Novela ASCENDENTE

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═══ • ◆ • ═══ Mesmo nas incertezas, a luz do novo dia sempre acende a promessa  de que o melhor ainda está por vir...



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Mesmo nas incertezas, a luz do novo dia sempre acende a promessa 
de que o melhor ainda está por vir.

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No céu, as cores vibrantes daquele fim de tarde se mesclavam como um quadro em uma galeria de arte, e os ventos sopravam algumas mechas loiras de Camille. A garota sentia uma imensa paz no coração e sua mente vagava no profundo oceano, vista da varanda do seu quarto. Aninhada ao corpo quentinho de Dominic que balançava preguiçosamente a rede a qual estavam. Ele, porém, lia um livro de poesias.

— Alguém está te ligando, Cami — Dominic desviou o olhar da sua leitura por um segundo até o celular em cima da mesinha ao lado com capinha roxa que tocava um rit coreano, mas ele não conseguia ler o nome da chamada.

Camille levantou-se em um pulo e sentou imediatamente, posicionou o celular em frente o rosto e apertou o botão verde .

— Camille, ma chérie! Que saudade! Essa sua carinha de felicidade só confirma tudo que você já me contou! Estou louca para te ver! — A voz de Margaux com seu inconfundível sotaque francês que invadiu o ambiente.

— Margaux! Mon amour! A saudade é imensa! E você nem imagina o quanto essa felicidade aumentou desde a última vez que conversamos! Temos que colocar todos os detalhes em dia quando eu chegar!

— Ah não acredito no que eu estou vendo! Dom está com você? Que fofos vocês juntos! — Camille se moveu para que o rapaz entrasse no esquadro da câmera.

— Olá amiga, como você está? Se divertiu bastante? E aquele vinho que eu pedi, você trouxe para mim? Logo estaremos ai!

— Mas é claro, meu chapa! Voltem logo, estou morrendo de saudades! E esse seu bronzeado, Cami? Tô chocada! Deixa eu ver melhor essa paisagem de onde você está?

Camille mudou para a câmera traseira e sua amiga ficou estupefata diante a beleza daquele por do sol incrível, contrastando com o céu acinzentado que cobria Paris.

— Mas de volta ao foco! Me conta de novo, só pra eu não perder nada... Como foi o Natal? Aquela bomba finalmente explodiu na ceia? — Margaux se recostou na cama, os olhos curiosos brilhando na tela que voltou para o rosto de seus amigos.

Camille respirou fundo, um sorriso nostálgico dançando em seus lábios.

— Explodiu da melhor forma possível, Margaux. Lembra de toda a história da minha mãe e do Diego que te contei? Então, no Natal...

No ambiente, as batidas gentis de uma melodia natalina teciam um tapete de tranquilidade que convidava à introspecção e ao carinho, um oásis sonoro em meio ao furacão da casa dos Bittencourt. No piso térreo, o caos reinava: um incessante vai e vem de trabalhadores contratados, pisca-piscas cintilando em profusão, e montanhas de caixas e sacolas de presentes acumuladas por todos os cantos. Senhor Narciso, com seu jeito efusivo e a paixão que lhe era peculiar, palpitava sobre cada detalhe da decoração, orquestrando a instalação das luzes e arranjos, enquanto Augusto o auxiliava diligentemente na organização. No andar superior, a agitação não era menor; as mulheres da casa se arrumavam para a festa em meio a um turbilhão de roupas espalhadas, sapatos por todo o lado, maquiagem e o zumbido constante dos secadores de cabelo. A família inteira estava imersa na febril preparação daquela grande celebração. Flora havia chegado no primeiro voo do dia de Paris, acompanhada de seu namorado. Sua chegada trouxe um burburinho especial de alegria e reencontro.

Quando o último trabalhador partiu e a casa Bittencourt finalmente aquietou-se, o sol já havia se recolhido, e uma lua cheia imponente ascendeu no céu, banhando a noite fresca em prata. A família, agora impecavelmente preparada, ansiosos pela chegada dos demais convidados.

Eles foram surgindo na porta gradualmente: primeiro, Laura, a namorada de Augusto, depois Dominic e Liam, acompanhados da namorada de Liam, Amanda. Em seguida, o Coronel Orlando Silva e Dona Cecília Silva, pais de Diego e Rodrigo, entraram na sala, com seus rostos iluminados por sorrisos calorosos, acompanhados do filho caçula. Por fim, Rodrigo e sua esposa Luana chegaram.

— Que alegria ver todos reunidos! — exclamou Dona Cecília, abraçando Clara com carinho. — E que bom que nosso Diego finalmente encontrou a felicidade ao lado da mulher que ama e da filha que ele tanto ansiava por conhecer! O Coronel Orlando assentiu, um brilho de orgulho nos olhos ao cumprimentar a nora.

— É uma bênção ver nosso filho tão completo. Que a vida de vocês seja repleta de amor e paz, Clara e Camille. — disse olhando para ambas enquanto apertava de leve suas mãos.

— Boa noite a todos! Sogros, me perdoem pelo atraso, mas garanto que trouxe um presente muito especial para vocês — Diego começou, a voz revelando um misto de nervosismo e uma surpreendente firmeza, Clara se pôs ao seu lado, lhe passando conforto ao apertar de leve seu braço que entrelaçava. A sala, antes vibrante com a expectativa, mergulhou num silêncio tenso, os olhos de todos fixos nos anfitriões, aguardando a reação.

— É... — O Senhor Narciso pigarreou, a expressão endurecida. — Quase vinte anos é um atraso considerável, não é, rapaz? — Um silêncio quase ensurdecedor pairou no ar. Mas, para alívio geral, o semblante severo de Narciso se desfez num sorriso largo e satisfeito. — Mas que bom que você veio, Diego. De coração, desejo toda a felicidade do mundo para vocês.

Um grito uníssono de "Viva!" irrompeu na sala, acompanhado de assobios e uma salva de palmas estrondosa para o casal, dissipando a tensão com uma onda de celebração.

— Sabe, filha — dona Maria começou, com a voz suave, olhando para Clara —, quando você nos avisou que seu namorado almoçaria com a gente naquele domingo, eu... eu estava esperando o Diego. Fomos pegos de surpresa quando o Rodrigo chegou. — Ela riu, um riso tímido e um tanto doloroso. — Me perdoem a franqueza aos envolvidos, né? Mas o coração da mãe sempre sabe. Se tudo tivesse seguido o fluxo que um dia eu sonhei, talvez aquela jovem incrível ainda estivesse entre nós hoje. — A menção de Amélia, e a lembrança de sua morte precoce, trouxe uma nuvem pesada de melancolia ao ambiente e deixou todos que a conheciam desconfortáveis.

Augusto, percebendo o clima denso, prontificou-se a dissipá-lo com sua energia contagiante. — Vamos, sentar à mesa, galera! Vou servir o drink para todos! Venham, cunhados! — Ele gesticulou para Diego, Rodrigo e Luana, um convite caloroso para que a noite seguisse em frente, sem desconforto.

Clara nunca imaginaria o quanto aquele Natal seria memorável. Já acomodados à mesa, com as bebidas e as delícias natalinas servidas, um silêncio confortável se instalou, até que Rodrigo, com um olhar perspicaz, encontrou a brecha para sua pergunta.

— Então estão juntos oficialmente, cunhada? — Clara lançou um olhar cúmplice para Diego, que acenou positivamente, pousando o garfo antes de tomar a palavra.

— Sim, estamos namorando oficialmente e, na verdade, pretendemos nos casar por volta de um ano. E gostaríamos de anunciar isso a todos hoje. — Diego esperou que a atenção de todos se voltasse para ele, um sorriso determinado no rosto. — Nesse um ano de namoro, nós vamos viajar de barco juntos. Queremos nos reconectar, recuperar o tempo perdido e realmente nos reconhecer agora como adultos, já que não somos mais os mesmos de 92.

— Navegar? Por um ano inteiro? — Margoux parecia surpresa.

— Sim. Querem reconectar-se, sabe? Sem as pressões da vida quotidiana, sem as lembranças do passado que os mantiveram separados. Apenas eles os dois, o mar e o vento. — Camille sorriu com ternura. — Eles merecem esta oportunidade de recomeçar, de construir o futuro deles.

— Isso é... muito romântico, Camille. E muito corajoso.—

— Eu sei. No início, fiquei um pouco... sei lá, insegura. Mas depois entendi. Eles precisam disto. E quando eles voltarem... eu, o Dom e o Liam já teremos terminado a faculdade. — Camille olhou para o mar, imaginando o futuro que se abria. — Vamos estar todos no Brasil, prontos para começar uma nova fase juntos.

Naquele momento, Clara surgiu através da cortina que esvoaçava na porta da varanda, um sorriso sereno no rosto, seguida por Diego logo atrás. Camille, ainda com o celular na mão, virou-se para a mãe.

— Mãe, é a Margaux! — Camille estendeu o celular para Clara.

— Oi, querida! Como está? — Clara pegou o telefone, a voz um pouco entristecida. — Peço mil desculpas, mas nosso workshop de croissant terá que esperar um pouco mais.

— Não tem problema nenhum, Clara! É por uma ótima causa! Te vejo na volta, e boa viagem! Cuida bem dela para nós, Diego! — Margaux disse do outro lado da linha, com um tom de compreensão e carinho.

Diego sorriu, acenando para o celular. — Pode deixar! Muito obrigado pelas felicitações!

— Está tudo pronto, meu mãe? — Clara assentiu, o nó na garganta apertando um pouco.

—Sim, filha.— voltou sua atenção para o celular — Margaux, querida, precisamos ir agora, tchauzinho! — encerrou a chamada com um toque.

Clara devolveu o celular para Camille, um suspiro leve escapando de seus lábios.

Juntos, Camille, Clara e Diego seguiram para o pier, onde o barco de Diego aguardava, balançando suavemente nas águas calmas. Diego e Dominic terminavam de acomodar as últimas bagagens a bordo. O sol começava a se despedir no horizonte, pintando o céu com tons vibrantes de laranja e roxo, um cenário perfeito para a despedida.

