Prólogo - ASCENDENTE

O céu da pequena cidade praiana estava sem nuvens naquela noite e Clara olhava atentamente a cada pontinho cintilante naquele mar de esc...

═══ • ◆ • ═══ A ajuda sempre vem de menos imaginamos. ═══ • ◆ • ═══ D irigindo para longe da escola, Rodrigo sabia que tinha feito tudo cert...

• Dez • ASCENDENTE

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A ajuda sempre vem de menos imaginamos.

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Dirigindo para longe da escola, Rodrigo sabia que tinha feito tudo certo e era óbvio que a moça — agora mulher — havia gostado do que tinha acontecido. Era assim com Luana, quanto mais ela dizia "não", mais seus olhos gritavam "sim", e a relação dos dois era baseada nisso, e ele achou que seria assim com Clara também, certo? E foi com essa dúvida que ele parou o carro em frente à calçada da nova casa de Henrique. Com a poupança que ele vinha juntando desde os quinze anos ele e suas irmãs puderam se mudar para uma casa nova e maior.

Rodrigo entrou pela porta da frente e encontrou seu amigo na sala de tv contando um bolo de notas de cinquenta reais que vinha do fechamento das vendas da última temporada, Rodrigo sentou em um sofá branco e espaçoso à frente do amigo.

— Não sei o que aconteceu, mas você me parece muito bem — Henrique disse sinceramente espiando rapidamente — conseguiu o que tanto queria com aquela moça?

— Consegui sim, e me pareceu que ela também estava afim.

— Isso é bom, mas e a Luana? — Henrique recontava a pilha tentando não desconcentrar.

— Eu vou terminar com ela — disse decidido sacando um cigarro e colocando entre os lábios para ascender com o isqueiro — você por acaso a viu essa semana?

— Estive ocupado, me desculpe. — passou um elástico nas notas que contou e jogou na mesa com o restante.

— Tudo bem, falo com ela depois. Trouxe seu carro, obrigada por me emprestar — deu uma tragada longa e soltou a fumaça.

— Os negócios deram mais lucro que o esperado, e eu quero investir em algo, parar com essa vida — Henrique apoiou os cotovelos nos joelhos para parecer mais próximo — e eu sei que você precisa de um emprego.

— E o que tem em mente, sabe que estou com você.

Rodrigo ouviu atentamente o plano do amigo de abrir um negócio dentro da lei e achou muito convidativo, ele não tinha muitas habilidades, mas cuidar de uma casa de pranchas na beira da praia seria uma ótima ideia. Toda a costa do litoral de Cerca Grande ficava dentro de uma enorme baía, ao norte da cidade a água do mar beijava a encosta rochosa e formava um berço de muitas iguarias em restaurantes como o qual seu irmão trabalhava, como camarão, ostras e mexilhões. Ao sul a praia tinha uma faixa de areia mais extensa, ótimo para turistas, e bem ao centro as ondas que vinham do oceano batiam em um recife de corais chegando até três metros acima do nível do mar, onde muitos se aventuravam na prática do surf. Havia um universo a ser explorado ali e ele decidiu fazer parte disso.

— Pode contar comigo, amigo!

— Ótimo, fico muito feliz, — disse recostando no sofá — eu preciso de pessoas de confiança, e quem melhor que meu fiel amigo? Sabe de uma coisa, fica com o carro pra você.

— Cara, você ama esse carro, porque me daria?

— Pra você saber o quanto você é importante pra mim e o quanto confio em você, e vai precisar de um carro.

Rodrigo não precisava desse gesto, mas ele bem precisava do carro e do emprego, então aceitou e não ficou parado. Fecharam acordo em sessenta por cento para Henrique e o restante para Rodrigo, então agradeceu ao amigo e saiu dali decidido a procurar um local adequado e fornecedores para seu negócio. Dirigiu até a praia que ele tinha em mente para averiguar os imóveis que estavam disponíveis e negociar um valor, pois cidade pequena tinha suas vantagens e ele usaria a seu favor.

Rodrigo estava tão ansioso que nem conseguiu parar para almoçar, caminhou por toda a orla sob o céu azul e o sol escaldante, ia e voltava, observando o mar e as casas, seus dedos dos pés já brigavam por espaço com a areia dentro do seu tênis all star preto e sua pele já ardia onde a camiseta preta não tapava, mas depois de muito analisar encontrou o que procurava. Encontrou uma casa em meio termo entre modesta e praiana e ela se localizava perto de um quiosque que ele sabia que ficava aberto o ano todo, perfeito para o seu negócio, já que não tem tempo ruim para surfar.

