═══ • ◆ • ═══ Com o sexto sentido em alerta,  a inquietação impulsionava a jornada em busca de respostas  que ecoavam na alma ═══ • ◆...

• Vinte e Nove •



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Com o sexto sentido em alerta, 

a inquietação impulsionava a jornada em busca de respostas 

que ecoavam na alma

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A luz matinal, insistente, esgueirava-se pelas cortinas semiabertas, dançando com a brisa suave. Camille, ainda envolta em um torpor sonolento, abriu os olhos, buscando refúgio na familiar constelação de Sagitário, que adornava seu teto como um segredo particular. A lembrança do céu noturno, com seus pontos de luz cintilantes, contrastava com a imensidão negra e pontilhada que a cercava durante o dia.


E então, o brilho do anel em seu dedo a despertou por completo, um grito de alegria ecoando pelo quarto, celebrando o 'sim' da noite anterior. Com um chute preguiçoso, afastou o lençol, sentando-se na cama, os pés ainda flutuando sobre o chão frio. Uma pontada aguda na cabeça a atingiu, intensificando-se a cada batida do coração. O canto dos pássaros, outrora melodia matinal, tornou-se uma cacofonia irritante, aumentando sua vertigem.


— Ah, qual é? Nem bebi tanto assim! — Resmungou, calçando os chinelos e arrastando-se para fora do quarto. A promessa do café quente, com o aroma inconfundível do avô, a guiou pelas escadas, como um farol na névoa da ressaca.


— Bom dia, vô! — Camille o abraçou, depositando um beijo suave em sua face enrugada.


— Dormiu bem, querida? — perguntou o avô, a voz rouca e os cabelos alvos perfeitamente alinhados. — A ressaca te atormentou muito?


— O sono foi tranquilo, mas essa dor de cabeça... só um café do senhor para curar.


— Então me ajude a preparar a mesa — disse ele, selando a garrafa térmica e colocando-a no centro da mesa. — Vou chamar sua avó.


Enquanto organizava a mesa, uma sensação estranha invadiu a mente de Camille. Um turbilhão de imagens da noite anterior, fragmentos de conversas sobre sua mãe e Diego, ecos de um passado que parecia gritar por respostas. Uma interrogação gigante se formou em sua mente, um enigma que ela sentia que precisava desvendar.


Camille abriu a geladeira, buscando um refúgio para as lembranças insistentes. Os itens frios em seus braços a despertaram para a realidade. — Brrr, gelado! — murmurou, enquanto vasculhava armários e gavetas em busca dos utensílios restantes.


Os passos arrastados dos avós anunciaram sua chegada. Vovô, em seu ritmo peculiar, seguia a vovó, que ainda desfilava em sua camisola matinal.


— Bom dia, minha netinha linda! — exclamou a vovó, com um sorriso que iluminava a cozinha.


— Bom dia, vó! — Camille a abraçou, depositando um beijo demorado e estalado em sua bochecha, como se quisesse deixar ali toda a sua alegria. — O café do vô está pronto, e a mesa já está posta!


Sentaram-se à mesa, o café fresco e o leite morno compondo uma sinfonia de aromas. Vovó, com a precisão de um mestre, executava o ritual de aquecer a xícara com água da chaleira, um gesto que transcendia o simples ato de preparar café, transformando-se em um símbolo de afeto e cuidado, pois para ela, café frio era um sacrilégio.


— Vó, preciso perguntar uma coisa — Camille hesitou, pesando cada palavra. Sabia que o assunto era um campo minado. Vovó, com um "hum?" curioso, continuou a saborear os biscoitos amanteigados, pronta para ouvir.


— Quem é Diego? Encontramos ele ontem no bar do pai do Dominic, e a reação da mãe... foi estranha. Nunca a vi daquele jeito, e eu preciso entender.


Um olhar tenso se trocou entre os avós, um segredo compartilhado que Camille não compreendia. Vovô, hesitante, abriu a boca para responder, mas vovó o silenciou com um gesto. Bebericou o café, como se buscasse coragem para enfrentar a verdade.


— Em Cerca Grande, sua mãe tinha uma amiga de infância, nossa vizinha de porta, Amélia. Lembra?


Camille assentiu, a imagem de sua mãe desolada pela perda marcou sua infância profundamente.


— Lembro sim, mamãe ficou muito triste com a sua morte e veio no primeiro voo para o velório.


— Diego era o namorado dela. — A frase ecoou na cozinha, carregada de um peso inexplicável. Vovó bebeu o café, como se buscasse coragem para continuar. 


— Sua mãe tem uma história... uma história que envolve Diego e um passado que a marcou. Mas não cabe a mim revelar os detalhes. É uma história que ela precisa contar a você, quando estiver pronta.


Camille, insatisfeita com a resposta evasiva da avó, tentou dissipar a tensão com um sorriso forçado. Mas o silêncio pesado que pairava sobre a mesa foi abruptamente interrompido por Augusto, que irrompeu na cozinha com a energia de um furacão, trazendo consigo o frescor da caminhada matinal.


— Bom dia, família! — exclamou, distribuindo beijos e puxando uma cadeira. — Esse café está divino!


— Minha mãe? Alguém viu? — perguntou, servindo-se de torrada com geleia de morango. — Fui chamá-la, mas o quarto estava vazio.


— Ah, ela saiu faz um tempinho — respondeu Augusto, com um sorriso malandro. — Foi visitar a Amélia, toda trabalhada no visual 'viúva de novela mexicana': preto dos pés à cabeça, parecia que ia para um velório... ou para um encontro secreto. Hum, isso está uma delícia!


A animação de Augusto se dissipou, dando lugar a uma expressão de deleite pela primeira refeição do dia. Camille, com um sorriso sarcástico, encarou a xícara de café e ergueu uma sobrancelha. 


— Um velório... ou um encontro secreto? Hm, interessante. — Pensou, imaginando os cenários mais absurdos, por exemplo, sua a mãe em um encontro secreto com Diego no cemitério.


De volta ao quarto, Camille sentia a necessidade de organizar seus pensamentos, de dar forma ao quebra-cabeça que se formava em sua mente. Recorreu à sua habilidade de criar linhas do tempo, um talento cultivado na faculdade.


Com um caderno e caneta em mãos, traçou uma linha horizontal na folha, dividindo-a por anos. Abaixo, começou a anotar os eventos que conhecia, tentando encontrar um padrão.


— Mamãe e papai começaram a namorar no começo de 92, e eu nasci em dezembro... — murmurou, escrevendo com pressa, como se estivesse correndo contra o tempo.


— Antes dele, ela namorou Rodrigo, que é o pai do Liam... — Parou, anotou um ponto de interrogação ao lado da anotação. — E Diego era namorado de Amélia na mesma época em que minha mãe e Rodrigo namoravam...


As mensagens de Dominic a fez lembrar do encontro surpresa organizado por Henrique. Algo que eles sabiam, algo que estava escondido nas entrelinhas.


A cada nova informação, a confusão de Camille se transformava em irritação. Ela precisava de respostas. Decidida a adiar a investigação por enquanto, começou a se arrumar para a disputa de surf.


• ◆ •


Clara e Diego chegaram juntos, as mãos entrelaçadas, como se pombinhos recém casados. Na praia, a disputa de surf de Henrique era um espetáculo de cores e sons. Dom, sempre presente, havia trazido Camille e sua prancha, enquanto Liam e a namorada, surfistas experientes, se misturavam à multidão. As gêmeas Aurora e Pandora, orgulhosas, exibiam seus maridos e os filhos, herdeiros do mar. Henrique e sua esposa Dalila, anfitriões perfeitos, completavam o quadro, junto a outros amigos que o tempo havia presenteado.


O sol, um gigante dourado, transformava o mar em um espelho reluzente. A música alta pulsava, como um coração batendo no ritmo das ondas.


— O mar está nos abençoando hoje! — gritou Henrique, saudando o casal com um sorriso que parecia esconder algo. — Que bom que vieram! Que bom que se acertaram.


Camille observava a interação, sentindo um pressentimento estranho. O olhar cúmplice de Henrique para sua mãe e Diego, a forma como eles se tocavam... tudo parecia estranhamente familiar.


Henrique, com a energia de um apresentador de reality show, reuniu a todos para explicar as regras da disputa. A tensão, porém, permanecia no ar, como um aviso silencioso.


— Teremos três jurados: Dalila, minha esposa; Vinícius, meu camarada de longa data — Henrique apontou para o amigo ao lado — e... — ele parou, procurando com o olhar, e encontrou-a ao fundo — Luana!


A atenção de todos se voltou para a mulher que surgia ao fundo. Luana, com seus lábios de tom roxo quase negro, a pele contrastando com as marcas do sol, o corpo definido e os cachos loiros que pareciam desafiar a gravidade, era uma visão que impunha respeito. A fumaça do cigarro que apagou no cinzeiro se dissipava lentamente, como um rastro de mistério.