— Se cuida, Camille, minha filha. E mantém-nos informados das tuas aventuras em Paris — Diego disse, puxando a filha para um abraço apertado, um sorriso sincero nos lábios.

— Pode deixar, Diego. E vocês... aproveitem cada segundo — Camille afastou-se, com os olhos marejados, mas um sorriso de carinho no rosto.

Clara e Camille se abraçaram longamente, um silêncio carregado de amor e compreensão.

— Vão com Deus, mãe. E voltem logo. Sentirei saudades — Camille sussurrou, a voz embargada.

— Nós também, meu amor. Sentiremos muita saudade — Clara sorriu e uma lágrima escorreu, os olhos brilhando com a promessa do futuro.

Clara e Diego trocaram olhares, um brilho de expectativa e amor nos seus olhos. De mãos dadas, eles embarcaram no barco, prontos para desbravar os mares e construir o futuro que tanto almejavam.

Camille e Dominic ficaram ali no píer, observando o “Estrela Ascendente” se afastar lentamente, impulsionado pela brisa suave. O sol mergulhou de vez no oceano, e as primeiras estrelas começaram a pontilhar o céu. Uma nova fase iniciava-se para todos. O passado, com as suas dores e segredos, ficava para trás, dando lugar a um futuro incerto, mas cheio de esperança e a promessa de novos ventos, impulsionando a jornada ascendente das suas vidas.

O Grande Final de "ASCENDENTE" Chegou!

Com o coração transbordando de gratidão, compartilho com vocês uma notícia emocionante: após 7 anos de dedicação, o primeiro rascunho completo de "ASCENDENTE" está FINALIZADO!

Essa jornada, que começou com um sonho e se transformou em realidade, só foi possível graças ao apoio e carinho de cada um de vocês. Cada comentário, cada mensagem, cada palavra de incentivo me impulsionaram a seguir em frente e dar vida a essa história que tanto amo.

Agora, "ASCENDENTE" entra em uma nova fase: a lapidação! O livro passará por um processo de revisão e edição para brilhar ainda mais e chegar até vocês da melhor forma possível.

Em breve, anunciaremos a data de lançamento e as plataformas digitais onde vocês poderão adquirir essa história que promete emocionar e encantar. Preparem-se para se apaixonar por Clara, Diego e todos os personagens que fazem parte desse universo! ❤️

E para celebrar esse momento tão especial, preparei uma surpresa incrível! As melhores resenhas publicadas nos comentários deste post serão selecionadas para estampar a capa do livro impresso! ✨

Como participar:

  • Leia os capítulos de "ASCENDENTE" disponíveis gratuitamente.
  • Deixe um comentário com sua resenha sincera e instigante no Prólogo.
  • Use a hashtag #Ascendente32 para que sua resenha seja encontrada.

O (a) resenhista ganhará além da chance do seu nome e resenha sair na capa do livro, como também ganhará um exemplar impresso + brindes! Chocante! Então participe e deixe seu comentário até 21 de setembro de 2025.

Agradeço a todos por fazerem parte dessa jornada comigo! Mal posso esperar para compartilhar "Ascendente" com o mundo!

 ═══ • ◆ • ═══ Tudo na vida um dia passa, e hoje, os dias ruins são apenas capítulos de uma história que me fortaleceu e que mo...



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Tudo na vida um dia passa,
e hoje, os dias ruins são apenas capítulos
de uma história que me fortaleceu
e que moldará minhas escolhas futuras.

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O som abafado das conversas animadas e os tropeços ocasionais de alguém com uma bebida a mais mal chegavam aos ouvidos de Camille. Acomodada em sua cadeira de praia, o namorado a seu lado era quase uma figura coadjuvante em seu universo momentâneo. Seus olhos seguiam Diego discretamente, enquanto uma corrente de pensamentos a envolvia. Era uma busca silenciosa por respostas, uma intuição crescente de que a verdade, como um rio calmo encontrando o mar, logo fluiria inevitavelmente até ela.


"Diego... meu pai? Impossível!" A frase ecoou em sua mente, confrontando a lógica. Mas a lembrança das palavras da avó sobre o passado de sua mãe a assaltou. A chegada repentina e suspeita de Luana e Rodrigo. Uma ponta de desconfiança a picou. O que ligava aqueles dois irmãos a Luana? E por que o ciúme possessivo dela em relação à sua mãe?


Uma teoria começou a tomar forma, hesitante a princípio: "E se... minha mãe e Rodrigo tiveram algo? Enquanto ele e Luana ainda...?" A possibilidade a surpreendeu pela simplicidade. "Meu Deus... se for isso, tudo faz sentido. Mas Diego... ele ainda é a sombra nessa história."


O pensamento a atingiu com um impacto quase físico, fazendo-a tropeçar levemente. "Ahá!"


— Amor, tudo certo? — A mão de Dominic tocou seu braço com ternura, seus olhos demonstrando genuína preocupação.


— Sim, sim — apressou-se Camille, buscando uma desculpa rápida enquanto seus olhos vagavam para o oceano. — Só... tentei me esticar para ver... sabe... juro que vi um brilho estranho ali! Parecia a barbatana de um golfinho!


Dominic franziu a testa, mas logo relaxou. — Golfinhos por aqui? Não é comum nessa época, mas acontece. Fica de olho e cuida para não cair.


Com um beijo rápido na bochecha de Dominic, Camille se afastou com a desculpa da bebida, a mente já mergulhada em suas próprias conclusões.


"Onde é que minha cabeça estava? Ah, sim! A peça final... mamãe e Diego... uma traição às costas do Rodrigo! Tem que ser isso!" Uma confusão turva seus pensamentos, misturada a uma crescente sensação de choque.


"Mas... se essa for a verdade... tudo que eu vivi... foi baseado em uma mentira?" A figura de Caio surgiu em sua mente, envolta em um brilho de afeto genuíno. Seu amor por elas, sua dedicação... um nó se formou em sua garganta. Uma súbita sensação de perda a invadiu, como se algo fundamental tivesse sido arrancado de dentro dela.


Então... a mamãe enganou o Caio durante todos aqueles anos? Ele sequer suspeitou da verdade antes de..." A frase ficou inacabada, dolorosa demais para ser completada.


Camille sentiu um nó se apertar em seu estômago, uma mistura fria de confusão, choque e a crescente e incômoda sensação de não pertencer à própria história. Aos poucos, como fragmentos de um espelho quebrado se rearranjam, as conversas fragmentadas e as pistas soltas começaram a se encaixar, formando um quadro perturbador que a deixava com a respiração presa.


Engolindo em seco a súbita ansiedade, pediu licença ao seu grupo com um sorriso forçado que não alcançou os olhos e marchou determinada em direção à sua mãe. Clara conversava animadamente com Dalila, o riso vibrante contrastando com a quietude tensa que se instalava em Camille a cada passo. Diego estava ao lado, um observador silencioso.


— Mãe — a voz de Camille saiu mais firme do que ela esperava —, você e o Diego... vocês eram muito amigos antes de conhecer o papai, não eram?


O som das risadas ao redor pareceu se abafar, como se o próprio ar prendesse a respiração. O sorriso de Clara se esfacelou, a alegria em seus olhos dando lugar a um brilho fugaz de pânico. Seus lábios se separaram levemente, como se uma palavra proibida estivesse prestes a escapar. Seus olhos, antes fixos nos de Camille, desviaram por uma fração de segundo para Diego, que paralisou o movimento da mão ao erguer o copo. Ele apenas acenou positivamente, um olhar calmo e carregado de uma promessa silenciosa, um fio de apoio que, ironicamente, intensificou a confusão no peito de Camille.


Camille observou a máscara de normalidade escorregar do rosto de sua mãe. Aquele breve vacilo no sorriso, o desvio de olhar... tudo gritava uma resposta não dita. Antes que pudesse insistir, Clara tomou a iniciativa, sua mão encontrando com a dela, entrelaçou seus dedos nos de Camille e a conduziu suavemente para um canto mais isolado na areia, longe do barulho da festa. — Precisamos conversar — murmurou, o tom de voz hesitante, quase inaudível.


Elas pararam, agora uma de frente para a outra, os olhos fixos.


— Filha, — seu tom era cauteloso e apreensivo, sua voz, apesar do esforço para manter a compostura, vacilava, as palavras escapando hesitantes — eu queria muito te contar isso há muito tempo e aqui nesse momento não era exatamente o que eu estava planejando, mas... — Clara desviou o olhar para o lado por um breve instante, como se as palavras cruciais estivessem flutuando invisíveis no ar, tentando capturá-las — ...eu precisava concertar algumas coisas antes disso e por isso demorei demais. Eu preciso que me escute agora, com o coração aberto, filha.


— Camille, antes de tudo eu quero que saiba que seu pai sempre te amou profundamente — uma lágrima solitária cintilou em seu rosto antes de cair, silenciosa. Ela jurou proteger seu bebê desde que descobriu que estava gravida e Caio a apoiou em todas as suas decisões sem piscar.


Comovida, Camille segurou as mãos trêmulas de sua mãe, seus próprios dedos apertando-as em um gesto de apoio.


Comovida, Camille segurou as mãos trêmulas da progenitora, os seus próprios dedos apertando as dela em um gesto de apoio.


— Sim, mãe, eu sei... Eu sempre soube o quanto o pai me amou, o quanto ele nos amou. O seu carinho nunca me deixou dúvidas sobre o lugar que eu ocupava no coração dele.


Clara respirou fundo, umedecendo os lábios antes de prosseguir. — Mas acontece que... o Diego é seu verdadeiro pai...


Um breve silêncio se instalou, carregado de uma compreensão que já florescia em Camille. — Eu sei, mãe. Eu já desconfiava... as coisas que a vovó me contou, a chegada do Rodrigo... as peças foram se encaixando. Ouvir você dizer agora... torna tudo mais concreto.


