Novela ASCENDENTE

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 ═══ • ◆ • ═══ Tudo na vida um dia passa, e hoje, os dias ruins são apenas capítulos de uma história que me fortaleceu e que mo...

• Trinta e Um •



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Tudo na vida um dia passa,
e hoje, os dias ruins são apenas capítulos
de uma história que me fortaleceu
e que moldará minhas escolhas futuras.

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O som abafado das conversas animadas e os tropeços ocasionais de alguém com uma bebida a mais mal chegavam aos ouvidos de Camille. Acomodada em sua cadeira de praia, o namorado a seu lado era quase uma figura coadjuvante em seu universo momentâneo. Seus olhos seguiam Diego discretamente, enquanto uma corrente de pensamentos a envolvia. Era uma busca silenciosa por respostas, uma intuição crescente de que a verdade, como um rio calmo encontrando o mar, logo fluiria inevitavelmente até ela.


"Diego... meu pai? Impossível!" A frase ecoou em sua mente, confrontando a lógica. Mas a lembrança das palavras da avó sobre o passado de sua mãe a assaltou. A chegada repentina e suspeita de Luana e Rodrigo. Uma ponta de desconfiança a picou. O que ligava aqueles dois irmãos a Luana? E por que o ciúme possessivo dela em relação à sua mãe?


Uma teoria começou a tomar forma, hesitante a princípio: "E se... minha mãe e Rodrigo tiveram algo? Enquanto ele e Luana ainda...?" A possibilidade a surpreendeu pela simplicidade. "Meu Deus... se for isso, tudo faz sentido. Mas Diego... ele ainda é a sombra nessa história."


O pensamento a atingiu com um impacto quase físico, fazendo-a tropeçar levemente. "Ahá!"


— Amor, tudo certo? — A mão de Dominic tocou seu braço com ternura, seus olhos demonstrando genuína preocupação.


— Sim, sim — apressou-se Camille, buscando uma desculpa rápida enquanto seus olhos vagavam para o oceano. — Só... tentei me esticar para ver... sabe... juro que vi um brilho estranho ali! Parecia a barbatana de um golfinho!


Dominic franziu a testa, mas logo relaxou. — Golfinhos por aqui? Não é comum nessa época, mas acontece. Fica de olho e cuida para não cair.


Com um beijo rápido na bochecha de Dominic, Camille se afastou com a desculpa da bebida, a mente já mergulhada em suas próprias conclusões.


"Onde é que minha cabeça estava? Ah, sim! A peça final... mamãe e Diego... uma traição às costas do Rodrigo! Tem que ser isso!" Uma confusão turva seus pensamentos, misturada a uma crescente sensação de choque.


"Mas... se essa for a verdade... tudo que eu vivi... foi baseado em uma mentira?" A figura de Caio surgiu em sua mente, envolta em um brilho de afeto genuíno. Seu amor por elas, sua dedicação... um nó se formou em sua garganta. Uma súbita sensação de perda a invadiu, como se algo fundamental tivesse sido arrancado de dentro dela.


Então... a mamãe enganou o Caio durante todos aqueles anos? Ele sequer suspeitou da verdade antes de..." A frase ficou inacabada, dolorosa demais para ser completada.


Camille sentiu um nó se apertar em seu estômago, uma mistura fria de confusão, choque e a crescente e incômoda sensação de não pertencer à própria história. Aos poucos, como fragmentos de um espelho quebrado se rearranjam, as conversas fragmentadas e as pistas soltas começaram a se encaixar, formando um quadro perturbador que a deixava com a respiração presa.


Engolindo em seco a súbita ansiedade, pediu licença ao seu grupo com um sorriso forçado que não alcançou os olhos e marchou determinada em direção à sua mãe. Clara conversava animadamente com Dalila, o riso vibrante contrastando com a quietude tensa que se instalava em Camille a cada passo. Diego estava ao lado, um observador silencioso.


— Mãe — a voz de Camille saiu mais firme do que ela esperava —, você e o Diego... vocês eram muito amigos antes de conhecer o papai, não eram?