Ao lado de Luana, um homem com a postura de um Capitão-Tenente da Marinha, corpo atlético e ombros largos. Seus cabelos ondulados, cortados na altura das orelhas, emolduravam um rosto marcado pela disciplina e pela experiência. Clara o reconheceu instantaneamente: Rodrigo. A presença dele, mesmo em um ambiente descontraído como a disputa de surf, exalava uma aura de comando e respeito.


Um arrepio percorreu a espinha de Camille. A chegada dos dois, juntos, era estranhamente incômoda. Algo não se encaixava. 


— Chegamos! — anunciou Luana, com um sorriso radiante. Ao seu lado, Rodrigo relaxou a postura, a expressão suavizou ao reconhecer os amigos e cumprimentá-los com um aperto de mão até seu olhar congelar em Clara. 


— Vocês dois... juntos? — Henrique arqueou as sobrancelhas, a incredulidade estampada no rosto. — Pensei que estivessem em pé de guerra.


— Fizemos as pazes — respondeu Luana, com um tom que não deixava espaço para discussão. A tensão entre os dois era palpável, como uma corda esticada prestes a arrebentar. — Por enquanto.


Seus olhos encontraram os de Clara, e um sorriso amigável se abriu em seus lábios.


— Oi, você é a Clara, certo? Nos encontramos algumas vezes.


— Sério? — Clara franziu a testa, tentando resgatar as memórias perdidas.


— Na festa do Rodrigo, há alguns anos, e depois na pracinha, com nossos filhos.


Luana, com um sorriso gélido, finalmente entendeu. Clara. A ex-namorada de Rodrigo. A mulher por quem ele a traiu e que ele insistia em manter viva em seu passado, através da Santa Clara Casa de Surf. Maldita loja que ele se recusava a renomear, mesmo após anos de casados. A memória das discussões acaloradas, das noites em claro, das lágrimas derramadas, invadiu sua mente. A tensão na atmosfera se intensificou, tornando o ar quase irrespirável. 


Camille observava a cena, sentindo o ciúme de Luana se espalhar pelo ambiente como um veneno invisível. O silêncio que se seguiu à chegada do casal era ensurdecedor, e Luana, com a expressão fechada, arrastou Rodrigo para o outro lado da barraca, criando uma divisão clara entre eles e o resto do grupo.


— Vamos começar, galera! — Henrique anunciou, apontando para a tela da TV. — Ali está o painel com os nomes e a pontuação de cada um. Teremos baterias individuais, e os melhores avançam para as próximas fases. No final, um pódio com os três melhores.


Ele explicou as regras com entusiasmo, tentando dissolver o clima tenso. Cada olhar trocado, cada movimento, carregava um peso que ameaçava afogar a competição e ele estava disposto a evitar a todo custo.


Enquanto Henrique explicava as regras, Camille observava os personagens, tentando decifrar o enigma que se desenrolava diante dela. A tensão entre Luana e Rodrigo, a proximidade de Clara e Diego... tudo parecia fazer parte de um jogo perigoso.

 PRÓXIMO CAPÍTULO:

• TRINTA •

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═══ • ◆ • ═══ O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre ═══ • ◆ • ═══ • Madrugada, depois do reencontro n...

• Vinte e Oito •


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O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre

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• Madrugada, depois do reencontro no bar de Henrique •


Camille chegou em casa com sua mãe e, antes de dormir, checou as notificações, encontrando uma enxurrada de mensagens de Dominic.




Camille franziu a testa, confusa. 'Como assim, armaram?'



Foi então que caiu a ficha. Ela sabia que havia algo no passado de sua mãe, mas ninguém falava nada e ela sempre percebia que quando sua mãe e sua tia conversavam o assunto mudava quando ela se aproximava. Então era isso, era Diego. Talvez um namorado da adolescência?



Percebeu o quão sensível era seu namorado, por se importar tanto com Diego que nem era parente de sangue, apenas amigo de infância do seu pai. Primeiro sentiu um ponta de raiva por ele ter se metido nos assuntos de família, mas depois que entendeu sua posição, seu coração amoleceu por ele.




Camille terminou de digitar a mensagem com o pouco de sono que tinha e apagou imediatamente sob o aconchego dos seus lençóis de cetim perolizado.


• Manhã seguinte, no cemitério •


Sentindo os ombros mais leves, como se um fardo invisível tivesse sido retirado, Clara caminhou para fora do cemitério, decidida a não fazer mais promessas que não pudesse cumprir. Exalou um suspiro de alívio e apertou o botão do controle, destravando o carro.


— Oi, Clara — a voz de Diego a surpreendeu, ele aproximava com um buquê de tulipas rosas, suas favoritas.


— Oi, Diego — no primeiro momento, Clara pensou que ele estaria ali com o mesmo propósito que ela, mas a expressão nervosa de Diego a fez perceber que havia algo mais. Sorriu.


— Eu estava indo até sua casa para conversar com você, e passando aqui na frente, vi seu carro estacionado e resolvi esperar — ele passou uma mão pela nuca, em um gesto nervoso. — Estas flores são para você — estendeu o braço, oferecendo o buquê.


Clara segurou as tulipas com delicadeza, inalando o perfume suave. — Vamos, eu também preciso conversar com você.


Diego abriu a porta do carro para ela, um sorriso tímido iluminando seu rosto. — Podemos nos encontrar no bar do Henrique, está vazio a essa hora.


Clara assentiu, retribuindo o sorriso. Pousou o buquê no banco do passageiro e seguiu Diego em seu carro, o som suave de uma música lounge preenchendo o silêncio. Precisava organizar seus pensamentos. Ao chegarem, Diego estacionou em uma vaga privativa e fez um sinal para que ela o seguisse.


Entrando em uma porta passando por alguns corredores chegaram ao salão que diferente da noite passada, agora estava silencioso e com as luzes apagadas, apenas os raios do sol entravam pelas largas janelas de vidro. O tac, tac, tac dos saltos ecoava alto, preenchendo o ambiente.


— Quer beber algo? Posso preparar o que quiser.


— Quero ter uma conversa sóbria com você dessa vez — deu um sorriso travesso lembrando da noite na fogueira —, então só água, por favor.


— Ah ok —  virou-se rindo para esconder o rubor em seu rosto, lembrando da mesma noite. Disse por cima dos ombros — Sente-se, que eu já volto!


Minutos depois Diego retornou com dois copos com gelo e duas garrafinhas de água mineral. Sentou de frente para ela, justamente ela escolhe a mesma mesa da noite anterior, algo naquele lustre lhe chamava a atenção. Diego percebeu que ela o encarava e o acendeu, iluminando ainda mais o seu rosto. Sentou novamente e lhe serviu.


— Eu tenho tantas perguntas, Clara. Mas não tenho certeza se você vai responder. — Diego fechou a tampa da última garrafinha, o som plástico ecoando no silêncio entre eles, e mirou seus olhos nos dela. Clara acompanhava seus movimentos lentos e precisos, o coração acelerado.


— Pode perguntar, eu prometo ser o mais direta e sincera possível — apoiou os cotovelos na mesa para segurar o queixo.


— Clara, eu preciso saber... por que você foi embora de repente? — A pergunta pairou no ar, densa e carregada de emoção. O clima mudou rapidamente, algo que já era previsto por Clara, mas ouvir diretamente de Diego a fez, de repente, voltar no tempo e sentir toda a pressão novamente. Ela desviou o olhar, as lágrimas marejando seus olhos antes de responder.


— Diego, eu... eu não sabia o que fazer — olhou ao redor parecendo perdida.


Diego sabia que precisava perguntar mais para fazê-la abrir seu coração, para que finalmente entendesse completamente a situação. Seu tom era doce e calmo, como se limpasse uma ferida aberta.


— O que foi aquela noite para você, Clara? Depois da festa da loja do Rodrigo?


— Nós... nós nos entregamos um ao outro. Para mim, Diego, foi um momento de paixão, de amor...


Diego parou para pensar um pouco, tentando processar as palavras de Clara.


— Certo... Para mim também. E depois? — Seu ciúme agora era evidente. —  De repente, você foi embora com Caio!


Clara bebeu um gole de água, a garganta seca pela tensão. — Eu descobri que estava grávida. Grávida de você.


Diego ficou paralisado, a notícia o atingindo como um soco no estômago. Ele havia ouvido boatos sobre a gravidez de Clara, mas sempre os descartara, acreditando que o filho era de Caio. A revelação de Clara o deixou sem fôlego, a raiva fervendo em suas veias. Levantou-se bruscamente, arrastando a cadeira para trás, o som estridente ecoando no silêncio do bar.


— Um filho meu? Clara, por que você não me disse? Eu tinha o direito de saber! — Seus olhos, antes marejados, agora flamejavam de raiva e dor.


— Eu estava com medo, Diego. — As lágrimas escorriam pelo rosto de Clara, silenciosas e dolorosas. — Medo de te perder, medo de perder a Amélia. Eu fiz uma promessa para ela.