Lendo as expressões à distância e imaginando que a conversa se prolongaria, Diego se aproximou discretamente. Ele deu uma desculpa para que ninguém as incomodasse e trouxe cadeiras de praia e toalhas para que não sentissem frio, pois o clima estava virando e trazendo um vento gelado.


Camille observou seus movimentos. Ela começou a notar algumas semelhanças: o modo como ele segurava as cadeiras e as toalhas, a forma de seus dedos. Quando ele colocou a toalha por cima dos ombros de Camille, seus olhos se encontraram por um instante. Nesse breve contato, Camille notou uma pequena marca escura em sua bochecha, logo abaixo da orelha: uma pinta em forma de coração, igualzinha à sua. Naquele olhar, Camille sentiu amor e acalento, tudo o que ela precisava naquele momento. Diego sorriu suavemente e se afastou, para que mãe e filha pudessem continuar sua conversa em particular.


— Eu sei que tudo isso parece um nó na sua cabeça, meu amor, mas se você ouvir a minha história, entenderá que cada passo, cada decisão, foi tomada com a melhor das intenções, da forma que eu acreditei ser a mais segura, buscando proteger você acima de tudo. Há algo que nunca contei para ninguém, nem mesmo para Diego... — Uma expressão de intensa curiosidade surgiu no rosto de Camille, misturada a um afeto crescente. Ela apertou a mão da mãe, ansiosa por ouvir mais. — ...quando eu era mais jovem, tinha um costume bobo de fazer pedidos às estrelas. E uma noite, com o coração cheio de um amor muito especial, eu pedi uma filha, uma menina que fosse fruto desse amor. E olhando para você hoje, Camille, às vezes sinto que aquela estrela cadente realmente ascendeu o meu pedido e me deu você.


E assim, Clara mergulhou nas lembranças, contando sua história desde o início. Camille permaneceu em silêncio, absorvendo cada detalhe, o calor de suas mãos unidas um conforto silencioso. Para Clara, compartilhar aquela verdade era como libertar um peso sufocante, uma nudez emocional necessária para construir uma nova base com a filha. Ela sentia, com convicção, que era o momento de clareza.


— Por que guardou isso de mim? — A voz de Camille embargou, e duas lágrimas teimosas escaparam, deixando um rastro brilhante em seu rosto. "Minha história... incompleta por tanto tempo." — Eu tento compreender, mãe, as razões que te levaram a isso... mas essa omissão me fez sentir como se eu vivesse em um palco, interpretando um papel sem conhecer o roteiro verdadeiro. — As mãos de Clara emolduraram seu rosto, a preocupação vincando suas feições enquanto seus polegares carinhosamente secavam as lágrimas. O abraço que se seguiu foi um refúgio, um porto seguro onde Camille buscava alívio para a confusão que a consumia.


— Meu coração se aperta por ter esperado tanto para te contar, meu amor — sussurrou Clara, afastando-se para olhar nos olhos da filha, um gesto de ternura ao livrar seus cabelos do emaranhado.


— Eu te amo, mãe. E quando olhei para Diego... havia algo ali... uma bondade silenciosa em seus olhos. Sinto curiosidade em conhecê-lo. "Talvez ali eu encontre respostas... talvez um elo perdido." — Camille limpou as lágrimas persistentes, sentindo o sal em seus lábios. — O amor que dedico ao pai Caio é eterno, um farol em minha vida. Meu amor por você também é inabalável. Mas estou pronta para desvendar essa nova parte da minha história. Preciso de tempo para entender tudo... mas estou aqui. E desejo, mais do que tudo, que encontremos a paz juntas. — Com um pequeno sorriso trêmulo, Camille fortaleceu o aperto na mão da mãe.


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O sol começava sua lenta descida, pintando o céu com tons alaranjados e rosados. A brisa antes quente ganhava uma leve friagem, anunciando o fim de mais um dia à beira-mar. Diego se aproximou de Clara e Camille, que ainda estavam abraçadas, a conversa fluindo em um sussurro íntimo.


— Ei, meninas — disse ele, a voz suave para não quebrar a atmosfera delicada. — O pessoal combinou de subir, tomar uma ducha para tirar o sal e a areia, e depois voltar para o bar para petiscar alguma coisa.


Clara se afastou um pouco de Camille, um sorriso terno nos lábios. — É verdade, já está ficando mais fresco.


Diego olhou para Camille, um calor nos olhos que ela começava a reconhecer. — E eu estava pensando... se vocês quiserem, podemos ir até a minha casa. É mais tranquilo, podemos pedir algo por lá e continuar conversando com mais privacidade. O que acham?


Camille olhou para a mãe, que assentiu com um pequeno sorriso encorajador. Uma curiosidade genuína a invadia. — Eu gostaria, Diego.


O caminho até a casa de Diego foi curto, mas carregado de uma expectativa silenciosa. Ao chegarem, Camille observou o lugar com atenção. Era uma casa aconchegante, com uma varanda convidativa repleta de plantas e uma decoração que misturava elementos náuticos e modernos, com toques pessoais que denunciavam um espírito acolhedor.


— Que casa linda, Diego! — exclamou Camille, admirando um quadro com uma fotografia de uma onda perfeita.


— Eu adorei também — disse Clara entusiasmada, mas lembrou do motivo de sua distração anterior, quando ela e Diego estavam aos beijos e se agarrando, e abaixou o tom de voz em um sussurro, mais para si mesma — mas não havia reparado muito na decoração na primeira vez que estive aqui...


Diego, que ouviu o comentário de Clara, lançou-lhe um olhar rápido e travesso, um sorriso divertido dançando em seus lábios como uma piada interna compartilhada. No entanto, ele rapidamente direcionou sua atenção de volta para Camille, para que a filha não percebesse a troca de olhares significativa. — Obrigado, Camille. Eu gosto muito daqui. Foi meu refúgio por muitos anos.


Já acomodados na varanda, com o som suave do mar ao fundo, enquanto Clara foi ao banheiro para seu banho, Camille se sentiu à vontade para iniciar a enxurrada de perguntas que borbulhavam em sua mente.


— Então... Diego... — começou ela, a voz um pouco hesitante no início. — Como... como tudo aconteceu? Quero dizer, entre você e a minha mãe? Quando vocês se conheceram?


Diego suspirou levemente, um sorriso nostálgico curvando seus lábios enquanto seu olhar se perdia brevemente em memórias. — Nos corredores da escola, Camille. Clara sempre foi uma mulher incrível, desde aquela época. Nos conhecemos há muito tempo, antes mesmo de Caio e meu irmão, Rodrigo, entrarem na vida dela. Eu me lembro como se fosse ontem. Clara e as amigas dela estavam indo para a biblioteca, ela estava pesquisando para um projeto de arte que estava desenvolvendo, algo sobre a história das cores...  Nossos olhares se cruzaram por um instante. Foi rápido, mas... marcante. As amigas dela, espertas como sempre, perceberam o clima e deram um jeito de nos juntar para conversar no intervalo. 


A curiosidade de Camille se intensificou. — Então, depois que vocês se separaram... você chegou a procurá-la? Tentou... sei lá... reatar?


Diego suspirou novamente, um traço de melancolia em seu sorriso. — Sim, Camille. Depois que terminamos, houve um período... difícil. Eu sentia muito a falta dela. Quando soube que as coisas não estavam indo bem entre ela e Rodrigo, eu a procurei. Fui sincero, disse que ainda a amava e que, se ela decidisse terminar o relacionamento com ele, eu estava disposto a ficar ao lado dela, a construir algo juntos.


Clara, que ouvia atentamente, tomou a palavra com uma seriedade suave. — Eu me lembro disso, Diego. E eu fui muito clara na minha decisão. Embora houvesse um carinho muito grande entre nós, as circunstâncias... as coisas tinham se complicado de uma forma que me fez sentir que precisava me afastar. Minha escolha foi seguir um caminho diferente.


A atenção de Camille voltou-se para a mãe, absorvendo essa nova informação. Havia uma complexidade nas relações que ela não era capaz de desvendar.


Camille assentiu, o olhar fixo em Diego, buscando respostas em cada linha de seu rosto. Havia uma conexão ali, um laço invisível que ela começava a sentir, mas que ainda era nebuloso.


— E o futuro? — perguntou Camille, a mente já divagando sobre as possibilidades. — Isso muda tudo, não é? O que vamos fazer agora? Vamos ser... uma família? Morar juntos?


Diego olhou para Clara, buscando apoio. Havia uma ternura silenciosa na troca de olhares.


— Estamos todos juntos nisso, Camille, o que for decidido será feito, não quero deixar ambas desconfortáveis, mas também não quero abrir mão de vocês — respondeu Diego, a voz firme, mas carregada de emoção. — Vamos descobrir juntos qual será o nosso futuro. Há muitas perguntas a serem respondidas, muitas conversas a ter. Mas o mais importante é o aqui e agora.


Camille apertou a mão de sua mãe e a outra livre a mão de Diego, sentindo um misto de apreensão e uma estranha sensação de pertencimento. O futuro se apresentava como um quadro inacabado, esperando os traços únicos de cada um para compor uma nova imagem familiar. As respostas para suas inúmeras perguntas seriam descobertas à medida que essa nova e surpreendente fase de sua vida fosse preenchida.


 PRÓXIMO CAPÍTULO:

• TRINTA E DOIS •

◆ FINAL ◆

═══ • ◆ • ═══ Em cada onda, um desafio. Em cada manobra, a busca pela glória. ═══ • ◆ • ═══ A luz do sol banhava a costa, e as onda...



═══ • ◆ • ═══

Em cada onda, um desafio.
Em cada manobra, a busca pela glória.

