Prólogo - ASCENDENTE

O céu da pequena cidade praiana estava sem nuvens naquela noite e Clara olhava atentamente a cada pontinho cintilante naquele mar de esc...

═══ • ◆ • ═══ A linha tênue entre amor e amizade e se chama caos. ═══ • ◆ • ═══ N a manhã seguinte Amélia se arrumou preguiçosamente para as...

• Dezessete • ASCENDENTE


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A linha tênue entre amor e amizade e se chama caos.

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Na manhã seguinte Amélia se arrumou preguiçosamente para as aulas, ela ainda estava chateada com a descoberta na tarde anterior. Ela não era tão inocente assim como pensavam e já imaginava que algo estava acontecendo e não ficou surpresa quando Rodrigo, em poucas palavras, disse que também desconfiava dos dois. Era muita falta de noção da parte deles transparecer assim na frente do irmão. Com a mesma animação pegou suas coisas e foi para a escola, mas encontrou Clara no portão.

— Olha, não sei o que você pensou sobre o que o Rodrigo disse ontem, mas eu não sabia que teria mais pessoas, achei que ia ser um encontro só nos dois. Se eu soubesse, com certeza teria te chamado para ir junto.

Amélia conhecia tanto a amiga que sabia o quanto ela estava chateada com a situação, mas foi sincera em cada palavra e daria uma chance para a amizade delas.

— Tudo bem — começou tentando segurar a ansiedade — mas quero que me conte como foi tudo, desde o almoço até de noite!

— Claro!! Sempre te conto tudo!!

Toda conversa com a cabeça fria tende a render mais, Clara estava doida para esclarecer as coisas com a amiga, mas o medo de falar algo que a adrenalina pudesse distorcer, preferiu tentar acalmar seus próprios pensamentos primeiro e aguardar até a manhã seguinte. Mais tarde descobriria porquê Rodrigo agiria dessa maneira, o que o deixou com tanto ciúme.

Chegando na sala de aula as amigas se sentaram em seus lugares e chamaram seus amigos para conversar.

— Tá, me conta como que foi o fim de semana de vocês?

— Foi uma loucura! Deixa eu contar para vocês ...

Amélia estava feliz pela amiga, mas não podia deixar de sentir uma ponta de inveja, a reação de Diego no dia em que ele próprio foi pedir ela em namoro não sai da sua cabeça.

— Ok, mas agora me mostra o que você queria mostrar.

— Ah sim, tenho algumas ideias para a casa de pranchas do Ro, olhem — ela disse pegando um caderno de desenho da mochila e colocou em cima da sua mesa.

Dough foleou algumas páginas antes de elogiar a amiga.

— Adorei, são tão incríveis! Tem algum colorido?

— Tem sim — disse ela passando algumas folhas para frente e apontou com o dedo — a partir daqui.

Os desenhos tinham os elementos do mar como peixes, golfinhos, tartarugas, gaivotas, conchas, areia céu e mar, âncoras enferrujadas, palmeiras, pôr do sol. Nas cores levavam desde tons pastéis com linhas mais finas e delicadas, como os desenhos em tons mais escuros e linhas mais marcantes. Ondas quebrando, tubular, de todos os tipos e não podia faltar o hibisco havaiano.

— Esse da tempestade é meu favorito, posso ficar com esse?

— Oras, porque gostou dele?

— O caos pode ser admirado se visto por uma perspectiva diferente. — Insistiu — posso ficar com ele?

— Tá, fica pra você! — pegou o caderno e rasgou a folha com o desenho e entregou ao amigo.

— Vai ficar tão lindo na minha parede, vou emoldurar!

Clara ficou orgulhosa de si por perceber que seus amigos gostaram dos seus desenhos, ela realmente tinha talento e gostava de desenhar, mas ainda era muito insegura.

— Depois da aula vou mostrar pro Ro, acham que ele irá gostar?

— Amiga, ele vai amar!

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Tocando o sinal para encerrar as aulas, Clara se juntou aos seus amigos para ir embora, rua após rua foram se despedindo conforme chegavam perto de suas casas, as últimas eram Clara e Amélia.

— Eu vou descer até a praia para ir na casa do Ro, quer vir comigo?

— Não, eu preciso ir pra casa, quem sabe outro dia.

— Estou te achando estranha quando falo dos irmãos, você e o Diego estão bem?

— Estamos sim, eu só tenho coisas para fazer mesmo, obrigada por se preocupar e pode deixar que eu vou te contar tudo se algo acontecer — mentiu para a amiga, mas como não faria se ela era o motivo do seu desapontamento com o namorado?

— Acredito em você, passo na sua casa mais tarde para fazer aquele trabalho!

— Tudo bem, até mais tarde, amiga!

— Até mais tarde — Amélia se despediu e seguiu a rua à sua frente, enquanto Clara virou à esquerda na rua de Rodrigo.

— Olá, alguém em casa? — gritou Clara do portão, não viu nenhuma movimentação na casa e não queria entrar sem ser convidada, porque ainda era a casa de um rapaz.

— Entra aqui cunhada! — ouviu a voz de Diego da cozinha lá trás.