O som das risadas ao redor pareceu se abafar, como se o próprio ar prendesse a respiração. O sorriso de Clara se esfacelou, a alegria em seus olhos dando lugar a um brilho fugaz de pânico. Seus lábios se separaram levemente, como se uma palavra proibida estivesse prestes a escapar. Seus olhos, antes fixos nos de Camille, desviaram por uma fração de segundo para Diego, que paralisou o movimento da mão ao erguer o copo. Ele apenas acenou positivamente, um olhar calmo e carregado de uma promessa silenciosa, um fio de apoio que, ironicamente, intensificou a confusão no peito de Camille.


Camille observou a máscara de normalidade escorregar do rosto de sua mãe. Aquele breve vacilo no sorriso, o desvio de olhar... tudo gritava uma resposta não dita. Antes que pudesse insistir, Clara tomou a iniciativa, sua mão encontrando com a dela, entrelaçou seus dedos nos de Camille e a conduziu suavemente para um canto mais isolado na areia, longe do barulho da festa. — Precisamos conversar — murmurou, o tom de voz hesitante, quase inaudível.


Elas pararam, agora uma de frente para a outra, os olhos fixos.


— Filha, — seu tom era cauteloso e apreensivo, sua voz, apesar do esforço para manter a compostura, vacilava, as palavras escapando hesitantes — eu queria muito te contar isso há muito tempo e aqui nesse momento não era exatamente o que eu estava planejando, mas... — Clara desviou o olhar para o lado por um breve instante, como se as palavras cruciais estivessem flutuando invisíveis no ar, tentando capturá-las — ...eu precisava concertar algumas coisas antes disso e por isso demorei demais. Eu preciso que me escute agora, com o coração aberto, filha.


— Camille, antes de tudo eu quero que saiba que seu pai sempre te amou profundamente — uma lágrima solitária cintilou em seu rosto antes de cair, silenciosa. Ela jurou proteger seu bebê desde que descobriu que estava gravida e Caio a apoiou em todas as suas decisões sem piscar.


Comovida, Camille segurou as mãos trêmulas de sua mãe, seus próprios dedos apertando-as em um gesto de apoio.


Comovida, Camille segurou as mãos trêmulas da progenitora, os seus próprios dedos apertando as dela em um gesto de apoio.


— Sim, mãe, eu sei... Eu sempre soube o quanto o pai me amou, o quanto ele nos amou. O seu carinho nunca me deixou dúvidas sobre o lugar que eu ocupava no coração dele.


Clara respirou fundo, umedecendo os lábios antes de prosseguir. — Mas acontece que... o Diego é seu verdadeiro pai...


Um breve silêncio se instalou, carregado de uma compreensão que já florescia em Camille. — Eu sei, mãe. Eu já desconfiava... as coisas que a vovó me contou, a chegada do Rodrigo... as peças foram se encaixando. Ouvir você dizer agora... torna tudo mais concreto.


Lendo as expressões à distância e imaginando que a conversa se prolongaria, Diego se aproximou discretamente. Ele deu uma desculpa para que ninguém as incomodasse e trouxe cadeiras de praia e toalhas para que não sentissem frio, pois o clima estava virando e trazendo um vento gelado.


Camille observou seus movimentos. Ela começou a notar algumas semelhanças: o modo como ele segurava as cadeiras e as toalhas, a forma de seus dedos. Quando ele colocou a toalha por cima dos ombros de Camille, seus olhos se encontraram por um instante. Nesse breve contato, Camille notou uma pequena marca escura em sua bochecha, logo abaixo da orelha: uma pinta em forma de coração, igualzinha à sua. Naquele olhar, Camille sentiu amor e acalento, tudo o que ela precisava naquele momento. Diego sorriu suavemente e se afastou, para que mãe e filha pudessem continuar sua conversa em particular.