═══ • ◆ • ═══

A luz do sol banhava a costa, e as ondas quebravam com um ritmo constante na areia, enquanto a competição de surf organizada por Henrique se preparava para começar e fervilhava em expectativa. Na área reservada, os espectadores fixavam os olhos na tela da TV, onde um drone capturava cada movimento, enquanto um placar à esquerda listava os competidores, todos partindo com dez pontos. Os mais competitivos erguiam suas câmeras digitais, utilizando o zoom para acompanhar de perto seus filhos. À beira-mar, os atletas aqueciam os músculos, preparando-se para desafiar as ondas e almejar o pódio. Suas pranchas, fincadas na areia ao lado, aguardavam o momento de deslizar.

A primeira bateria alinhava os jovens talentos. Camille, com sua prancha adornada em múltiplos tons de rosa e rabiscos pretos, carregava uma homenagem tocante: o autógrafo desbotado do pai falecido, um pedido de fã desde a infância, gravado em sua primeira prancha.

Dominic alongava-se ao lado de sua prancha, uma criação de Rodrigo. A ilustração vibrante de animais marinhos, com destaque para a tartaruga-cabeçuda, ecoava uma memória preciosa de sua infância, um resgate na praia que despertou sua paixão pela espécie, agora sua companheira nas manobras.

Liam ostentava uma prancha também moldada pelas mãos do pai Rodrigo. Sua fascinação pelos crepúsculos de Cerca Grande, a terra natal paterna, traduzia-se em um degradê de cores quentes que incendiava a superfície da prancha.

Augusto, filho de Aurora, e sua prima Isadora, filha de Pandora, ambos com quinze anos, executavam alongamentos em perfeita sincronia. As artes de suas pranchas, lado a lado, revelavam-se como fragmentos de um único mural, aguardando o oceano para completar a narrativa visual de sua sintonia.

Um a um, pegaram suas pranchas e entraram no mar. A galera se jogou na água, remando de barriga para encontrar o pico, o lugar certo para a espera das ondas. Mal ajeitaram as pranchas na calmaria, e a zoação com os mais novos já estava rolando solta. A mão de Dominic pairou sobre seu rosto, os dedos levemente afastados e curvados, imitando a sombra projetada por uma aba de boné.

— E aí, miniaturas de sereios, prontos pra lamber um pouco de sal? —  Dominic gritou para os mais jovens na água, com um sorriso travesso. 

Liam, logo ao lado, ecoou com um tom de falsa preocupação: — Olha a vaca¹, hein! Um caldo e tchau tchau, pódio!

Augusto, não deixando barato, lançou um olhar desafiador para Dominic e Liam: — Escutem bem, seus metidos a europeus! Enquanto vocês estavam aí aprendendo a falar "croissant", eu e a Isa estávamos detonando essas ondas. Preparem-se para engolir nosso spray²!

Camille e Isadora apenas trocavam olhares divertidos, achando graça da guerra de testosterona dos meninos.

Quando a buzina soou, Camille canalizou a garra implacável de Clara e atacou as ondas com uma confiança inabalável. Seu surf era um turbilhão de agressividade e precisão, cada corte e manobra arriscada aprimorada sob os ensinamentos do pai, Caio, ecoando em aplausos da multidão.

Dominic, irradiando a mesma energia contagiante de Henrique, deslizava pelas ondas com um sorriso que hipnotizava, sua alegria transbordando para a areia. Seu estilo era uma dança fluida e inventiva, cada curva uma pincelada de originalidade na tela do oceano.

Liam, concentrado e sério como o pai Rodrigo, encarava cada onda com foco intenso. Seu surf era a personificação da elegância clássica, cada movimento preciso e calculado, a água rendendo-se ao seu controle.

Augusto e Isadora, apesar da pouca idade, exibiam um talento bruto e uma sintonia invejável. Seus treinos conjuntos, quase um balé aquático, traduziam-se em manobras sincronizadas e ousadas, elevando a disputa a um patamar épico, onde cada onda era uma batalha acirrada.

Com a tensão da buzina final ainda ecoando, o placar cintilou, revelando a intensidade do confronto: Camille, com +20 pontos, reinava no topo. Dominic, com +17, logo atrás, seguido de perto por Liam, com +16. Isadora, mostrando garra, somava +15, e Augusto, com +14, provava seu talento promissor.

Camille, Dominic e Liam subiram ao pódio, receberam os aplausos calorosos de todos. A disputa de surf havia sido um sucesso, celebrando a amizade, a rivalidade saudável e a paixão pelo mar.

Finda a bateria dos jovens, a areia quente testemunhou a movimentação da velha guarda. Um a um, Clara, Diego, Rodrigo, Luana, Bruno e Hugo pegaram suas pranchas, a cera reluzindo sob o sol forte. Caminhando com a familiaridade de quem tem o oceano como lar, adentraram a água, onde o murmúrio das ondas quebrando na costa criava uma trilha sonora para a iminente Batalha das Ondas na categoria adultos. 

Remadas lentas e coordenadas os afastavam da costa, em direção ao pico onde as ondas se formavam, cada um buscando seu lugar na imensidão azul. Uma tensão palpável pairava na brisa, especialmente entre Clara e Luana, cuja rivalidade transcendia o esporte, transformando-se em um duelo silencioso de força e feminilidade, refletido na determinação em seus olhares enquanto aguardavam a primeira onda quando a buzina soou.

Clara, a veterana graciosa, deslizava pelas ondas com a maestria de quem faz do oceano sua extensão. Cada curva, cada manobra precisa e elegante, era um testemunho de sua profunda conexão com o mar.

Diego e Rodrigo, dois titãs experientes, travaram uma batalha onda a onda. A ousadia radical de Diego desafiava a técnica clássica e o controle impecável de Rodrigo, cada um buscando a supremacia nas entranhas do oceano.

Luana, com sua presença imponente e um estilo que cortava as ondas com agressividade calculada, dominava a água com manobras poderosas e precisas, sua determinação esculpindo cada movimento.

Bruno, marido de Aurora, e Hugo, marido de Pandora, exibiam um entusiasmo contagiante, mesmo que o surf não fosse sua praia. Discípulos dedicados do cunhado, acompanhavam fielmente os filhos e se aventuravam nas ondas com espírito esportivo, cientes de suas limitações.

Assim que o toque triplo da buzina — fuon, fuon, fuooon — cortou o ar, o placar revelou um empate emocionante no topo: Clara e Luana, ambas com +19 pontos, celebravam juntas, a rivalidade esfumaçando-se em sorrisos de respeito e camaradagem. Diego, com +16 pontos, aplaudia a vitória das amigas, reconhecendo a beleza e a força que floresciam no surf feminino. Rodrigo, com a mesma pontuação, compartilhava o reconhecimento. Bruno, com seus +11 pontos, sorria pela participação, enquanto Hugo amargava a desclassificação, vítima de um caldo inevitável, mas mantendo o bom humor.

— Cara, você foi demais! — Diego elogiava uma manobra que Hugo arriscou e que ele não conseguia dominar ainda — Aquele layback reverse que você jogou, inclinando a prancha quase noventa graus na parede da onda e voltando na base como se nada tivesse acontecido, foi insano!

— Ah, obrigado! Eu realmente treinei muito para conseguir esse layback, porque o aéreo reverse com rotação de 540 graus, aquele sim não entrava de jeito nenhum.

A adrenalina da competição e a alegria da celebração cedeu lugar ao cansaço, à fome e à sede. Uma mesa de coquetel, com iguarias e bebidas refrescantes, foi o ponto de encontro para os surfistas e seus amigos. Entre conversas animadas e risadas, a tensão se dissipou, dando lugar a um clima de leveza e camaradagem. 

Luana, com um olhar sereno e um sorriso sincero direcionado a Clara, reconheceu a bondade e a força da outra, deixando para trás os fantasmas do passado. Pelo bem de Camille e Liam, pela amizade que florescia entre seus filhos, ela estava disposta a construir uma ponte, a abrir espaço para uma possível amizade com Clara. Abriu a tampa do cooler, pegou uma longnek e sentou próxima de suas amigas gêmeas para conversar, um novo entendimento florescendo em seu coração.

Caminhando em direção à mãe, Camille, com a perspicácia aguçada por suas recentes descobertas, perguntou casualmente: — Mãe, você e o Diego... vocês eram muito amigos antes de conhecer o papai, não eram? —. O sorriso de Clara vacilou, seus olhos encontrando os da filha com uma apreensão que não passou despercebida por Camille.

Nota 1: "Olha a vaca" é uma gíria comum no vocabulário do surf brasileiro, utilizada como um aviso bem-humorado ou provocativo para alertar alguém que parece estar prestes a cair da prancha ou ser derrubado por uma onda (tomar um caldo). A expressão evoca a imagem de desequilíbrio ou falta de jeito, sendo usada aqui por Liam em tom de brincadeira com os surfistas mais jovens durante a competição.

Nota 2: "Preparem-se para engolir nosso spray" é uma gíria usada no contexto do surf para expressar confiança e intenção de superar os adversários. O "spray" refere-se às gotículas de água levantadas pela prancha durante manobras rápidas e intensas. Ao dizer isso, Augusto está, de forma figurativa e provocativa, afirmando que ele e Isadora surfarão com tanta habilidade e proximidade que os outros competidores ficarão para trás, "engolindo" o spray de suas ondas, em vez de competir lado a lado. É uma demonstração de competitividade e crença na própria superioridade.

 PRÓXIMO CAPÍTULO:

• TRINTA E UM

Deixa eu te contar um segredo, daqueles que a gente sussurra na escuridão. Sabe aquela sensação de ser diferente, de ter algo pulsando sob a...

Deixa eu te contar um segredo, daqueles que a gente sussurra na escuridão. Sabe aquela sensação de ser diferente, de ter algo pulsando sob a pele que o mundo não entende? Pois é, essa é a história de Rose. E acredite, o diário que você está prestes a espiar é apenas o começo de uma jornada... digamos... afiada. Prepare-se, porque as páginas à frente revelam um lado da realidade que você talvez nunca tenha imaginado.




Segunda-feira


Meu nome é Rose e odeio escrever, minha mãe me levou a uma psicóloga a um tempo e ela me pediu para escrever meu dia-a-dia aqui neste "caderno-diário". Eu acho isso um saco, mas já que é preciso para o meu bem, segundo minha mãe. Ela deve saber de algo que não sei ainda...