As grandes portas janelas frontais lhe daria um ar convidativo a quem passasse na areia e as folhas fixas de vidro seriam ótimas vitrines. Ali mesmo havia um amplo espaço com a ajuda do pé direito alto e da decoração praiana de madeira dos palanques com as paredes brancas que seria usado para a loja onde ele exibiria os modelos prontos para venda e também os materiais a escolha do cliente para ser feito sob encomenda. Rodrigo podia ver o ambiente já com os móveis e os clientes entrando e saindo sob um dia quente para praia, tudo direto de sua mente.

O restante da casa ele deixaria restrito para os clientes, pois já tinha em mente em morar ali, quem sabe Clara aceitaria morar com ele? O rapaz sonhava alto, às vezes.

Antes de visitar o proprietário, que ele bem sabia quem era e onde morava, vistoriou por conta própria a residência e constatou que não precisava fazer muita coisa para começar. Dirigindo até a casa do senhor o encontrou na varanda de casa sentado em uma cadeira de balanço usando roupas leves e tomando um refresco.

— Olá, senhor Benedito, boa tarde.

— Boa tarde jovem, você não é o filho mais velho do Coronel Silva?

— Sou sim, me chamo Rodrigo.

— Entre rapaz, saia desse sol, tome um refresco comigo.

Rodrigo obedeceu o senhor que tinha a pele castigada pelo tempo que trabalhou no mar durante quase a vida toda. Entrou no terreno sem muro ou portão pela tranquilidade da vizinhança, se aproximou do velho para o cumprimentá-lo estendendo a mão e não fez muita cerimônia, já era perto das duas e o rapaz não tinha almoçado ainda.

— O senhor tem um imóvel na beira mar e que seria perfeita para um negócio que estou querendo por ali. Sei que é residencial, eu certamente pretendo morar ali depois de firmar o negócio, mas primeiramente seria meu trabalho.

O homem o ouviu atentamente pensando se valia a pena o que o rapaz o propunha, tanto para si quanto para o próprio rapaz.

— Ouvi uma voz diferente, quem está ai com você, meu velho? — Sua senhora saiu pela porta usando um avental na cintura, um cheiro delicioso de bolo de chocolate a seguiu até ali.

— Oh minha velha, esse é o filho do Coronel e da dona Cecília, lembra dele?

— Claro, lembro sim, como vai querido? — Ela sorriu ao lembrar do rapaz maior de como estava em sua lembrança, mas os traços eram memoráveis.

— Como vai senhora? Eu vou bem.

— Ele quer alugar nossa casa de veraneio para por um negócio e depois morar ali. O que você acha meu bem?

— Mas eu acho que você está na idade de casar e ter sua vida mesmo, eu acho bom, aquela casa ninguém mais quer morar, os turistas vão para o sul ou pra ilha e nem querem mais aproveitar as nossas praias.

— Mas sabe que não posso alugar pelo mesmo valor de um veranista, não é? Porque o seu negócio vai lhe render.

— Claro, são negócios.

Por consideração ao seu pai o velho fez um valor com desconto nos primeiros meses até ele abrir seu negócio, e posteriormente a esse período cobraria o valor integral, em um acordo de um ano, depois disso, renovariam o contrato ou não, decidiriam quando a data chegasse.

Depois de tratar com o proprietário o aluguel, Rodrigo pegou sua bolsa de cintura com zíper no banco de trás do carro prata, tirou o bolo de notas que ganhou de Henrique quando estivera na casa dele mais cedo e pagou o velho como sinal do acordo.

Com as chaves nas mãos foi atrás dos materiais que precisava para começar um pequeno estoque do que seria seu mostruário.

A pergunta que não queria calar: Rodrigo sabia como fazer uma prancha? Claro que sim, ele aprendeu com seu pai e a própria prancha que ele usava foi ele mesmo quem fez, disso ele entendia com certeza.

Sua paixão pelo surf vinha antes mesmo do rock, quando era pequeno e ia à praia com seu pai para vê-lo surfar, quando ele o ensinou tinha pouco mais de cinco anos. Passava muito tempo vendo seu pai trabalhar em sua própria prancha dando acabamento, repintando e muita coisa aprendeu observando também.

Parou o carro em frente à marcenaria do senhor Raimundo e encomendou a madeira que precisava para fabricar três modelos, e pediu algo especial para a decoração. Ali perto tinha a loja do Nino, onde ele comprava parafina e materiais para concertar sua prancha, e conversando com Nino eles fecharam acordo para ser seu fornecedor.

O sol já se escondia no horizonte quando terminou de encomendar o que precisava então satisfeito partiu para casa contar a novidade para sua família, ele havia encontrado sua vocação e estava decidido a ter uma vida diferente dali para frente e queria que Clara estivesse com ele.



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