— Que promessa? — Diego franziu o cenho, confuso e magoado. Clara desviou o olhar.


— Que nunca mais te procuraria. — A revelação caiu como uma bomba, explodindo o mundo de Diego em mil pedaços. Ele se sentiu traído, enganado, roubado. 'Não acredito que Amélia fez isso', pensou ele, incrédulo. 'Eu não a conhecia completamente. Não imaginava o quanto ela era obsessiva e manipuladora a esse ponto.' A raiva, antes contida, explodiu em um grito selvagem, rasgando o silêncio do bar. Diego começou a andar em círculos, tentando processar a informação, a tensão se dissipando aos poucos. 


— Então foi por isso que você foi para a Europa? — perguntou com a voz mansa.


— Sim, Diego. Eu tentei te esquecer, mas não consegui. Se eu ficasse, sabia que voltaria para você, e não podia ser egoísta e colocar a vida do nosso bebê em risco. Camille foi um presente, um pedido realizado por uma estrela cadente. Eu faria qualquer coisa por ela.


Diego se ajoelhou ao lado de Clara, seus olhos ternos e marejados buscando os dela. — Clara, você só queria o melhor para nossa filha. Eu te entendo, e estou aqui agora, disposto a recuperar cada segundo perdido, se você me permitir. Sem ressentimentos, sem mágoas, apenas amor.


As palavras de Diego ecoaram no coração de Clara, como um dia de sol no verão — Eu te amo, Clara.


Ele ergueu as mãos de Clara, beijando-as com fervor. — Eu nunca deixei de te amar.


Um soluço escapou dos lábios de Clara, a emoção transbordando em lágrimas de alegria. Diego ergueu-se, aproximando-se dela, seus lábios se encontrando em um beijo urgente, faminto, como se quisessem recuperar o tempo perdido.


— Me perdoa por não ter te procurado, Clara. Fui covarde, deveria ter lutado por nós.


— Não, Diego, você não fez nada de errado — Clara suplicou, a voz embargada pelo choro. — Me perdoa por ter te deixado, por ter te afastado da nossa filha.


Diego a abraçou com força, apertando-a contra o peito, como se quisesse protegê-la de toda a dor do mundo. — Eu te perdoo, Clara. Você era apenas uma menina, assustada e confusa. Eu nem consigo imaginar o que você passou. Tenho muito a agradecer a Caio, por ter cuidado de você e da nossa filha, por ter feito o que eu não tive coragem de fazer.


As lágrimas de Clara haviam cessado, mas seus olhos ainda brilhavam com a emoção do momento. Diego, com um toque suave, enxugou as últimas lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto. Com um toque suave, guiou-a até a cadeira ao lado, onde poderiam compartilhar o silêncio e a proximidade.


— Mas agora eu estou aqui, Clara — ele disse, a voz embargada pela emoção. — Vamos recomeçar? Vamos construir um futuro juntos?


Um sorriso radiante iluminou o rosto de Clara, as lágrimas de alegria escorrendo por suas bochechas. — Sim, Diego. Vamos recomeçar.


O silêncio que se seguiu foi preenchido pela promessa de um novo começo. Diego, com um olhar apaixonado, segurou as mãos de Clara, entrelaçando seus dedos.


— Prometo que farei de tudo para te fazer feliz, Clara. Prometo que serei o pai que Camille sempre mereceu.


Clara assentiu, a voz embargada pela emoção. — Eu acredito em você, Diego. Eu acredito em nós.


Eles se abraçaram ainda mais forte, como se temessem que o momento mágico pudesse se dissipar. O futuro, antes incerto, agora se apresentava como um caminho promissor, onde o amor e a esperança guiavam seus passos.


Um sonoro 'oinc' ecoou pelo bar, quebrando o silêncio cúmplice.


— Desculpa, Diego — Clara corou, envergonhada com a mão na frente do rosto. — Acordei tão desolada que nem consegui tomar café da manhã. Estou faminta!


Diego explodiu em risadas, um som contagiante que preencheu o ambiente. Clara sorriu, aliviada por quebrar a tensão.


— Vou preparar algo para a gente comer — Diego a guiou pela mão, seus dedos entrelaçados, seus corpos emanando um calor que fazia suas mãos suarem. — Temos muito tempo até os funcionários começarem a chegar.


A cozinha, antes um mistério para Clara, agora se revelava como um palco para um novo começo. O cheiro do suco de morango e camarão fresco pairava no ar, convidando-os a desfrutar daquele momento.


— Você tem planos para a tarde? — Diego perguntou, enquanto enxugava os pratos que haviam servido uma refeição deliciosa. Clara, com os olhos fixos nos braços flexionados de Diego, hesitou por um momento.


— E pior que tenho — respondeu, um bico triste se formando em seus lábios. — Tem o desafio de surf do Henrique.


— Ah, é mesmo! — Diego exclamou, batendo na testa com a palma da mão. Olhou para o relógio de pulso. — Mas ainda temos tempo... — Com um movimento rápido, pressionou Clara contra a pia, seus lábios se encontrando em um beijo profundo e apaixonado, que fez as pernas de Clara bambearem. — Vem, vou te mostrar minha casa.


De mãos dadas, eles saíram do bar com o carro de Diego. O trajeto até a casa dele foi curto, o bairro não era grande e sua casa era próximo dali. Ao entrarem, a residência se transformou em um refúgio de amor e paixão. Beijos, carícias e suspiros preencheram cada cômodo. Entre um toque e outro, Diego parou, seus olhos brilhando como uma criança travessa prestes a fazer travessuras.


— Você ainda pode engravidar? Seria maravilhoso termos mais uma menina... ou quem sabe um menino!


Clara corou, um sorriso tímido se formando em seus lábios. — Diego! — Ela deu um tapinha de leve no ombro dele, a vergonha misturada com a alegria.


Risadas, gemidos e suspiros ecoaram pela casa, enquanto eles se entregavam ao prazer, celebrando o reencontro de suas almas.


 PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E NOVE

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═══ • ◆ • ═══ Uma vida surgiu do caos. ═══ • ◆ • ═══ • Flashback, uma semana depois de descobrir a gravidez • A ideia...

• Vinte e Sete •



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Uma vida surgiu do caos.

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• Flashback, uma semana depois de descobrir a gravidez •

A ideia de ter traído seu namorado tirou o sono de Clara. Se sua mãe soubesse iria dizer "não criei filha assim", era inadmissível. Por isso decidiu terminar com Rodrigo imediatamente quando ele acordou, no dia seguinte à festa de inauguração.

Pensou em Amélia, sua melhor amiga desde que aprendera a andar. Ela conhecia bem a amiga e sabia que se ela abriu seus sentimentos para Diego, era porque o amava de verdade, e então resolveu enterrar seu amor por Diego, tudo pela sua amizade com Amélia.

Ninguém saberia sobre o que acontecera naquele dia, porém um mês depois sentindo sintomas característicos de gravidez, ela faz um teste e confirmou que estava grávida.

Os dias passaram insuportáveis para Clara, ela mal conseguiu se olhar no espelho para pentear os cabelos, se sentia um lixo de ser humano e como foi fazer isso sem se cuidar gerando um filho?

Um filho.

Ele era testemunho do seu amor, e com um estalo no ouvido ela ergueu a cabeça dizendo a si mesma "vou proteger meu amor com a minha vida".

Dias depois Caio pediu para encontrá-la. Ele acabou desistindo de convencê-la a ir para a Europa, pois já não tinha mais argumentos e nada poderia fazer. Então como um gesto de trégua ele a convidou para ir em um parque de diversões no seu último dia na cidade, e ela aceitou.

As luzes do parque no fim de tarde deixava Clara eufórica, esquecendo por um momento de seus problemas. Dizia "uaau" boquiaberta e os olhos mais abertos observando tudo.

Caio com seus olhos brilhantes observava Clara sorrindo e se divertindo olhando os brinquedos girando e os gritos eletrizantes.

— Você gosta de vir aqui? — Era nítida a curiosidade em sua voz, nesse tempo em que conhecera a moça, ele se encantou mais a cada dia.

Clara assentiu vagarosamente, limitou-se a encará-lo apenas quando falou. — Gosto sim, sempre venho aqui quando eles visitam a cidade.

Em meio a gritos estridentes e risadas contagiantes, uma música pop recém-lançada, sucesso nas rádios, tocava nos alto-falantes. Com batida eletrônica e refrão grudento, energizava o parque, fazendo todos balançarem a cabeça e cantarolar. A melodia vibrante e as letras otimistas eram irresistíveis, fazendo todos se entregarem à diversão, tanto jovens quanto adultos.

— Então vamos no carrossel? — O rapaz quebrou o silêncio apontando para o brinquedo todo colorido no meio do parque, os cavalinhos subiam e desciam enquanto seguiam seu caminho.