O meu dia foi legal. Fui à escola de manhã, voltei antes do meio dia. Após o almoço fui ao dentista e às 16h fui ao psicólogo, ou melhor, psicóloga, Dr. Andrea. Voltei às 17h em casa, comi e aqui estou, escrevendo nesse caderno-diário. Talvez não seja tão chato assim.

Terça-feira


Olá Dr. Andrea,
Como nunca escrevi um diário antes, estou testando como vou escrever. Minha rotina foi normal, só não tive dentista, hoje é terça e eu tenho dentista na segunda. Você deve estar se perguntando por que estou indo ao psicólogo e porque escrever esse diário. Minha mãe diz que sou sonâmbula e que faço coisas estranhas quando estou "dormindo". Faço coisas tipo comer minhocas. Eca. Às vezes eu fico observando minha mãe durante a noite, não sei por quê.

Quarta-feira


Hoje a Dr. Andrea veio aqui essa madrugada. Minha mãe ligou para ela vir aqui, pelo que parece eu rejeitei as minhocas e ataquei um pedaço enorme de bife que estava na geladeira, cru. Mas não foi o suficiente, sentirei saudades de você Spock, você sempre será meu melhor gato que eu tive... Rolei na cama o resto da noite.

O resto do dia minha rotina foi normal, tirando que uma guria me irritou na escola, e no meio da briga uma unha enorme cresceu, todo mundo viu e achou que fosse mais uma de minhas gracinhas e eu concordei dizendo que estava testando para o Halloween. Todos riram enquanto acabava com a raça dela! Até me perguntaram onde eu comprei, disse que era segredo. Fiquei assustada, mas cá entre nós, 

MANEIROO!

Quinta-feira


Bom, minha psicóloga veio aqui ontem por causa do incidente na escola, e me deu uma bronca por estar escrevendo pouco. Mas tudo bem, se eu continuar fazendo isso, mas com mais detalhes. A diretora da escola me obrigou a pedir desculpas para aquela garota idiota, coisa de primário, mas eu falei que essa guria me chamou de louca ao dizer que eu estava indo ao "médico de loucos" e é claro que eu contei à Dr. Andrea. Então ela foi dar uma palestra na escola sobre o assunto de psicologia e tal. Precisava ver a cara dela.

Sexta-feira

A guria veio me pedir desculpas hoje também. Ela descobriu através de uma psicóloga que tem um distúrbio de inferioridade e por isso brigava com todo mundo. Quem será que era a psicóloga? Mas a doutora não fez por mal, é seu trabalho e sua credibilidade que está em jogo. Ela realmente tinha esse problema.

A aula de piano foi muito chata.

Boa noite!

Há algum tempo estou recusando certos tipos de comida, sei lá o que acontece, só sei que meu estomago rejeita, a doutora falou que seria normal isso acontecer comigo e que iria acontecer aos poucos. A comida que mais gosto é pizza e macarrão, e elas foram a ultima a eu rejeitar... To triste! Como toda a ultima sexta do mês pedimos pizza. Não consegui comer, me deu um nojo enorme. A Doutora foi chamada novamente. Comi carne crua, de novo. Minha mãe esta me chamando de pequeno leãozinho. Já emagreci uns 10 kg por comer apenas alface (mato) e carne crua. Não consigo comer nada alem disso mais. Nem sorvete- triste!

Segunda-feira


Depois de quase seis meses no psicólogo ela descobriu o que eu tenho. Mas não me disse o que, mas minha mãe sabe. Hoje tenho dentista, mas amanha começarei um tratamento no psiquiatra. Não fui à escola hoje, e não irei essa semana também. Estou usando as unhas para depilar as pernas e axilas. Maneiro!

Comecei a fazer pesquisas sobre meu comportamento e "poderes" eu sou tipo... LOBA! Meio Volverine.

Terça-feira


Hoje cedo fui ao hospital que a Dr. Andrea trabalha. Tinha muitas outras crianças mais novas, da mesma idade que eu e mais velhas. Tinha muitas alas e salas e eu fui para a ala de diagnóstico, ficava no térreo, nos fundos do prédio. Ficávamos todos em uma sala ela tinha uma saída para o corredor e uma porta para outra sala, blindada, entre essas duas salas tinha uma janela enorme onde podíamos ver toda a sala blindada. Nesta sala eram feitos os testes para saber quais as habilidades do paciente.

Chegou minha vez. Eu soltei minhas garras e depois minhas presas ficaram maiores do que o normal e muito afiadas (quase que eu me cortei), nunca tinha acontecido isso comigo. Concentrei-me novamente e os cortes na minha boca tinham sumido e o sangue secou, irado, eu disse que parecia com o Volverine! Recebi a ordem de atacar uma árvore, ela me parecia bem firme e viva, mas depois que eu ataquei ela com unhas e dentes, literamente, ela virou pedacinhos! Então me avaliaram como perigo laranja. Ah sim, de acordo com a tabela:

     Branco: zero perigo.
     Verde: vinte e cinco por cento de perigo.
     Amarelo: cinquenta por cento de perigo.
     Laranja: setenta por cento de perigo.
     Vermelho: cem por cento de perigo.

Então vou tomar uma medicação para saber como vou reagir depois. À tarde fui para a floresta tomar banho de rio com um dos garotos que conheci lá no hospital hoje. Ele também foi classificado como laranja. Não, não estávamos sozinhos lá. Tinha mais alguns garotos e garotas da mesma intensidade, ah sim, e a doutora. Foi muito legal, levamos boias para descer a correnteza. Cheguei em casa perto das sete horas da noite e já estava escuro. Eu estava exausta e garanto que os outros também.

Quinta-feira


Denis, o garoto que falei, veio hoje de manhã para irmos à escola. Eu mudei de escola para uma somente para pessoas "especiais" com aulas diferenciadas, para nos controlar e coisas assim. Ele já é maior de idade e tem um carro, estávamos na companhia de mais duas amigas dele e sua irmã mais nova, uma gracinha. Acho que ele gostou de mim. Eu também dele (lembrar de não passar a limpo para a doutora).

A escola é muito legal, tivemos aula de aplicação de injeção (meio enfermagem) para se precisarmos tomar alguma injeção de ultima hora ou aplicar em alguém. Ele é muito legal comigo, e tem um papo legal, diferente dos outros meninos que conheço. Eu cheguei a falar dele para a psicóloga e ela disse que se quiséssemos ficar juntos teríamos que terminar o tratamento, pois somos nível laranja, ou seja, perigosos até para nós mesmos. Mas ela me alertou que se caso acontecesse, teria que relatar aqui e seria nosso segredinho (e que nos cuidasse também, pois a mutação genética estaria em risco).

DEZEMBRO


Ele é tão fofo comigo, hoje a tarde saímos do hospital e fomos tomar sorvete, passamos em uma loja de CDs e ele comprou o ultimo cd da minha banda favorita e me deu de presente. Own que fofo. Depois, era umas quatro horas, fomos ao parque da cidade, brincamos de pega-pega entre os brinquedos e quando cansamos, sentamos no balanço. Foi muito leal, esplêndido. Ele me beijou. Ele tinha halito de menta dos doces que compramos hoje mais cedo. Ainda é muito precipitado, mas acho q estou gostando dele. Não como amiga, os outros meninos também são muito legais e divertidos, mas com Denis é diferente. Ele é perfeito.

Segunda


Hoje na escola Denis me contou mais sobre sua vida antes do hospital. Ele descobriu seus "poderes" há uns dois anos, e por causa de seus poderes sua família não tinha residência fixa. Ele tem o poder de fogo, não é como do x-man que precisa de um acendedor para ativar o poder, é tipo o chama do Quarteto fantástico, ativa do nada. Ele incendiou todas as casas da sua família, tendo que alem de se mudar de casa, de cidade também, pois o preconceito era enorme.

A sorte que sua família era bem de vida e sempre pagaram seguro da casa, e como a seguradora nunca descobria o princípio de incêndio, sempre reembolsavam o valor da casa, que era usado para a nova moradia da família. Denis consultou com diversos psicólogos, psiquiatras, mãe e pai de santo, espiritismo, e nada de achar a base do problema.

Depois de um ano do aparecimento dos poderes de Denis, ele e sua família receberam a visita da Dra. Andrea, que explicou onde ela trabalhava e como podia ajudá-los. A família não sentiu confiança temendo que fosse mais um especulador do "Caso Denis", mas aceitaram ir ao hospital para ter certeza.

O hospital ficava a cinquenta quilômetros da cidade em que moram atualmente. A família gostou do hospital, atendimento e os custos para internação. Os pais de Denis aceitaram os acordos, assinaram os papéis e no dia seguinte a internação de Denis começaria. Sendo lá mais seguro para todos, pois seu quarto é blindado e a prova de fogo, caso ele entrasse em chamas durante a noite, o fogo não se alastraria pelo prédio e ganharia uma ducha para esfriar a cabeça.

Ele passou seis meses fazendo exames, testes e treinamentos para dominar seu poder. Ele era o mais forte de todos no hospital, tinha força para queimar no raio de mais de cem quilômetros de distância. Ele era nível preto, acima de mil por cento de perigo. Os exames revelaram sua fonte de calor, onde nenhum remédio eliminaria, apenas diminuiria. Ele é paciente do hospital há um ano, e de nível preto ele passou para laranja, mas por pouco tempo.

Terça-feira


Hoje teve teste semanal e nós dois diminuímos a classificação para verde, 25%, isso é ótimo! Todos estavam felizes. Semana que vem é meu aniversário de 18 anos. A minha festa será na quinta à noite, pois meus pais terão que viajar. Que saco isso, mas disseram que é para meu bem, sempre dizem isso. Então na sexta, Denis disse que vai me dar meu presente. Uau! Até imagino o que seja.
Hoje tivemos aulas normais (português, matemática, história e geografia). Na semana passada apenas tivemos apresentação dos professores, início das aulas. A cidade é pequena e sem nada para fazer, então passei o resto do dia jogando vídeo game. Ah não preciso ir mais ao dentista! Graças ao Bom Pai!

