conduziu até a cozinha onde tinha a mesa posta para os dois, as roupas não estavam mais jogadas pela casa e o sofá arrumado, até o cheiro de sexo não estava mais no ar e agora era uma fragrância adocicada.

Um silêncio pairava no ar, ao contrário dos pensamentos de Clara. Ela agora era uma mulher e estava se apaixonando por Rodrigo, mas a pilha de dúvidas em relação ao rapaz só aumentava. Queria poder amarrar ele a uma cadeira e abrir sua cabeça para saber o que verdadeiramente se passava ali, mas isso era coisa de psicopata, e isso ela não era.

— Clara, porque está tão quieta? Foi algo que eu fiz?

Sentado na ponta da mesa ele observava o olhar da moça distante, estavam a menos de um metro, ele na ponta da mesa e ela ao seu lado, mas pareciam quilômetros.

Como ela poderia responder que não acreditava em suas palavras sem ser mal educada? Pensou um pouco e respondeu:

— Desculpe-me, estou perdida em pensamentos.

— Se algo te chatear, você pode me contar.

Então era agora que ela teria suas respostas, ela sabia que teria de vir dele para ser sincero e o momento havia chegado.

— Eu só queria te ver mais, você parecia apaixonado e depois sumiu, isso pareceu um sinal de desinteresse, e agora surgiu do nada e fizemos isso. Eu não entendo, porque quando queremos uma pessoa, a gente quer ficar perto.

Pela primeira vez Rodrigo se colocou no lugar da moça e tentou entender seu julgamento.

— Não quero fazer promessas furadas, porque não sei se consigo cumpri-las, mas o que quiser eu farei.

Clara abriu um sorriso, se sentiu aliviada como se um peso saísse do seu coração e inclinou para frente e deu um selinho em seus lábios, que foi correspondido e dado de volta. Quando se afastaram Clara bateu os olhos no relógio pendurado na parede atrás de Rodrigo.

— Você pode começar me levando de volta para a escola? Eu faltei quase o dia todo, preciso estar em casa na hora certa para não ter problemas.

— Levo sim, vou pegar suas coisas. 

Entraram no carro e partiram para a escola, já começava a escurecer e os carros ligavam os faróis na rodovia. Tiveram uma conversa franca no caminho sobre as bandas que escutavam, os lugares que gostariam de conhecer e o que fariam nesse ano.

Clara tinha planos e estava se preparando para quando terminasse a escola, mas agora tinha Rodrigo e a pergunta que ficava martelando sua cabeça era se Rodrigo iria com ela ou partiria e junto seu coração?

Rodrigo pisou no pedal e deu uma freiada de leve até parar o carro em frente a escola, do outro lado da rua, ele até que dirigia bem.

— Nos vemos amanhã?

Ela interpretou como um sinal de que ele queria ficar com ela, mas precisava saber se ele estava disposto a salva-la do castelo.

— Desculpe, não posso mais faltar aula, mas você pode me buscar e levar em casa?
Ele ponderou e hesitou antes de responder, pois teria de devolver o carro hoje, mas não disse a ela, ele daria um jeito.

— Te vejo amanhã na saída.

— Te vejo amanhã então — despedindo-se com um beijo rápido.

Dali ouviram o sinal da saída, a moça se apressou a sair do carro e encontrar sua amiga, Rodrigo soltou uma buzina leve de despedida e arrancou o veículo.

Quando os olhares das amigas se cruzaram Clara acenou para que Amélia viesse ao seu encontro e já começou lhe dando bronca.

— Amiga, você faltou quase o dia todo! O que estava pensando? — gritou do meio da rua.

— Você me empresta para copiar? — pediu com olhos melancólicos ao se aproximar da amiga. Como não rir dessa situação? 

— Tudo bem — disse abrindo a mochila — aproveita e faz minha tarefa.

Clara pegou o caderno de capa dura encapado com estampa xadrez vermelho e branco cheio de adesivos de coração e segurou contra o peito, pois não cabia na sua mochila.
— Então vai me contar o que você fez que matou aula? Você saiu de repente e sumiu, fiquei preocupada! — Amélia disse dando um tapinha no ombro da amiga.

— Antes de tudo preciso te esclarecer que eu estou apaixonada pelo Rodrigo e que só fiz isso porque tenho certeza de que ele não está me usando.

— Aí meu Deus, já até sei o que vai falar — Amélia tapa sua boca com ambas as mãos. — É sério?
Clara concordou com a cabeça tentando não explodir de alegria ali no meio da rua.

— Sim!

— Ahh! Minha amiga agora é mul...

— Shiu — Clara colocou o indicador em frente aos lábios — quer que o bairro todo saiba?  

— Amiga, sabe que pode contar comigo em tudo, não sabe? — Clara deitou a cabeça no ombro da amiga e contou como foi, ponderou o que podia dizer e o que queria manter em segredo sua intimidade, e ouviu atentamente os conselhos que Amélia lhe dirigia. 

Ouviu uma vez sua mãe conversar com suas tias, que depois que a menina tinha sua primeira relação ela virava mulher, que podia ter filhos, e que isso era uma coisa maravilhosa, mas ela não conseguia sentir isso agora, nem imaginava que isso tinha acontecido! Ainda podia sentir o cheiro do perfume de Rodrigo em sua roupa, o cheiro do suor em sua pele e todas as sensações que ele a fez sentir. E foi nesses devaneios que Clara fez o percurso para casa.

Dona Maria percebeu na hora em que Clara chegou em casa que algo  estava diferente com sua primogênita, mas não quis entrar na privacidade da filha, hora ou outra ela se mostraria aberta para conversar sobre o que a deixou agir assim. 


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