A moça deu um passo para traz cruzando os braços — Eu acho que não posso ir. — Sua expressão mudou rapidamente para uma preocupada.

Primeiramente Caio ficou confuso e ponderou sobre o que a jovem loira estava querendo recusar. Respirou fundo e perguntou apontando para o letreiro "Carrossel" atrás de si. — No brinquedo ou para a Europa?

Clara desviou os olhos e não respondeu imediatamente, depois de respirar fundo, sentindo-se exausta pela enxurrada de pensamentos, respondeu em um fiapo de voz, olhando para os tênis com o cadarço e bico brancos. — Ambos, eu estou grávida.

Caio, incrédulo, desceu o olhar parando em um reflexo que chamou a atenção. Havia um espelho onde ele conseguia ver a imagem refletida de Clara. Sua expressão sofrida, embora ela estivesse cheia de amor enquanto esfregava a barriga. Ele rapidamente pensou em um plano de ajudar a moça, ele sentiu isso no coração, mas não queria parecer rude ou arrogante.

— Eu posso te ajudar, mas antes preciso saber de algumas coisas. — ela assentiu, ainda com vergonha de o encarar nos olhos — E o pai?

Ela fez que não com a cabeça — é complicado — uma lágrima escorreu até seu queixo, ela nem quis interromper a gota em seu trajeto.

Ele se aproximou da moça com as mãos prontas para acariciar a barriga pouco protuberante enquanto com a outra secou seu rosto. Clara deixou que ele sentisse o fruto que crescia em seu ventre. Ainda tinha medo, mas se sentiu confortada por Caio naquele momento.

— Eu assumo seu bebê! — Parecia imprudente, mas havia muito tempo que ele pensava nisso. — Você vai ter um lar e pessoas para te ajudar e apoiar, mas eu só consigo se você vier comigo. Eu juro que eu e meu pai só queríamos te ajudar pelo seu talento, mas a primeira vez que eu te vi eu me apaixonei, e eu iria usar esse propósito para te convencer a ir, mas vejo que agora é por outra causa.

Surpreendendo Clara completamente, ele tirou uma caixinha de veludo preta do bolso e se ajoelhou na sua frente.

— Clara, aceita casar comigo? — ele abriu a caixinha e um anel solitário discreto com adornos ao redor do aro.

Clara pensou por um momento. Caio esperou. Até por que sabia o peso dessa resposta — Sim, eu aceito.

Com um sorriso radiante, ele beijou a barriga de Clara, como se selasse um pacto de amor. Em seguida, ergueu-se e deslizou o anel no dedo dela, um símbolo de seu compromisso. A caixinha, agora vazia, repousou em suas mãos, enquanto aplausos ecoavam ao redor. Estranhos, testemunhas daquele momento mágico, gritavam em uníssono: "Beija, beija, beija!"

Caio, tomado por um nervosismo súbito, hesitou. As palavras, antes tão eloquentes, sumiram de sua mente. Mas a multidão, como um coro insistente, não os deixaria em paz. Com um olhar silencioso, ele buscou permissão em Clara, que assentiu com um sorriso. A aproximação foi suave, um encontro de almas. O aroma de Clara, doce e inebriante, envolveu Caio, fazendo seu coração disparar. Seus lábios se encontraram em um beijo apaixonado, uma promessa silenciosa de amor eterno.

Clara, transportada para um mundo à parte, sentiu-se envolta em um calor reconfortante. O beijo de Caio, diferente de tudo que já havia experimentado, transmitia sinceridade e segurança. Suas mãos, guiadas por um impulso irresistível, encontraram o ombro e a nuca de Caio, aprofundando o beijo.

Aos poucos, a multidão se dispersou, deixando o casal a sós. O silêncio, agora cúmplice, permitiu que eles se separassem, ainda conectados pela magia do momento.

— Logo vai começar a inchar, você pode guardar o anel na caixinha até voltar ao normal.

— Tudo bem — concordou ela, aliviada de diversas formas. Uma dúvida lhe pousou na mente, franziu o cenho. — Mas como vamos fazer?

— Eu preciso voltar amanhã para resolver umas coisas, meu voo sai cedo. Enquanto isso você pode ir tirando o passaporte e arrumando as malas. Leve o básico, nós compramos o que precisar lá. Meu pai pode te ajudar a conseguir os documentos mais rapidamente.

Com um sorriso fraco, Clara assentiu, a garganta apertada pela emoção. Após um sorvete, Caio a levou para casa, o silêncio preenchido pela melodia suave do rádio.

No calor do lar, Clara compartilhou a decisão de partir para a Europa com Caio. A gravidez e o noivado, segredos guardados a sete chaves, seriam revelados em outro momento. Seus pais, embora com o coração apertado pela distância, apoiaram a filha. Perceberam, com a sabedoria de pais, que a mudança seria um bálsamo para a alma de Clara.


• Tempo atual, dia seguinte ao reencontro no bar de Henrique •

O ar salgado e úmido da ilha, que normalmente trazia paz, agora parecia carregado de uma tensão que deixava Clara inquieta. O clima tropical que antes a aquecia agora a fazia sentir um gélido frio na espinha. Clara acordou com a convicção de fazer as pazes com seu passado, mas a ideia de enfrentar Amélia a deixava nervosa. O coração martelava em suas costelas como um pássaro preso em uma gaiola.

Decidiu que era hora de visitar sua amiga de infância.

Vestiu sua roupa mais comportada e dirigiu até o cemitério. Raios dourados brincavam entre as lápides, iluminando nomes gravados na pedra, como se tentassem apagar as marcas do tempo. A natureza, em sua exuberância, contrastava com a melancolia do lugar. O perfume das flores frescas, o cheiro úmido da terra, o canto dos pássaros ecoava entre os túmulos.

O cemitério, que antes lhe parecia familiar, agora se mostrava como um labirinto de memórias. — Dona Tereza disse que era por aqui, cadê o anjo? Nossa, isso está mais cheio desde a última vez que estive aqui — murmurou, a voz embargada.

Clara inspirou fundo. Passando seus olhos pelas lápides, imediatamente reconheceu o nome e a foto da amiga, um pouco surrada pelo tempo em uma cerâmica na cabeceira de um túmulo de mármore cinza. As lembranças da infância inundaram sua mente: as tardes de brincadeiras, os segredos compartilhados, a promessa de amizade eterna.

Amélia descansava junto da avó, a mesma que as haviam acolhido com doces e histórias quando eram pequenas. Ao tocar a fria pedra, Clara sentiu um nó na garganta e uma onda de saudade a invadiu. Lembrava-se das tardes de risadas, dos sonhos de infância, e da dor da perda.

Uma lágrima solitária escorregou pelo seu rosto, misturando-se com a umidade da grama. As rosas amarelas que havia trazido pareciam murchas em comparação com a vivacidade das lembranças que floresciam em sua mente. Depositou as flores sobre a lápide, sussurrando um pedido de perdão e prometendo nunca mais esquecer a amiga.

A notícia da morte de Amélia a deixou em pedaços. A imagem de Amélia, sorrindo em meio aos destroços do carro, a perseguia em pesadelos. A culpa era uma pedra pesada em seu peito. A vida, que parecia tão perfeita em seu novo lar na Europa, agora parecia vazia e sem sentido.

Se ela tivesse escolhido a amizade em vez da paixão, talvez Amélia ainda estaria viva. Naquele dia chuvoso, Clara se ajoelhou diante do caixão, as lágrimas borrando a foto da amiga. A igreja, onde tantas vezes haviam compartilhado risadas e sonhos, agora era um lugar de luto e tristeza. A fragrância das flores brancas contrastava com a dor em seu coração. A última vez que haviam se visto, naquela noite de verão, Amélia a olhara com um misto de tristeza e raiva. As palavras de despedida ecoavam em seus ouvidos, um lembrete constante de sua traição.

• Flashback, duas horas depois do encontro com Caio no parque de diversões •

O som das ondas se chocando na beira da praia era como o eco das batidas do coração de Clara, aproximou-se da amiga sentada em um tronco oco esfregando as mãos em puro nervosismo.

— Oi Amélia, te chamei aqui porque preciso te contar algo importante. — Clara começou, a voz embargada.

Amélia que fitava o mar, virou-se e percebeu rapidamente que algo preocupava sua amiga, podia ver mesmo sob a penumbra da noite.

— Estou grávida. — A luz da lua iluminava seu rosto, revelando uma mistura de emoções.

— Isso é... — ela pausou, buscando as palavras certas — isso é maravilhoso, Clara. Já contou para o Rodrigo? O que ele disse?

Clara desviou o olhar para a areia em seus pés, buscando coragem para explicar o inexplicável.

— Não... é que... — ela hesitou, as palavras ficando presas na garganta. — O pai do bebê é o Diego.

Amélia congelou, o olhar perdido no horizonte. O vento carregava o sal do mar, mas era a amargura que pairava no ar. 