Sexta feira


A semana foi ate legal, nada de mais. Nada de diferente, eu dormi a noite toda, e na minha cama, eu não tive pesadelos, não mordi a cama ou travesseiro. O bom é que não preciso mais de acompanhamento constante, agora uma vez por mês já está bom. Estou muito bem, meus caninos não aparecem mais, só as unhas, a força e a regeneração das células ainda "funcionam" digamos assim. Mas não ofereço riscos tão graves, já que aprendi a me controlar. Convidei o pessoal para jogar vídeo game na minha casa hoje. Denis, Jonas, Orlando e Mari. Comemos salgadinhos e tomamos refrigerante (eu me esqueci de falar que eu voltei a comer normalmente).

Segunda feira


Meu final de semana foi muito show. O pessoal do hospital fez uma festa muito legal no sábado à noite, tipo um acampamento no meio do pátio do hospital. Comemos mashimallow assado na fogueira e contamos historias de terror. Passamos a noite no hospital. Ninguém tem nada com que se preocupar, pois o recinto todo tem câmeras e quem resolver "mudar" de quarto durante a noite seria expulso, e o hospital não se responsabilizaria pelas consequências dos internos (recaídas, etc.), essa era uma das clausulas assinado no acordo antes de ser internado. Mas tudo ocorreu super bem.

Depois que começamos a fazer esses tipos de atividade, por ideia minha, os internos tiveram melhoras significativas, como por exemplo, diminuição dos riscos da tabela de cores, melhor controle de força e poder (para os que tem poder infinito), melhora de humor e comportamento (trabalho mais tranquilo aos psicólogos e psiquiatras). Entre outros. Estou tão ansiosa pela minha festa de aniversário de 18 anos. Estou contando os dias, horas e minutos para quinta feira.

Quarta feira


Como de costume, nas 4º feiras temos aulas "anormais" como dizemos, por exemplo, idiomas (inglês, Frances, espanhol e japonês), Artes cênicas (teatro, ópera, dança, circo e comédia). E aulas que os alunos escolhem, por exemplo, eu e Denis escolhemos arquitetura, Jonas, Engenharia Mecânica, Orlando, Engenharia Social e Mari, Administração. Amanhã será o grande dia, e será na minha casa, não haverá aquela comemoração de sempre com bolo e parabéns. Mas eu convenci os meus pais a fazer tipo uma festa de adolescentes americanos. Por incrível que pareça eles concordaram, depois de dois meses de insistência de minha parte e eles não tinha mais ideias.

Quinta feira


O grande dia chegou, na escola não foi diferente que os outros dias: chato. Embora eu tenha recebido muitas felicitações pelo meu dia e presentes, foi um dia normal. Passamos a tarde organizando a festa que iniciaria às sete horas da noite. Denis se prontificou a cuidar do som e música. Eu e Mari das bebidas (café para ficar acordados e refrigerante), Orlando e Jonas cuidaram da decoração. A festa bombou, tudo estava maravilhoso e como combinado. Os petiscos da minha mãe ficaram deliciosos, não faltou bebida e a musica era contagiante. Perto da meia noite a casa estava limpa e o ultimo convidado já estava de saída. Denis e eu assistimos filme, comendo os petiscos e refrigerante que sobraram. Meus pais já deviam saber que eu e Denis gostávamos um do outro e não ficou contra a gente fazer coisas juntos, até porque nunca ficamos juntos e sozinhos.

Sexta feira


Minha festa foi a maior repercussão. Todos adoraram minha festa que foi o maior sucesso. Meus pais viajariam hoje cedo e como combinado (entre eu e Denis) ele iria hoje a tarde para me dar meu presente. O presente era uma caixa de madeira com fotos minhas, dele e fotos nossa juntos. Que fofo! Comemos algo, fomos assistir filme, era um filme legal, mas depois passou um romântico, eu não sei no que me deu, mas eu quis beijar ele, a boca dele era macia, doce... O filme acabou comemos algo e ele foi embora.

MAIO


Terça-feira


Bom, como está tudo bem comigo, não preciso mais ir ao psicólogo nem ao hospital. Agora está tudo indo bem, graças à medicação da doutora Andrea eu não preciso mais ir, preciso só da medicação. Apenas tenho a regeneração, é tipo infinito, como já mencionei, não sai, e não ofereço nenhum perigo mais. As aulas continuam normais. Sobre a viagem dos meus pais, o que eles foram comprar, no meu aniversário, é a medicação que tomarei daqui a diante, para eu não ter "recaída". Meus pais realmente abraçaram essa causa e conseguiram a medicação para todos os pacientes do hospital. Viajaram muito e falaram com diversas pessoas para conseguir a tal medicação mais barata.
Está tudo ótimo até então!
Cinco anos depois...

OUTUBRO


Quarta-feira


Estou aqui para testemunhar o que houve comigo após esse tempo. Eu e Denis começamos a namorar depois daquele tempo. Chegamos a casar com cerimônia simples, pois tínhamos planos para a lua de mel. Continuamos a usar a tal medicação e estou bem, mas Denis não.

Depois de dois anos e meio a medicação acabou, ninguém sabia onde encontrar mais, eu não precisava mais dela, parei de usá-la depois de um ano que estávamos casados, mas Denis sim... Faz um mês que ele se foi junto com nossos sonhos e nossos planos para o futuro, foi tão rápido. Nem deu tempo de eu me despedir dele. Mas não foi somente Denis, outros amigos nossos que tinham poder infinito também morreram há pouco tempo. Eu ia contar para ele que estava grávida de duas semanas de nosso primeiro filho quando o encontrei desmaiado na sala de nosso pequeno apartamento, em chamas.

Um grande abraço e obrigada pela leitura!


Com carinho,

Escritora Aline Duarte




═══ • ◆ • ═══ Com o sexto sentido em alerta,  a inquietação impulsionava a jornada em busca de respostas  que ecoavam na alma ═══ • ◆...



═══ • ◆ • ═══

Com o sexto sentido em alerta, 

a inquietação impulsionava a jornada em busca de respostas 

que ecoavam na alma

═══ • ◆ • ═══


A luz matinal, insistente, esgueirava-se pelas cortinas semiabertas, dançando com a brisa suave. Camille, ainda envolta em um torpor sonolento, abriu os olhos, buscando refúgio na familiar constelação de Sagitário, que adornava seu teto como um segredo particular. A lembrança do céu noturno, com seus pontos de luz cintilantes, contrastava com a imensidão negra e pontilhada que a cercava durante o dia.


E então, o brilho do anel em seu dedo a despertou por completo, um grito de alegria ecoando pelo quarto, celebrando o 'sim' da noite anterior. Com um chute preguiçoso, afastou o lençol, sentando-se na cama, os pés ainda flutuando sobre o chão frio. Uma pontada aguda na cabeça a atingiu, intensificando-se a cada batida do coração. O canto dos pássaros, outrora melodia matinal, tornou-se uma cacofonia irritante, aumentando sua vertigem.


— Ah, qual é? Nem bebi tanto assim! — Resmungou, calçando os chinelos e arrastando-se para fora do quarto. A promessa do café quente, com o aroma inconfundível do avô, a guiou pelas escadas, como um farol na névoa da ressaca.


— Bom dia, vô! — Camille o abraçou, depositando um beijo suave em sua face enrugada.


— Dormiu bem, querida? — perguntou o avô, a voz rouca e os cabelos alvos perfeitamente alinhados. — A ressaca te atormentou muito?


— O sono foi tranquilo, mas essa dor de cabeça... só um café do senhor para curar.


— Então me ajude a preparar a mesa — disse ele, selando a garrafa térmica e colocando-a no centro da mesa. — Vou chamar sua avó.


Enquanto organizava a mesa, uma sensação estranha invadiu a mente de Camille. Um turbilhão de imagens da noite anterior, fragmentos de conversas sobre sua mãe e Diego, ecos de um passado que parecia gritar por respostas. Uma interrogação gigante se formou em sua mente, um enigma que ela sentia que precisava desvendar.


Camille abriu a geladeira, buscando um refúgio para as lembranças insistentes. Os itens frios em seus braços a despertaram para a realidade. — Brrr, gelado! — murmurou, enquanto vasculhava armários e gavetas em busca dos utensílios restantes.


Os passos arrastados dos avós anunciaram sua chegada. Vovô, em seu ritmo peculiar, seguia a vovó, que ainda desfilava em sua camisola matinal.


— Bom dia, minha netinha linda! — exclamou a vovó, com um sorriso que iluminava a cozinha.


— Bom dia, vó! — Camille a abraçou, depositando um beijo demorado e estalado em sua bochecha, como se quisesse deixar ali toda a sua alegria. — O café do vô está pronto, e a mesa já está posta!


Sentaram-se à mesa, o café fresco e o leite morno compondo uma sinfonia de aromas. Vovó, com a precisão de um mestre, executava o ritual de aquecer a xícara com água da chaleira, um gesto que transcendia o simples ato de preparar café, transformando-se em um símbolo de afeto e cuidado, pois para ela, café frio era um sacrilégio.


— Vó, preciso perguntar uma coisa — Camille hesitou, pesando cada palavra. Sabia que o assunto era um campo minado. Vovó, com um "hum?" curioso, continuou a saborear os biscoitos amanteigados, pronta para ouvir.


— Quem é Diego? Encontramos ele ontem no bar do pai do Dominic, e a reação da mãe... foi estranha. Nunca a vi daquele jeito, e eu preciso entender.


Um olhar tenso se trocou entre os avós, um segredo compartilhado que Camille não compreendia. Vovô, hesitante, abriu a boca para responder, mas vovó o silenciou com um gesto. Bebericou o café, como se buscasse coragem para enfrentar a verdade.