Clara entrou no portão e enquanto dava passos lentos várias coisas passavam pela sua mente.

Onde estaria Rodrigo? E porque o cunhado estava ali a essa hora?

— Bom dia, Diego — cumprimentou o rapaz timidamente e o aroma do almoço que ele preparava chegou as suas narinas e fez seu estômago se revirar, ela estava faminta.

— Bom dia, Clara. — o rapaz respondeu sorridente tirando o olhar das panelas apenas para a cumprimentar — Meu irmão está no banho, mas sente aqui enquanto isso. O almoço está quase pronto.

Por um momento se sentiu nervoso, tinha tantas coisas que queria falar com Clara, mas com seu irmão por perto sabia que seria difícil ter uma conversa franca, e isso só o deixou mais ansioso.

— Tudo bem, eu ponho a mesa — disse indo em direção para lavar as mãos na pia, Diego lhe estendeu a toalha.

— Como foi a aula? — o rapaz perguntou parecendo que apenas queria puxar conversa, mas ele realmente estava interessado no que a garota fazia.

— Foi legal, eu fiz uns desenhos para a loja do Rô e mostrei para os meus amigos e eles gostaram bastante, então resolvi vim mostrar para ele.

Rodrigo, que estava no banheiro, desligou o chuveiro e ouviu a voz da namorada, pensando em provoca-la, resolveu ficar apenas de shorts e sem camisa. Abriu a porta devagar para não rangir, mas algo firmou seus pés no chão e ele parou no batente para ouvir os dois por um momento até que decidiu sair sem falar nada enquanto esfregava a toalha no cabelo úmido. O cheiro de banho tomado tomou o ar do ambiente chamando a atenção de Clara que olhou para trás de si seguindo o cheiro.

— Rodrigo! — a moça deu um pulo da cadeira na direção do rapaz ao vê-lo parado.

— Você trouxe desenhos para mim? — perguntou a fitando para ver sua reação afirmando que de fato estava ouvindo a conversa.

— Sim e umas ideias de logo para a placa também — respondeu orgulhosa.

— Mas primeiro — Diego chamou a atenção do casal que parecia terem entrado em sua bolha e esquecido completamente de tudo ao redor deles — vamos comer agora.

— Vamos comer, estou morrendo fome, e você Clara?

— Eu também.

— Tive uma ideia para o nome da casa de surf — Rodrigo aproveitou o silêncio enquanto se serviam.

— Hum? E qual é? — Diego perguntou curioso.

— "Santa Clara Casa de Surf" em letras grandes e embaixo um pouco menor "Pranchas Artesanais". O que acham?

Diego interrompeu sua garfada para alfinetar o irmão.

— Você nem é religioso — debateu — porque um nome que começa com "santa"? — Diego parecia intrigado, ele conhecia o irmão e sabia como pensava, mas quando se tratava de Clara parecia ter um abismo entre eles.

— Uma coisa que a Dona Maria, mãe da Clara me contou naquele almoço de domingo, quando deu uma tempestade muito forte e ela ainda gestava a minha namorada, ela orou, sendo uma mulher de muita oração, e orou "Santa Clara, clareai" pedindo para que a torrente se dissipasse e a Clara que estava agitada com o barulho se acalmou no ventre.

— Essa é a origem do seu nome então, Clara? — Diego ficou surpreso tanto pela história quanto por Rodrigo lembrar disso e pensar em algo do tipo.

— Verdade, verdadeira, foi isso mesmo que aconteceu — respondeu sorrindo orgulhosa de si e do namorado por lembrar de algo fora de sua realidade, Clara bem sabia das coisas que ele fazia e tão pouco ia na igreja.

— Interessante, eu gostei. — Diego se limitou a dizer e abocanhou a comida do talher.

— Já que decidimos o nome, podemos começar a pintar, o que acha?

— Acho uma ótima ideia, vamos fazer depois de almoçar.

Diego comeu rapidamente sua refeição e saiu de soslaio dizendo que precisava ir trabalhar, mas na realidade era doloroso para ele ficar entre os dois daquela forma. Então só deixou o casal terminar sua refeição a sós, embarcou na sua moto e acelerou até o restaurante que trabalhava.

— Deixa que eu arrumo aqui na cozinha, suas mãos são muito habilidosas para a louça.

— Uhh gostei disso, vou pegar meu caderno para te mostrar o que eu já preparei — Clara estava animada, pegou sua mochila pendurada no encosto da cadeira e seguiu Rodrigo até a sala que agora era a loja.

— Tudo bem, vou te mostrar as tintas que chegaram, são perfeitos para os seus desenhos.

Ele pegou algumas latas de tinta aleatórias da pilha no canto da sala e forçou a tampa com uma chave de fenda revelando o seu interior, as cores eram vibrantes e modernas. Rodrigo viu o brilho nos olhos da garota.

— Sim, vão ficar incríveis — disse atônita.

Clara começou a rascunhar em seu caderno uma placa para a logo com o nome e os desenhos que Rodrigo escolheu, enquanto ele preparava algumas tintas e começam a pintar juntos. Nesse clima leve e descontraído Clara pode perceber que Rodrigo tinha um bom lado artístico a ser explorado.


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