A cada pergunta seu tom aumentava, a dor cortava sua garganta por dentro. — Você... você traiu o Rodrigo com o Diego? O meu namorado?

Clara assentiu, as lágrimas rolando pelo rosto. — Eu sei que não tenho justificativa. A gente se conhece desde sempre, e eu... eu te amava como uma irmã. Mas deixa eu explicar — tentou segurar com as mãos trêmulas as de Amélia, que se desvencilhou.

Levantou-se bruscamente, a areia cedendo sob seus pés. — Você mentiu pra mim, Clara! Como você pôde? — A raiva em seus olhos era intensa. — Eu sempre te apoiei em tudo, e você me apunhala assim pelas costas?

Não teve a oportunidade de contar sua história, ela nem faria sentido aos ouvidos de Amélia nesse momento.

Clara se sentiu diminuída, insignificante. A praia, que antes era um refúgio, agora era um palco para sua humilhação. — Eu sei, eu sei que não tenho o direito de pedir seu perdão. Só queria que você soubesse a verdade.

Amélia olhou para Clara com olhos que antes brilhavam de amizade, agora obscurecidos pela tristeza. — E agora o que vai fazer? — A voz dela era baixa, mas carregada de uma raiva que cortava como um facão.

Clara engoliu em seco, as palavras presas na garganta. — Eu vou para a Europa, vou começar uma nova vida.

— E o Diego? Ele sabe? Vai continuar com ele? — Amélia afastou-se de costas para Clara, as mãos na cabeça e os cabelos revoltos, um espelho de sua ira.

Clara sentiu um nó na garganta. A ideia de perder Diego para sempre era insuportável, mas a amizade com Amélia era algo que ela nunca imaginou que pudesse perder. — Ele não sabe e não vou contar.

Amélia virou-se para ela, os olhos marejados. — Prometa-me que nunca mais vai procurá-lo.

Clara assentiu com a cabeça, as lágrimas rolando pelo rosto. — Prometo.

As duas mulheres ficaram em silêncio por um longo tempo, cada uma lutando com seus próprios demônios. A praia, que antes era um lugar de felicidade e cumplicidade, agora era um testemunho da dor e da traição.

Amélia caminhou em direção ao mar, uma figura solitária se perdendo na imensidão. Clara ficou ali, sentada na areia, observando a amiga se afastar. A promessa de amizade que haviam feito na infância agora parecia um eco distante, perdido nas ondas do mar.

Em seu quarto, outrora refúgio de sonhos e confidências, Clara desmoronou. As lágrimas, como um rio caudaloso, lavaram a dor da despedida. Os laços com os irmãos, a amiga, a família, os vizinhos, os amigos... tudo se desfazia em um turbilhão de emoções. A solidão, como um manto pesado, a envolvia, sufocando qualquer vestígio de alegria. Exausta, após horas de choro, Clara adormeceu, o travesseiro úmido testemunha silenciosa de sua dor.


• Tempo atual, de volta ao cemitério •

— Desculpe-me, amiga, mas vim pedir sua permissão. A promessa de nunca mais vê-lo, de esquecer nossos sentimentos, acabou junto com você nesse túmulo há muito tempo. — O choro de Clara era livre agora, liberando a dor que a consumia há anos. Ela se ajoelhou diante da lápide, as mãos tremendo. Lembrava-se daquela noite, quando, cega pela tristeza, havia feito a promessa que agora a atormentava. 'Nunca mais vou me aproximar de Diego', havia dito, mas o destino havia traçado um caminho diferente para elas.

O vento uivava entre as árvores, balançando os galhos como braços desesperados. Clara ajoelhou-se diante da lápide de Amélia, a fria pedra transmitindo um arrepio sua pele. A vela, solitária e frágil, desafiava a fúria do vento, sua chama vacilante como um reflexo de sua alma dividida.

Lembrava-se da promessa feita sob a sombra da traição, uma promessa que a havia aprisionado por anos. Mas agora, neste lugar sagrado, sentia que estava livre. A chama da vela, que antes tremia hesitante, começou a brilhar com intensidade, banhando a lápide em uma luz suave. Era como se Amélia, em sua infinita bondade, estivesse abençoando sua decisão.

Agora sentia uma paz estranha. Era como se, ao finalmente enfrentar o passado, tivesse libertado uma parte de si mesma.

PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E OITO

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  ═══ • ◆ • ═══ Um beijo roubado, um amor proibido, um segredo compartilhado. ═══ • ◆ • ═══ Flashback, dia da festa de in...

• Vinte e Seis •

 


═══ • ◆ • ═══

Um beijo roubado, um amor proibido, um segredo compartilhado.

═══ • ◆ • ═══


Flashback, dia da festa de inauguração da Santa Clara Casa de Pranchas


Clara ficou muito aborrecida. Que Rodrigo tinha um lado sombrio ela desconfiava, mas trazer a ex-namorada para a festa de inauguração da loja que ela ajudou a montar, isso ela não tolerava. Sentindo-se desolada caminhou pela areia fofa até a fogueira, o calor das chamas lhe deu certo conforto.


Diego apareceu como água gelada no meio do deserto, ele parecia a conhecer bem, primeiro lhe distraiu da angústia que a consumia por dentro, depois lhe disse coisas doces que a fez se apaixonar uma vez mais por ele, se era possível isso.


— Quer tomar um sorvete? Conheço um lugar que podemos ir agora.


Diego era o irmão inocente, ao contrário de Rodrigo que era astuto e não fazia nada sem um porquê. Mas Clara despertava algo nele um lado protetor e impulsivo, então o rapaz não viu problema em tentar animar Clara. Levou a moça em sua moto até o restaurante que trabalhava mesmo estando fechado e apreciaram o doce gelado enquanto caminhavam na beira da praia.


Clara se sentia livre, porque ela podia ser ela mesma e estando totalmente absorta da realidade ela aproveitou cada momento com Diego como se fosse o último e sem pensar nas consequências.


— Ah! O que? Você vai jogar água em mim? — Clara zombou.


Diego foi pego no flagra se abaixando com as mãos em concha para buscar um pouco da água do mar que beijavam seus pés sob a areia rígida. Soltou uma gargalhada alta. Baixando a guarda, Clara concretizou o plano, como um chute em uma bola invisível, ela lançou gotas da água espumante no rapaz que tentou virar o rosto, mas sem sucesso, sendo atingido.


— Não vai ficar assim! — ela dá um grito e sai em disparada e ele corre tentando a alcançar. Diego a puxa pelo braço e no choque de seus corpos eles se desequilibram e caem no chão juntos.


Eles param a alguns centímetros do outro, os olhos de Clara grudados como imã nos dele. Diego levantou uma mão para alcançar uma mecha loira grudada na testa para poder ver seu rosto melhor. A lua cheia saindo por detrás de uma nuvem, agora brilhava no alto do céu como um farol celestial revelando cada detalhe sob a penumbra.


Deixando-se levar pelos seus instintos, Clara tomou a iniciativa se apoiando no cotovelo e em seguida alcançou a boca dele. Era quente e macia contrastando com a pele fria devido ao vento sul que os envolvia. Encurralado entre a garota e a areia, Diego se entregou novamente e beijou Clara com todo o seu desejo, diferente do beijo de antes na fogueira, impulsivo. Sua razão, entorpecida pelo aroma de Clara, jasmim e baunilha, se desligou incapaz de distinguir o que era certo ou errado, ele só queria aproveitar cada momento com o seu primeiro amor.


— Ah! — ambos gritaram e se levantaram em um pulo ao serem atingidos por uma onda gelada. Com os pés afundados na areia sob a água do mar eles riram, riram alto. Uma alegria genuína.


— Vamos nos secar, ou você vai pegar um resfriado — Diego passou o braço por cima dos ombros a envolvendo em um abraço aconchegante na tentativa de protegê-la do vento gelado.


A poucos passos da praia, chegaram até a casa de Diego, onde a luz da lua não alcançava estava mais escuro, mas Clara não teve medo porque ela tinha Diego com ela, e isso a confortava de diversas maneiras. 


Abrindo a porta com um rangido o rapaz a convidou para entrar deixando os chinelos na porta. Enquanto Diego acendia as luzes dos abajures, Clara andava com cuidado com medo de acordar alguém.


— Não tem ninguém em casa, fica tranquila, vou buscar uma toalha e roupas secas pra você tomar banho e se esquentar.


A moça respondeu baixinho e vagarosamente "tudo bem", enquanto era arrastada para uma memória da última vez que esteve ali na mesma situação. Rodrigo a buscou no meio do horário escolar e estavam sozinhos em casa. Sua mente pura escorregou através de fantasias com Rodrigo que nunca aconteceram, mas ela tinha certeza que era apenas devido a situação, pois o rapaz nunca balançou seu coração antes, ele sempre foi de Diego. Talvez naquela noite do Furacão 2000 os cupidos tenham se atrapalhado e agora tentavam concertar as coisas, Clara tinha certeza.