— Eu sei que tudo isso parece um nó na sua cabeça, meu amor, mas se você ouvir a minha história, entenderá que cada passo, cada decisão, foi tomada com a melhor das intenções, da forma que eu acreditei ser a mais segura, buscando proteger você acima de tudo. Há algo que nunca contei para ninguém, nem mesmo para Diego... — Uma expressão de intensa curiosidade surgiu no rosto de Camille, misturada a um afeto crescente. Ela apertou a mão da mãe, ansiosa por ouvir mais. — ...quando eu era mais jovem, tinha um costume bobo de fazer pedidos às estrelas. E uma noite, com o coração cheio de um amor muito especial, eu pedi uma filha, uma menina que fosse fruto desse amor. E olhando para você hoje, Camille, às vezes sinto que aquela estrela cadente realmente ascendeu o meu pedido e me deu você.


E assim, Clara mergulhou nas lembranças, contando sua história desde o início. Camille permaneceu em silêncio, absorvendo cada detalhe, o calor de suas mãos unidas um conforto silencioso. Para Clara, compartilhar aquela verdade era como libertar um peso sufocante, uma nudez emocional necessária para construir uma nova base com a filha. Ela sentia, com convicção, que era o momento de clareza.


— Por que guardou isso de mim? — A voz de Camille embargou, e duas lágrimas teimosas escaparam, deixando um rastro brilhante em seu rosto. "Minha história... incompleta por tanto tempo." — Eu tento compreender, mãe, as razões que te levaram a isso... mas essa omissão me fez sentir como se eu vivesse em um palco, interpretando um papel sem conhecer o roteiro verdadeiro. — As mãos de Clara emolduraram seu rosto, a preocupação vincando suas feições enquanto seus polegares carinhosamente secavam as lágrimas. O abraço que se seguiu foi um refúgio, um porto seguro onde Camille buscava alívio para a confusão que a consumia.


— Meu coração se aperta por ter esperado tanto para te contar, meu amor — sussurrou Clara, afastando-se para olhar nos olhos da filha, um gesto de ternura ao livrar seus cabelos do emaranhado.


— Eu te amo, mãe. E quando olhei para Diego... havia algo ali... uma bondade silenciosa em seus olhos. Sinto curiosidade em conhecê-lo. "Talvez ali eu encontre respostas... talvez um elo perdido." — Camille limpou as lágrimas persistentes, sentindo o sal em seus lábios. — O amor que dedico ao pai Caio é eterno, um farol em minha vida. Meu amor por você também é inabalável. Mas estou pronta para desvendar essa nova parte da minha história. Preciso de tempo para entender tudo... mas estou aqui. E desejo, mais do que tudo, que encontremos a paz juntas. — Com um pequeno sorriso trêmulo, Camille fortaleceu o aperto na mão da mãe.


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O sol começava sua lenta descida, pintando o céu com tons alaranjados e rosados. A brisa antes quente ganhava uma leve friagem, anunciando o fim de mais um dia à beira-mar. Diego se aproximou de Clara e Camille, que ainda estavam abraçadas, a conversa fluindo em um sussurro íntimo.


— Ei, meninas — disse ele, a voz suave para não quebrar a atmosfera delicada. — O pessoal combinou de subir, tomar uma ducha para tirar o sal e a areia, e depois voltar para o bar para petiscar alguma coisa.


Clara se afastou um pouco de Camille, um sorriso terno nos lábios. — É verdade, já está ficando mais fresco.


Diego olhou para Camille, um calor nos olhos que ela começava a reconhecer. — E eu estava pensando... se vocês quiserem, podemos ir até a minha casa. É mais tranquilo, podemos pedir algo por lá e continuar conversando com mais privacidade. O que acham?


Camille olhou para a mãe, que assentiu com um pequeno sorriso encorajador. Uma curiosidade genuína a invadia. — Eu gostaria, Diego.


O caminho até a casa de Diego foi curto, mas carregado de uma expectativa silenciosa. Ao chegarem, Camille observou o lugar com atenção. Era uma casa aconchegante, com uma varanda convidativa repleta de plantas e uma decoração que misturava elementos náuticos e modernos, com toques pessoais que denunciavam um espírito acolhedor.


— Que casa linda, Diego! — exclamou Camille, admirando um quadro com uma fotografia de uma onda perfeita.


— Eu adorei também — disse Clara entusiasmada, mas lembrou do motivo de sua distração anterior, quando ela e Diego estavam aos beijos e se agarrando, e abaixou o tom de voz em um sussurro, mais para si mesma — mas não havia reparado muito na decoração na primeira vez que estive aqui...