— Em Cerca Grande, sua mãe tinha uma amiga de infância, nossa vizinha de porta, Amélia. Lembra?


Camille assentiu, a imagem de sua mãe desolada pela perda marcou sua infância profundamente.


— Lembro sim, mamãe ficou muito triste com a sua morte e veio no primeiro voo para o velório.


— Diego era o namorado dela. — A frase ecoou na cozinha, carregada de um peso inexplicável. Vovó bebeu o café, como se buscasse coragem para continuar. 


— Sua mãe tem uma história... uma história que envolve Diego e um passado que a marcou. Mas não cabe a mim revelar os detalhes. É uma história que ela precisa contar a você, quando estiver pronta.


Camille, insatisfeita com a resposta evasiva da avó, tentou dissipar a tensão com um sorriso forçado. Mas o silêncio pesado que pairava sobre a mesa foi abruptamente interrompido por Augusto, que irrompeu na cozinha com a energia de um furacão, trazendo consigo o frescor da caminhada matinal.


— Bom dia, família! — exclamou, distribuindo beijos e puxando uma cadeira. — Esse café está divino!


— Minha mãe? Alguém viu? — perguntou, servindo-se de torrada com geleia de morango. — Fui chamá-la, mas o quarto estava vazio.


— Ah, ela saiu faz um tempinho — respondeu Augusto, com um sorriso malandro. — Foi visitar a Amélia, toda trabalhada no visual 'viúva de novela mexicana': preto dos pés à cabeça, parecia que ia para um velório... ou para um encontro secreto. Hum, isso está uma delícia!


A animação de Augusto se dissipou, dando lugar a uma expressão de deleite pela primeira refeição do dia. Camille, com um sorriso sarcástico, encarou a xícara de café e ergueu uma sobrancelha. 


— Um velório... ou um encontro secreto? Hm, interessante. — Pensou, imaginando os cenários mais absurdos, por exemplo, sua a mãe em um encontro secreto com Diego no cemitério.


De volta ao quarto, Camille sentia a necessidade de organizar seus pensamentos, de dar forma ao quebra-cabeça que se formava em sua mente. Recorreu à sua habilidade de criar linhas do tempo, um talento cultivado na faculdade.


Com um caderno e caneta em mãos, traçou uma linha horizontal na folha, dividindo-a por anos. Abaixo, começou a anotar os eventos que conhecia, tentando encontrar um padrão.


— Mamãe e papai começaram a namorar no começo de 92, e eu nasci em dezembro... — murmurou, escrevendo com pressa, como se estivesse correndo contra o tempo.


— Antes dele, ela namorou Rodrigo, que é o pai do Liam... — Parou, anotou um ponto de interrogação ao lado da anotação. — E Diego era namorado de Amélia na mesma época em que minha mãe e Rodrigo namoravam...


As mensagens de Dominic a fez lembrar do encontro surpresa organizado por Henrique. Algo que eles sabiam, algo que estava escondido nas entrelinhas.


A cada nova informação, a confusão de Camille se transformava em irritação. Ela precisava de respostas. Decidida a adiar a investigação por enquanto, começou a se arrumar para a disputa de surf.


• ◆ •


Clara e Diego chegaram juntos, as mãos entrelaçadas, como se pombinhos recém casados. Na praia, a disputa de surf de Henrique era um espetáculo de cores e sons. Dom, sempre presente, havia trazido Camille e sua prancha, enquanto Liam e a namorada, surfistas experientes, se misturavam à multidão. As gêmeas Aurora e Pandora, orgulhosas, exibiam seus maridos e os filhos, herdeiros do mar. Henrique e sua esposa Dalila, anfitriões perfeitos, completavam o quadro, junto a outros amigos que o tempo havia presenteado.


O sol, um gigante dourado, transformava o mar em um espelho reluzente. A música alta pulsava, como um coração batendo no ritmo das ondas.


— O mar está nos abençoando hoje! — gritou Henrique, saudando o casal com um sorriso que parecia esconder algo. — Que bom que vieram! Que bom que se acertaram.


Camille observava a interação, sentindo um pressentimento estranho. O olhar cúmplice de Henrique para sua mãe e Diego, a forma como eles se tocavam... tudo parecia estranhamente familiar.


Henrique, com a energia de um apresentador de reality show, reuniu a todos para explicar as regras da disputa. A tensão, porém, permanecia no ar, como um aviso silencioso.


— Teremos três jurados: Dalila, minha esposa; Vinícius, meu camarada de longa data — Henrique apontou para o amigo ao lado — e... — ele parou, procurando com o olhar, e encontrou-a ao fundo — Luana!


A atenção de todos se voltou para a mulher que surgia ao fundo. Luana, com seus lábios de tom roxo quase negro, a pele contrastando com as marcas do sol, o corpo definido e os cachos loiros que pareciam desafiar a gravidade, era uma visão que impunha respeito. A fumaça do cigarro que apagou no cinzeiro se dissipava lentamente, como um rastro de mistério.


Ao lado de Luana, um homem com a postura de um Capitão-Tenente da Marinha, corpo atlético e ombros largos. Seus cabelos ondulados, cortados na altura das orelhas, emolduravam um rosto marcado pela disciplina e pela experiência. Clara o reconheceu instantaneamente: Rodrigo. A presença dele, mesmo em um ambiente descontraído como a disputa de surf, exalava uma aura de comando e respeito.


Um arrepio percorreu a espinha de Camille. A chegada dos dois, juntos, era estranhamente incômoda. Algo não se encaixava. 


— Chegamos! — anunciou Luana, com um sorriso radiante. Ao seu lado, Rodrigo relaxou a postura, a expressão suavizou ao reconhecer os amigos e cumprimentá-los com um aperto de mão até seu olhar congelar em Clara. 


— Vocês dois... juntos? — Henrique arqueou as sobrancelhas, a incredulidade estampada no rosto. — Pensei que estivessem em pé de guerra.


— Fizemos as pazes — respondeu Luana, com um tom que não deixava espaço para discussão. A tensão entre os dois era palpável, como uma corda esticada prestes a arrebentar. — Por enquanto.


Seus olhos encontraram os de Clara, e um sorriso amigável se abriu em seus lábios.


— Oi, você é a Clara, certo? Nos encontramos algumas vezes.


— Sério? — Clara franziu a testa, tentando resgatar as memórias perdidas.


— Na festa do Rodrigo, há alguns anos, e depois na pracinha, com nossos filhos.


Luana, com um sorriso gélido, finalmente entendeu. Clara. A ex-namorada de Rodrigo. A mulher por quem ele a traiu e que ele insistia em manter viva em seu passado, através da Santa Clara Casa de Surf. Maldita loja que ele se recusava a renomear, mesmo após anos de casados. A memória das discussões acaloradas, das noites em claro, das lágrimas derramadas, invadiu sua mente. A tensão na atmosfera se intensificou, tornando o ar quase irrespirável. 


Camille observava a cena, sentindo o ciúme de Luana se espalhar pelo ambiente como um veneno invisível. O silêncio que se seguiu à chegada do casal era ensurdecedor, e Luana, com a expressão fechada, arrastou Rodrigo para o outro lado da barraca, criando uma divisão clara entre eles e o resto do grupo.


— Vamos começar, galera! — Henrique anunciou, apontando para a tela da TV. — Ali está o painel com os nomes e a pontuação de cada um. Teremos baterias individuais, e os melhores avançam para as próximas fases. No final, um pódio com os três melhores.


Ele explicou as regras com entusiasmo, tentando dissolver o clima tenso. Cada olhar trocado, cada movimento, carregava um peso que ameaçava afogar a competição e ele estava disposto a evitar a todo custo.


Enquanto Henrique explicava as regras, Camille observava os personagens, tentando decifrar o enigma que se desenrolava diante dela. A tensão entre Luana e Rodrigo, a proximidade de Clara e Diego... tudo parecia fazer parte de um jogo perigoso.

 PRÓXIMO CAPÍTULO:

• TRINTA

═══ • ◆ • ═══ O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre ═══ • ◆ • ═══ • Madrugada, depois do reencontro n...


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O destino é traiçoeiro, mas o que está escrito nas estrelas sempre se cumpre

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• Madrugada, depois do reencontro no bar de Henrique •


Camille chegou em casa com sua mãe e, antes de dormir, checou as notificações, encontrando uma enxurrada de mensagens de Dominic.




Camille franziu a testa, confusa. 'Como assim, armaram?'



Foi então que caiu a ficha. Ela sabia que havia algo no passado de sua mãe, mas ninguém falava nada e ela sempre percebia que quando sua mãe e sua tia conversavam o assunto mudava quando ela se aproximava. Então era isso, era Diego. Talvez um namorado da adolescência?



Percebeu o quão sensível era seu namorado, por se importar tanto com Diego que nem era parente de sangue, apenas amigo de infância do seu pai. Primeiro sentiu um ponta de raiva por ele ter se metido nos assuntos de família, mas depois que entendeu sua posição, seu coração amoleceu por ele.




Camille terminou de digitar a mensagem com o pouco de sono que tinha e apagou imediatamente sob o aconchego dos seus lençóis de cetim perolizado.


• Manhã seguinte, no cemitério •


Sentindo os ombros mais leves, como se um fardo invisível tivesse sido retirado, Clara caminhou para fora do cemitério, decidida a não fazer mais promessas que não pudesse cumprir. Exalou um suspiro de alívio e apertou o botão do controle, destravando o carro.


— Oi, Clara — a voz de Diego a surpreendeu, ele aproximava com um buquê de tulipas rosas, suas favoritas.


— Oi, Diego — no primeiro momento, Clara pensou que ele estaria ali com o mesmo propósito que ela, mas a expressão nervosa de Diego a fez perceber que havia algo mais. Sorriu.


— Eu estava indo até sua casa para conversar com você, e passando aqui na frente, vi seu carro estacionado e resolvi esperar — ele passou uma mão pela nuca, em um gesto nervoso. — Estas flores são para você — estendeu o braço, oferecendo o buquê.