Clara caminhou pelos corredores até encontrar o quarto de Diego, ascendeu a luz e analisou a decoração que era diferente ao de Rodrigo. A cama estava arrumada e parecia estar sempre assim, pois não estavam amarrotadas, não havia roupas espalhadas pelos cantos e não cheirava a cigarro, como o quarto de Rodrigo.


Alguns posters estavam perfeitamente colados na parede acima da cama e o computador cinza estava coberto por uma capa em cima da escrivaninha de madeira escura e nao havia pó acumulado. Era uma sensação boa estar ali.


De repente, Diego apareceu com as toalhas e tentando conter sua imaginação fértil, entregou uma a garota.


— Aqui, a toalha — seus olhares se cruzaram, exalou. Abriu seu guarda roupa e puxou uma camisa e uma bermuda das pilhas perfeitamente organizadas, fechou a porta do roupeiro e estendeu a ela observando sua reação. 


Como namorada de Rodrigo seria coerente pegar as roupas dele, mas Diego queria provocar a garota, e além disso precisava confirmar se o que ele imaginava e sentia era real.


— Você pode usar o banheiro do corredor, você sabe né?


— Sei sim, obrigada Diego.


Clara entendeu o sinal do rapaz e sem hesitar, agarrou as peças e rapidamente e se dirigiu ao banheiro antes que ele percebesse suas bochechas coradas. 


Diego deu um sorriso satisfeito e se dirigiu ao outro banheiro para se lavar.


Enquanto se despia no box para não encher o banheiro de areia, Clara ponderava seu futuro incerto. Ela era apaixonada por Diego, mas não sabia como dizer isso a ele, afinal ele era o cunhado, mas depois do que aconteceu nessa noite ela tinha uma ponta de esperança e agora pensava em uma maneira de terminar com Rodrigo sem magoá-lo.



• ◆ •


Depois do banho, Clara retornou e aguardou na sala, agora ela vestia as roupas de Diego, o cabelo ela enrolou na toalha parecendo um turbante africano e os pés descalços no tapete. Verificando o grande relógio na parece acima da televisão e constatou que já passava das três da madrugada, mas Clara aguardava tranquilamente pelo rapaz, não tinha pressa alguma em voltar.


Poucos minutos de depois, Diego apareceu no corredor apenas de bermuda expondo um peitoral começando a definir com alguns gomos da barriga já aparentes. Ele esfregava a toalha nos cabelos úmidos em um movimento fluido com os bíceps flexionados e uma expressão relaxada. Com essa imagem Clara sentiu um calor subir por seu corpo e um sorriso brotou em seu rosto.


Diego parou abruptamente, ele esperava que ela ainda estivesse no banheiro e saiu despreocupado, suas bochechas coraram e sua fala saiu travada.


— Hã... você já está pronta. Quer que eu te leve agora? — hesitou por um momento com a toalha nas mãos e o cabelo bagunçado, ele queria aproveitar mais um pouco esse momento com ela, e quis ser gentil, mas Clara tinha seus próprios planos.


Balançou a cabeça negativamente segurando sua própria respiração, ansiosa.


— Primeiro senta aqui — deu batidinhas no lugar ao seu lado no sofá e apontou com o nariz para o rapaz sentar ali, o forte cheiro de sabonete e shampoo lhe atingiu como a primeira brisa da primavera quando ele se aproximou. 


Confuso, ele sentiu um arrepio na espinha, ele temia sua decisão, mas ouviu atentamente cada palavra. — Tudo bem. — apertou a toalha para aliviar a tensão, ele queria passar confiança para que Clara conseguisse se expressar tranquilamente.


— Eu não sou boa com as palavras e tudo parece muito confuso agora. —  deu um longo suspiro de olhos fechados.


— Mas...? — completou tentando encorajá-la, mesmo seu coração dando piruetas. 


Clara respirou fundo, mirou em seus olhos e disse tudo de uma vez, sem pausa:


— Mas eu quero dizer que eu sou apaixonada por você desde que te vi pela primeira vez no corredor da escola. Naquele dia, no Furacão 2000 saiu tudo errado! Eu quase pirei quando encontrei com vocês na praia e me dei conta que...


Diego, por instinto, diminuiu a distância entre eles e a beijou. Um beijo quente e úmido, que ecoava no silêncio da sala. Sabia bem o que ela estava sentindo, a dor da traição, a raiva que consumia por dentro. Sem resistência, Clara se entregou ao beijo, envolvendo os braços em seu pescoço. Os dedos de Diego deslizaram por suas costas, a pele quente e macia sob sua palma. Jogou a toalha no chão e a puxou para si, sentindo o corpo dela se moldar ao seu. O calor entre eles era tão intenso que parecia queimar. Seus olhos se encontraram, um mar de emoções se misturando – desejo, raiva, alívio. Nesse momento, nada mais importava.


Diego passou uma mão por baixo da camisa para acariciar seus seios, esse movimento arrepiou sua pele subindo um calor indescritível. Afastando as almofadas atrás de si, ela deitou em seguida puxando ele para cima, sem desgrudar seus lábios do dele. Essa atitude só o deixou mais excitado, pressionou o membro rígido contra suas cochas.


Clara se entregou completamente ao momento. Cada cantinho do seu corpo experimentava um toque que lhe trazia alguma sensação nova e libertadora. Desligou seu pensamento e se concentrou apenas em Diego, no seu toque carinhoso e seu amor.


— Podemos? — Limitou-se a falar com a voz carregada de desejo. De olhos fechados, Clara arfou e se remexeu quando ele passou a mão entre sua pele próximo ao ventre e o elástico da bermuda. Escorregou-o pelas pernas expondo sua pele macia e alva, havia a presença de alguns pelos crescidos. 


Com um misto de inexperiência e nervosismo, ele abaixou sua própria bermuda em um movimento rápido, expondo seu membro rígido que a penetrou gentilmente.


No começo sentiu uma leve resistência, seguida de um pequeno rasgo. A sensação era estranha, uma mistura de pressão e alívio. Nos momentos seguintes, a intensidade aumentou, e uma onda de prazer os envolveu. Entre o vai e vem e beijos, lambidas, suspiros e afagos, Diego esperou chegarem juntos ao ápice cobertos.


Fitando o teto envernizado, onde a luz da lua criava arabescos misteriosos, Clara sentiu um choque percorrer seu corpo. Com um nó na garganta a culpa a invadia como uma onda, lembrando-a do olhar de sua amiga apaixonado por Diego e do toque carinhoso de seu namorado. Mas, em meio à culpa, um calor a envolvia por dentro. O toque de Diego, a sensação de finalmente estar com o homem que amava, era como um refúgio seguro em meio ao caos.


Observando sua mulher adormecer, Diego sentiu uma pontada de culpa, logo substituída por uma onda de satisfação. A gota de suor escorreu por seu rosto, lembrando-o de que a realidade o aguardava. Mas ele não se importava. Clara era sua, por direito. Era como se tivessem lhe roubado algo precioso, e ele, finalmente, o tivesse recuperado. A sensação era de vingança, de justiça, de um amor que, finalmente, havia encontrado seu caminho.


Com os primeiros raios de sol dourados invadindo o quarto, Diego conduziu Clara até a casa de seu irmão. A ansiedade os consumia, mas sabiam que precisavam esperar até que todos estivessem sóbrios para revelar seus sentimentos. A despedida foi carregada de hesitação, um misto de desejo e apreensão. Radiante, Clara cruzou a porta de casa, levando consigo as lembranças preciosas da noite anterior. Cada toque, cada beijo, cada palavra de Diego estavam gravados em sua memória como um tesouro. 


Ao se deitar na cama, onde deveria ter passado a noite, um turbilhão de emoções a invadiu. Culpa, excitação, alívio... Mas, acima de tudo, um amor que a consumia por completo. Entregue a esse sentimento, ela adormeceu em um sono profundo, sonhando com Diego em um dia de sol radiante, onde seus beijos eram mais doces que o mel e seus abraços, mais quentes que o sol.


PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E SETE

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═══ • ◆ • ═══ Encarar a verdade de frente é algo difícil, mas necessário. ═══ • ◆ • ═══ A noite tropical envolvia a praia e...

• Vinte e Cinco •


═══ • ◆ • ═══

Encarar a verdade de frente é algo difícil, mas necessário.

═══ • ◆ • ═══


A noite tropical envolvia a praia em um manto de mistério. As ondas, quebrando com força na areia, ecoavam como um pedido, e a brisa salgada carregava consigo o perfume do mar e um quê de nostalgia. Henrique, observava aquela imensidão, perdido em pensamentos. Lembrou-se daquela frase antiga: os fantasmas do passado, como ondas rebeldes, insistem em retornar, arrastando consigo os escombros de decisões precipitadas. E era exatamente isso que estava acontecendo.