Diego, que ouviu o comentário de Clara, lançou-lhe um olhar rápido e travesso, um sorriso divertido dançando em seus lábios como uma piada interna compartilhada. No entanto, ele rapidamente direcionou sua atenção de volta para Camille, para que a filha não percebesse a troca de olhares significativa. — Obrigado, Camille. Eu gosto muito daqui. Foi meu refúgio por muitos anos.


Já acomodados na varanda, com o som suave do mar ao fundo, enquanto Clara foi ao banheiro para seu banho, Camille se sentiu à vontade para iniciar a enxurrada de perguntas que borbulhavam em sua mente.


— Então... Diego... — começou ela, a voz um pouco hesitante no início. — Como... como tudo aconteceu? Quero dizer, entre você e a minha mãe? Quando vocês se conheceram?


Diego suspirou levemente, um sorriso nostálgico curvando seus lábios enquanto seu olhar se perdia brevemente em memórias. — Nos corredores da escola, Camille. Clara sempre foi uma mulher incrível, desde aquela época. Nos conhecemos há muito tempo, antes mesmo de Caio e meu irmão, Rodrigo, entrarem na vida dela. Eu me lembro como se fosse ontem. Clara e as amigas dela estavam indo para a biblioteca, ela estava pesquisando para um projeto de arte que estava desenvolvendo, algo sobre a história das cores...  Nossos olhares se cruzaram por um instante. Foi rápido, mas... marcante. As amigas dela, espertas como sempre, perceberam o clima e deram um jeito de nos juntar para conversar no intervalo. 


A curiosidade de Camille se intensificou. — Então, depois que vocês se separaram... você chegou a procurá-la? Tentou... sei lá... reatar?


Diego suspirou novamente, um traço de melancolia em seu sorriso. — Sim, Camille. Depois que terminamos, houve um período... difícil. Eu sentia muito a falta dela. Quando soube que as coisas não estavam indo bem entre ela e Rodrigo, eu a procurei. Fui sincero, disse que ainda a amava e que, se ela decidisse terminar o relacionamento com ele, eu estava disposto a ficar ao lado dela, a construir algo juntos.


Clara, que ouvia atentamente, tomou a palavra com uma seriedade suave. — Eu me lembro disso, Diego. E eu fui muito clara na minha decisão. Embora houvesse um carinho muito grande entre nós, as circunstâncias... as coisas tinham se complicado de uma forma que me fez sentir que precisava me afastar. Minha escolha foi seguir um caminho diferente.


A atenção de Camille voltou-se para a mãe, absorvendo essa nova informação. Havia uma complexidade nas relações que ela não era capaz de desvendar.


Camille assentiu, o olhar fixo em Diego, buscando respostas em cada linha de seu rosto. Havia uma conexão ali, um laço invisível que ela começava a sentir, mas que ainda era nebuloso.


— E o futuro? — perguntou Camille, a mente já divagando sobre as possibilidades. — Isso muda tudo, não é? O que vamos fazer agora? Vamos ser... uma família? Morar juntos?


Diego olhou para Clara, buscando apoio. Havia uma ternura silenciosa na troca de olhares.


— Estamos todos juntos nisso, Camille, o que for decidido será feito, não quero deixar ambas desconfortáveis, mas também não quero abrir mão de vocês — respondeu Diego, a voz firme, mas carregada de emoção. — Vamos descobrir juntos qual será o nosso futuro. Há muitas perguntas a serem respondidas, muitas conversas a ter. Mas o mais importante é o aqui e agora.


Camille apertou a mão de sua mãe e a outra livre a mão de Diego, sentindo um misto de apreensão e uma estranha sensação de pertencimento. O futuro se apresentava como um quadro inacabado, esperando os traços únicos de cada um para compor uma nova imagem familiar. As respostas para suas inúmeras perguntas seriam descobertas à medida que essa nova e surpreendente fase de sua vida fosse preenchida.


 PRÓXIMO CAPÍTULO:

• TRINTA E DOIS •

◆ FINAL ◆

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