Clara segurou as tulipas com delicadeza, inalando o perfume suave. — Vamos, eu também preciso conversar com você.


Diego abriu a porta do carro para ela, um sorriso tímido iluminando seu rosto. — Podemos nos encontrar no bar do Henrique, está vazio a essa hora.


Clara assentiu, retribuindo o sorriso. Pousou o buquê no banco do passageiro e seguiu Diego em seu carro, o som suave de uma música lounge preenchendo o silêncio. Precisava organizar seus pensamentos. Ao chegarem, Diego estacionou em uma vaga privativa e fez um sinal para que ela o seguisse.


Entrando em uma porta passando por alguns corredores chegaram ao salão que diferente da noite passada, agora estava silencioso e com as luzes apagadas, apenas os raios do sol entravam pelas largas janelas de vidro. O tac, tac, tac dos saltos ecoava alto, preenchendo o ambiente.


— Quer beber algo? Posso preparar o que quiser.


— Quero ter uma conversa sóbria com você dessa vez — deu um sorriso travesso lembrando da noite na fogueira —, então só água, por favor.


— Ah ok —  virou-se rindo para esconder o rubor em seu rosto, lembrando da mesma noite. Disse por cima dos ombros — Sente-se, que eu já volto!


Minutos depois Diego retornou com dois copos com gelo e duas garrafinhas de água mineral. Sentou de frente para ela, justamente ela escolhe a mesma mesa da noite anterior, algo naquele lustre lhe chamava a atenção. Diego percebeu que ela o encarava e o acendeu, iluminando ainda mais o seu rosto. Sentou novamente e lhe serviu.


— Eu tenho tantas perguntas, Clara. Mas não tenho certeza se você vai responder. — Diego fechou a tampa da última garrafinha, o som plástico ecoando no silêncio entre eles, e mirou seus olhos nos dela. Clara acompanhava seus movimentos lentos e precisos, o coração acelerado.


— Pode perguntar, eu prometo ser o mais direta e sincera possível — apoiou os cotovelos na mesa para segurar o queixo.


— Clara, eu preciso saber... por que você foi embora de repente? — A pergunta pairou no ar, densa e carregada de emoção. O clima mudou rapidamente, algo que já era previsto por Clara, mas ouvir diretamente de Diego a fez, de repente, voltar no tempo e sentir toda a pressão novamente. Ela desviou o olhar, as lágrimas marejando seus olhos antes de responder.


— Diego, eu... eu não sabia o que fazer — olhou ao redor parecendo perdida.


Diego sabia que precisava perguntar mais para fazê-la abrir seu coração, para que finalmente entendesse completamente a situação. Seu tom era doce e calmo, como se limpasse uma ferida aberta.


— O que foi aquela noite para você, Clara? Depois da festa da loja do Rodrigo?


— Nós... nós nos entregamos um ao outro. Para mim, Diego, foi um momento de paixão, de amor...


Diego parou para pensar um pouco, tentando processar as palavras de Clara.


— Certo... Para mim também. E depois? — Seu ciúme agora era evidente. —  De repente, você foi embora com Caio!


Clara bebeu um gole de água, a garganta seca pela tensão. — Eu descobri que estava grávida. Grávida de você.


Diego ficou paralisado, a notícia o atingindo como um soco no estômago. Ele havia ouvido boatos sobre a gravidez de Clara, mas sempre os descartara, acreditando que o filho era de Caio. A revelação de Clara o deixou sem fôlego, a raiva fervendo em suas veias. Levantou-se bruscamente, arrastando a cadeira para trás, o som estridente ecoando no silêncio do bar.


— Um filho meu? Clara, por que você não me disse? Eu tinha o direito de saber! — Seus olhos, antes marejados, agora flamejavam de raiva e dor.


— Eu estava com medo, Diego. — As lágrimas escorriam pelo rosto de Clara, silenciosas e dolorosas. — Medo de te perder, medo de perder a Amélia. Eu fiz uma promessa para ela.


— Que promessa? — Diego franziu o cenho, confuso e magoado. Clara desviou o olhar.


— Que nunca mais te procuraria. — A revelação caiu como uma bomba, explodindo o mundo de Diego em mil pedaços. Ele se sentiu traído, enganado, roubado. 'Não acredito que Amélia fez isso', pensou ele, incrédulo. 'Eu não a conhecia completamente. Não imaginava o quanto ela era obsessiva e manipuladora a esse ponto.' A raiva, antes contida, explodiu em um grito selvagem, rasgando o silêncio do bar. Diego começou a andar em círculos, tentando processar a informação, a tensão se dissipando aos poucos. 


— Então foi por isso que você foi para a Europa? — perguntou com a voz mansa.


— Sim, Diego. Eu tentei te esquecer, mas não consegui. Se eu ficasse, sabia que voltaria para você, e não podia ser egoísta e colocar a vida do nosso bebê em risco. Camille foi um presente, um pedido realizado por uma estrela cadente. Eu faria qualquer coisa por ela.


Diego se ajoelhou ao lado de Clara, seus olhos ternos e marejados buscando os dela. — Clara, você só queria o melhor para nossa filha. Eu te entendo, e estou aqui agora, disposto a recuperar cada segundo perdido, se você me permitir. Sem ressentimentos, sem mágoas, apenas amor.


As palavras de Diego ecoaram no coração de Clara, como um dia de sol no verão — Eu te amo, Clara.


Ele ergueu as mãos de Clara, beijando-as com fervor. — Eu nunca deixei de te amar.


Um soluço escapou dos lábios de Clara, a emoção transbordando em lágrimas de alegria. Diego ergueu-se, aproximando-se dela, seus lábios se encontrando em um beijo urgente, faminto, como se quisessem recuperar o tempo perdido.


— Me perdoa por não ter te procurado, Clara. Fui covarde, deveria ter lutado por nós.


— Não, Diego, você não fez nada de errado — Clara suplicou, a voz embargada pelo choro. — Me perdoa por ter te deixado, por ter te afastado da nossa filha.


Diego a abraçou com força, apertando-a contra o peito, como se quisesse protegê-la de toda a dor do mundo. — Eu te perdoo, Clara. Você era apenas uma menina, assustada e confusa. Eu nem consigo imaginar o que você passou. Tenho muito a agradecer a Caio, por ter cuidado de você e da nossa filha, por ter feito o que eu não tive coragem de fazer.


As lágrimas de Clara haviam cessado, mas seus olhos ainda brilhavam com a emoção do momento. Diego, com um toque suave, enxugou as últimas lágrimas que teimavam em rolar por seu rosto. Com um toque suave, guiou-a até a cadeira ao lado, onde poderiam compartilhar o silêncio e a proximidade.


— Mas agora eu estou aqui, Clara — ele disse, a voz embargada pela emoção. — Vamos recomeçar? Vamos construir um futuro juntos?


Um sorriso radiante iluminou o rosto de Clara, as lágrimas de alegria escorrendo por suas bochechas. — Sim, Diego. Vamos recomeçar.


O silêncio que se seguiu foi preenchido pela promessa de um novo começo. Diego, com um olhar apaixonado, segurou as mãos de Clara, entrelaçando seus dedos.


— Prometo que farei de tudo para te fazer feliz, Clara. Prometo que serei o pai que Camille sempre mereceu.


Clara assentiu, a voz embargada pela emoção. — Eu acredito em você, Diego. Eu acredito em nós.


Eles se abraçaram ainda mais forte, como se temessem que o momento mágico pudesse se dissipar. O futuro, antes incerto, agora se apresentava como um caminho promissor, onde o amor e a esperança guiavam seus passos.


Um sonoro 'oinc' ecoou pelo bar, quebrando o silêncio cúmplice.


— Desculpa, Diego — Clara corou, envergonhada com a mão na frente do rosto. — Acordei tão desolada que nem consegui tomar café da manhã. Estou faminta!


Diego explodiu em risadas, um som contagiante que preencheu o ambiente. Clara sorriu, aliviada por quebrar a tensão.


— Vou preparar algo para a gente comer — Diego a guiou pela mão, seus dedos entrelaçados, seus corpos emanando um calor que fazia suas mãos suarem. — Temos muito tempo até os funcionários começarem a chegar.


A cozinha, antes um mistério para Clara, agora se revelava como um palco para um novo começo. O cheiro do suco de morango e camarão fresco pairava no ar, convidando-os a desfrutar daquele momento.


— Você tem planos para a tarde? — Diego perguntou, enquanto enxugava os pratos que haviam servido uma refeição deliciosa. Clara, com os olhos fixos nos braços flexionados de Diego, hesitou por um momento.


— E pior que tenho — respondeu, um bico triste se formando em seus lábios. — Tem o desafio de surf do Henrique.


— Ah, é mesmo! — Diego exclamou, batendo na testa com a palma da mão. Olhou para o relógio de pulso. — Mas ainda temos tempo... — Com um movimento rápido, pressionou Clara contra a pia, seus lábios se encontrando em um beijo profundo e apaixonado, que fez as pernas de Clara bambearem. — Vem, vou te mostrar minha casa.


De mãos dadas, eles saíram do bar com o carro de Diego. O trajeto até a casa dele foi curto, o bairro não era grande e sua casa era próximo dali. Ao entrarem, a residência se transformou em um refúgio de amor e paixão. Beijos, carícias e suspiros preencheram cada cômodo. Entre um toque e outro, Diego parou, seus olhos brilhando como uma criança travessa prestes a fazer travessuras.


— Você ainda pode engravidar? Seria maravilhoso termos mais uma menina... ou quem sabe um menino!


Clara corou, um sorriso tímido se formando em seus lábios. — Diego! — Ela deu um tapinha de leve no ombro dele, a vergonha misturada com a alegria.


Risadas, gemidos e suspiros ecoaram pela casa, enquanto eles se entregavam ao prazer, celebrando o reencontro de suas almas.


 PRÓXIMO CAPÍTULO DISPONÍVEL:

• VINTE E NOVE