Há tempos, ele havia enterrado seus próprios problemas, na esperança de que o tempo os apagasse. Mas, assim como a areia que se move com a maré, os fantasmas insistiam em ressurgir, mais fortes a cada dia. Era como se estivesse à beira de um penhasco, e a cada passo em falso, se aproximasse mais do abismo.


Agora, era a vez de Diego. Henrique conhecia bem a dor que seu amigo carregava, a ferida aberta que nunca cicatrizava. Sentiu-se culpado por ter se omitido, por ter preferido ignorar o sofrimento alheio em vez de estender a mão. Afinal, todos carregamos nossas próprias batalhas, mas a empatia é o que nos torna humanos.


— Oh, vocês estão aqui —  Henrique tentou esconder a ansiedade de sua voz em seus passos lentos ao se aproximar de Dominic e Camille, que já estavam de pé prontos para sair.


— Nós estávamos indo ao encontro de vocês — explicou sinceramente com a voz mansa.


— Tudo bem, os amigos de Clara já foram e eu insisti para que ficasse mais um pouco e conhecer a área externa — deu uma piscadela para o filho que rapidamente compreendeu o sinal respondendo com um aceno de curto — ah eu convidei um amigo para se juntar a nós — passou a mãos na nuca nervosamente — , vamos nos sentar nesse quiosque que é maior, vamos, sentem-se em quanto esperamos por ele.


Acomodados no quiosque, as poltronas de vime, macias sob as almofadas, formavam um círculo acolhedor próximo à fogueira. As brasas dançavam e crepitavam, expelindo um calor suave que contrastava com o intenso sol do dia. O cheiro da madeira queimada se misturava ao salgado do mar, criando uma atmosfera única. 


Dalila, a esposa de Henrique, aproximou-se com uma taça em mãos, seus olhos brilhavam de satisfação. Após cumprimentar a todos, sentou-se, exausta mas feliz, pronta para relaxar. O trabalho no escritório, auxiliando Diego na contabilidade, havia sido exaustivo, mas a tranquilidade daquela noite era um bálsamo para sua alma.


Dalila, com um sorriso radiante, bebericou seu vinho branco. Seus olhos, no entanto, não se desviaram das duas loiras que se acomodavam nas poltronas. Clara, com seus cabelos loiros e olhos azuis, e sua filha Camille, de cabelos loiros mais claros e um sorriso contagiante, pareciam irradiar alegria. 


– Essas são as convidadas que mencionei, – anunciou Henrique, fazendo um gesto com as mãos em direção às novas amigas.


– Que delícia estarmos aqui, não é? – perguntou, sua voz suave se misturando ao crepitar da fogueira. Todos ergueram suas taças, brindando àquela noite especial.


Henrique, notando a tensão nos ombros de Dalila, massageou-os suavemente. – Sim, hoje o clima está perfeito! Terminou o fechamento que precisava, querida? – Agradecida, ela se aninhou mais em seus braços, sentindo o calor da fogueira e a tranquilidade do momento.


– Sim, amor, tudo certo! Podemos curtir o fim de ano sem preocupações. – Henrique segurou em sua mão e apertou levemente, mostrando seu amor.


Clara, com sua taça de vinho tinto, brindou com entusiasmo. – Ah, que ótimo que deu tudo certo! Vamos brindar então! – Ela era assim, sempre celebrando as conquistas dos outros, fruto de sua própria experiência como empresária. Lembrou-se da época em que havia começado na empresa do sogro e como a ajuda de seus colegas de trabalho mais velhos havia sido fundamental.


O momento foi interrompido por Diego que chegou abruptamente com um champagne, Henrique sugeriu que ele trouxesse a garrafa mais cara do bar para comemorarem o fim do trabalho.


— Parabéns a todos, mais um ano fechando com ... — o rapaz achou que estariam apenas em família e interrompeu sua fala surpreso ao perceber que haviam outros que aparentemente ele não conhecia, seu sorriso morreu aos poucos e sua expressão se suavizou, sem entender o que estava acontecendo. A cabeleira loira e aquele rosto ao lado do Dominic era familiar, ele até estreitou os olhos forçando a cachola tentando encontrar um nome, sem sucesso, a penumbra não ajudava muito.


No momento em que seu olhar pousou em Clara ele viu todo o ambiente se iluminar como se pequenas lâmpadas tivessem acendido bem em cima dela, eu já falei como ela tinha esse "poder", não é? Pois é, Diego também percebeu e um sorriso sincero apareceu.


— Clara... — de todas as pessoas que poderia aparecer ali, seu primeiro amor era o menos provável, e ela estava bem ali agora.


— Diego... — em sobressalto a moça se pôs de pé automaticamente, descrendo nesse repentino encontro, lutando contra suas pernas que tremiam mais que vara verde, e seu coração que dava saltos em seu peito.


— Tenho certeza de que já se conhecem né? — Henrique tentou enfatizar que era mesmo quem pensavam ser e não uma miragem. 


O rapaz deu um passo à frente, coração palpitante no peito. O doce perfume de jasmim e baunilha, familiar e irresistível, o envolveu como uma névoa. Seus dedos tremiam levemente enquanto se aproximava dela. A maciez da pele dela sob seus dedos o eletrizou. Com um suspiro, ele fechou os olhos e depositou um beijo suave em sua bochecha.


Clara sentiu um frio na barriga misturado a uma explosão de calor. A proximidade dele a deixava nervosa e excitada ao mesmo tempo. Seus olhos se arregalaram levemente ao sentir o toque de seus lábios em sua pele. A penumbra da noite era sua aliada, escondendo o rubor que certamente coloria suas faces.


Seus olhos se encontraram, e por um instante, o mundo ao redor deles desapareceu. Era como se estivessem flutuando em um mar de emoções, a correnteza os puxando cada vez mais perto um do outro.


— Sim... — respondeu Diego, sua voz rouca de emoção. O tempo parecia ter parado. Mal conseguia respirar. Era como se um sonho de anos estivesse se tornando realidade. — Quanto tempo, Clara.


Clara sentiu o coração disparar no peito. O ar parecia rarefeito, e por um instante, ela achou que ia desmaiar. Tantas vezes havia imaginado esse momento, mas a realidade era ainda mais intensa. Por muito tempo, a culpa a impediu de procurá-lo. E agora que ele estava ali, tão perto, ela se sentia exposta, como se estivesse nua diante dele.


Henrique observava a cena com um misto de alegria e apreensão. A conexão entre os dois era evidente, palpável. Tentou quebrar o silêncio, mas as palavras pareciam presas em sua garganta. Ele limpou a garganta e mudou de assunto.


— Mano, essa é a filha da Clara. — havia um brilho nos olhos de Henrique quando ele pronunciou o nome dela, um brilho que Diego conhecia bem. Fez um gesto discreto para Clara se sentar e, com um sorriso tímido, cumprimentou a garota.


— Camille, esse é o Diego, tio do Liam. — Henrique apresentou.


Clara sorriu, mas havia uma certa tensão em seus olhos.


— Oi, prazer, eu sou Camille. — A jovem se aproximou para um abraço. Seus olhos se encontraram com os de Diego por um instante, e um arrepio percorreu sua espinha. Havia algo familiar naquele olhar.


Depois que a emoção inicial do reencontro se acalmou um pouco, Diego, ao lado de Clara, levantou a garrafa de champanhe. Com um sorriso, serviu a todos os presentes. O fio de luz de fada dourado, entrelaçado no pergolado, cintilava suavemente, projetando pequenas estrelas dançantes no teto de madeira. A luz suave e quente refletia nas taças de champanhe, criando um ambiente mágico. 


— E então, pessoal, vamos brindar a esse reencontro! — propôs Henrique, erguendo sua taça. Todos fizeram o mesmo, e o tilintar das taças ao se tocarem ecoava pelo ambiente, acompanhado pelas risadas dos amigos. Clara sentiu um nó na garganta ao ver Diego tão feliz. Os anos pareciam ter se apagado, e era como se eles nunca tivessem se separado.


— Você ainda surfa, Clara? — Henrique perguntou, seus olhos se fixando nos dela. Ele se lembrava de como Caio amava o mar e como Clara o acompanhava em cada onda. — Desculpe se toquei em um assunto delicado.


Clara sorriu, mas seus olhos se encheram de lágrimas. Ela tomou um gole de champanhe, tentando se recompor. — Claro que sim, Henrique. É algo que eu amo e não posso parar com isso. Era uma coisa que Caio não queria também. — Sua voz vacilou por um instante, mas logo se firmou. — Surfo sim, Camille também. Na verdade, eu estava pensando em marcar algo com o Dominic amanhã. O tempo anda tão perfeito!


— Ótima ideia! — respondeu Diego, animado. — Eu adoraria ir também. Quem sabe a gente não revive velhos tempos?


Camille, que até então observava a conversa, se animou: — Eu topo! Já estou até sentindo a adrenalina da onda perfeita.


— E você, Camille? Já pegou alguma onda gigante? — perguntou Dalila, piscando para a garota.


Camille riu. — Ainda não, mas estou treinando! 


— E você, Diego? Ainda é o rei das manobras radicais? — Clara perguntou apoiando a mão no queixo, ela estava realmente curiosa sobre o rapaz.


Diego sorriu e balançou a cabeça. — Acho que a idade não perdoa, mas a paixão pelo surf continua a mesma.


De repente, Clara lembrou como um estalo do momento em que viu sua filha e Dominic se levantando do quiosque todo enfeitado com velas, algo romântico e inesperado. Um nó se formou em sua garganta. Segurando a vontade de perguntar, ela observou os dois jovens com atenção. Camille parecia radiante, seus olhos brilhando de felicidade. Dominic, por sua vez, a olhava com um amor tão intenso que fez o coração de Clara acelerar. Lembrou-se de quando era jovem e apaixonada por Diego.


— Parecia que vocês estavam prestes a nos contar alguma coisa, mas interrompemos, o que vocês queriam nos dizer? — Fez um sinal para o próprio dedo, onde a marca de que havia uma aliança ali ainda era visível. 


Um leve rubor subiu às faces de Camille, enquanto Dominic entrelaçava seus dedos aos dela. Com um sorriso radiante, ele anunciou: 


— Ah pai, mãe e Clara, eu pedi Camille em namoro, agora somos namorados — disse ele todo orgulhoso com um sorriso de orelha a orelha, fez questão de levantar a mão entrelaçada.


— Uau, deixa eu ver essa aliança de perto, que linda escolha, filho — disse sua mãe, surpresa. O brilho do ouro rosa sob a luz das velas realçava a delicadeza da aliança, adornada com dois pequenos diamantes, um para cada um deles. Eu sabia que aquela caixinha azul que você estava guardando era especial. — Ela se voltou para Clara, que sorria com os olhos marejados. — Para nós é algo repentino, mas Clara não parece abalada.


— Eu convivo com esses dois há quatro anos, a gente pesca uma coisa aqui e ali e eu estou satisfeita com a escolha dela, o Dominic é um ótimo rapaz. — Dalila deixou escapar um sorriso espontâneo. Clara, por sua vez, pensava em todos os momentos que havia vivido ao lado de Camille e de Dominic. 


A felicidade da filha a contagiava, mas também a fazia lembrar de seu próprio passado e de todas as alegrias e tristezas que a vida lhe havia proporcionado. Ela olhou para o casal, sorrindo com ternura. "Que a vida os presenteie com muita felicidade", pensou.


O amor estava no ar, palpável e contagiante, e o grupo brindou à felicidade do casal, celebrando o início de uma nova jornada juntos. A noite estava apenas começando, e a surpresa de Dominic havia deixado a todos radiantes. Era o início de uma nova história, escrita com muito amor e companheirismo.


Uma bandeja de madeira rústica foi servida, adornada com conchas cintilantes era um convite irresistível ao paladar. Camarões empanados e dourados, sashimi fresco cortado em finas lâminas translúcidas e ostras gratinadas com queijo e pão de alho perfumado dividiam espaço com uma seleção de bebidas convidativas: caipirinhas de frutas exóticas, mojitos refrescantes e cervejas artesanais. 


Camille, com os olhos brilhando de prazer, segurou seu copo de caipirinha de maracujá. Ao dar a primeira mordida no camarão empanado, seus olhos se arregalaram de satisfação. — Esses petiscos são divinos! — exclamou ela, a voz repleta de entusiasmo. — A combinação do agridoce é perfeita! A crocância do empanado contrasta com a maciez do camarão, e o toque cítrico do molho completa o sabor.


— Nosso cheff é incrível, ele quem faz tudo, desde a farinha para empanar até o molho, ele quem criou e faz tudo, só ele tem a receita e sabe as proporções corretas. — explicou seu, agora namorado, em um tom orgulhoso—, foi realmente muito difícil trazer esse cheff para o restaurante, ele era muito requisitado.


O camarão crocante estalava ao ser mordido, liberando um sabor intenso e suculento. — Esse era o favorito do Diego, não é? — perguntou Clara, sorrindo.


Diego, ainda um pouco perdido em seus pensamentos, assentiu com a cabeça. — Hã, é sim — respondeu ele, meio atordoado. Seu amigo, com um gesto discreto, o cutucou sob a mesa. Ele sabia que Diego tinha algo a dizer a Clara, mas o nervosismo o dominava.


Clara observava a cena com um sorriso nostálgico. Lembrava-se dos jantares com a família dos rapazes, Coronel e dona Cecília e sua melhor amiga, Amélia, quando todos se reuniam em torno da mesa e saboreavam pratos deliciosos sob as estrelas. 


— Clara gostava muito de camarões quando adolescente, e ainda gosta. — afirmou para si mesmo, sua voz suave ecoando no ambiente silencioso por estarem ocupados degustando. Seus olhos se perderam na paisagem, relembrando os momentos felizes que havia vivido na juventude.


Uma lâmpada ascendeu em Camille. Diego, esse homem de olhos intensos que ela ouvia a avó mencionava vez ou outra longe da presença da mãe como se fosse um segredo, estava bem à sua frente. A cada palavra trocada, ela percebia a profundidade da conexão entre eles. A brisa salgada, carregada do perfume das flores, acariciava seu rosto enquanto as chamas dançavam no fogo, iluminando os segredos que estavam prestes a ser revelados.


— É difícil de achar camarões como os daqui na Europa, por isso eu sempre como bastante quando venho para cá, — disse ela, tentando manter a voz firme forçando um sorriso, ela começava a ficar desconfortável com o rumo da conversa.


Diego, que havia bebido de barriga vazia, encarou-a com um olhar intenso. As palavras a seguir saíram de sua boca como um sopro de vento frio. — Por isso você não deveria ter ido embora. — Um silêncio pesado se instalou entre eles. A frase ecoou em seus ouvidos, carregada de um peso que nenhum dos dois estava preparado para carregar.


Clara sentiu o coração acelerar.


Todos os olhos se voltaram para Clara, aguardando sua resposta, ela se sentiu encurralada em um palco sob o holofote. A pergunta de Diego havia sido um soco no estômago, revivendo memórias que ela preferia manter enterradas. Ela sentiu o coração acelerado e uma onda de calor subir pelo rosto. Por um instante, considerou mentir, mas sabia que a verdade viria à tona mais cedo ou mais tarde. Bebeu um gole do seu Martini, tentando ganhar tempo para organizar seus pensamentos.


— Não é? — repetiu ela, forçando um sorriso. — Se eu quisesse continuar comendo esses camarões, eu não deveria ter saído daqui. — Ela deu um tapa leve na testa, mas seus olhos não conseguiam esconder a tristeza, então os fechou por um segundo. — É claro, por que eu sai daqui?


Diego desviou o olhar, sentindo uma pontada de remorso. Ele sabia que havia magoado Clara profundamente e que suas palavras haviam reaberto feridas antigas, uma ferida que ambos tentavam manter escondida. A atmosfera na mesa ficou tensa. Os outros convidados trocaram olhares, percebendo que havia algo mais por trás daquela pergunta inocente.


Camille observou a mãe com atenção, notando a tensão em seus ombros e a forma como evitava o olhar de Diego. Intuindo o desconforto de Clara, perguntou com os olhos: "Mãe, você está bem?" Clara forçou um sorriso em resposta "Sim, querida, estou ótima." No entanto, Camille sabia que algo a incomodava. Deu um leve aperto na mão de Dominic que logo entendeu o recado, bolando uma desculpa rapidamente.


— Vamos fechar a noite pessoal, Camille está ficando cansada, então vou levar ela e a mãe em casa. — se pôs de pé estendendo a mão para namorada se apoiar.


— Gente, que noite adorável, muito obrigada pelo convite, eu adorei esse lugar e as comidas, com certeza se tornou um lugar especial para mim. Vamos mãe?


Clara levantou-se vagarosamente tentando se sustentar sob as pernas bambas, Diego tentou ajudar, mas ela rejeitou. Despediu-se de todos rapidamente agradecendo a noite e que retornariam para a sessão de surfe, Dominic mostrou o caminho para dentro do restaurante lhe oferecendo apoio.


Henrique e Dalila, como um bom anfitrião e mediador, não podia deixar as mulheres irem embora nesse clima e tentou suavizar.


— Amanhã o mar tá prometendo e a gente não pode perder essa! Garanto que a sessão vai ser épica! Tem prancha pra todo mundo!


Diego a chamou, seus olhos encontrando os de Clara por um longo momento. — Podemos conversar depois? — , pediu ele, sua voz rouca. Clara assentiu, seu coração acelerado. Ao sair do restaurante, a noite fria a envolveu como um abraço. Ela sabia que a conversa com Diego seria difícil, mas também sabia que era necessária.


 PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E SEIS •

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